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Fracking desestabiliza política na Pensilvânia

27/10/2020 13h30

Deemston, Estados Unidos, 27 Out 2020 (AFP) - Bryan Latkanich diz que foi "o maior defensor" da indústria de fraturamento hidráulico, mas agora ele culpa os poços de gás por destruir a saúde de sua família e de sua fazenda no sudoeste da Pensilvânia.

A professora aposentada Rose Friend conta que os produtores de gás cortaram árvores centenárias e tornaram sua vida miserável com a poeira e a poluição sonora das intermináveis filas de caminhões que percorriam a área onde sua família mora.

Apesar de suas experiências, ambos dizem que votarão em 3 de novembro em Donald Trump, um ferrenho defensor do fracking hidráulico, assim como dos combustíveis fósseis em geral. Seus casos ilustram a complexidade de uma das questões centrais da eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos.

Friend e Latkanich são exemplos dos muitos moradores da Pensilvânia, uma das regiões do país onde essa polêmica técnica de extração de combustível mais se espalhou e onde há ressentimento com uma indústria que prometia um grande futuro.

"Fiquei totalmente pasmo quando eles chegaram e disseram: 'Ei, você é um milionário'", lembra Latkanich, 49, sobre um encontro com a Atlas America, posteriormente adquirida pela Chevron.

Ele tinha acabado de se submeter a uma cirurgia de um tumor que o deixou cego de um olho, estava se divorciando e perdeu o emprego quando soube que os depósitos de gás em suas terras poderiam render-lhe até 13 milhões dólares. Ele recebeu somente 135.000 dólares antes de a empresa pegar seu equipamento e ir embora.

Os primeiros problemas surgiram em 2013, quando viu queimaduras no corpo do filho durante o banho. Ryan, agora com 10 anos, ainda apresenta sintomas como asma e infecções de ouvido, enquanto Bryan tem problemas cardíacos, asma e neuropatia, que ele atribui à contaminação da água de poço.

Essa experiência colocou Latkanich contra o fracking, mas ele votará em Trump porque acredita no direito de portar armas.

Friend defende mais regulamentação do fracking, mas não vai votar no democrata Joe Biden. "Eu sou contra o aborto", diz a mulher de 83 anos. "Eu não acredito em matar bebês", insistiu.

- Pedidos de regulação - O fracking (extração de gás e petróleo de rochas subterrâneas profundas mediante injeção de água e produtos químicos) teve seu auge em meados da década de 2000.

Em 2014, permitiu que os Estados Unidos se tornassem o maior produtor global de petróleo e gás. Isso tem, no entanto, custos elevados: a perfuração provoca terremotos, e os pesquisadores associam as emissões do ar e a poluição da água a problemas de saúde.

Embora o metano seja o combustível fóssil mais limpo, ele vaza de poços no ar, onde se torna um potente gás de efeito estufa.

No condado de Washington, onde há mais de 1.600 poços de fracking, muitos moradores elogiaram a promessa de uma recuperação econômica após o fim da indústria do carvão.

A dançarina profissional Lois Bower-Bjornson, 55, voltou à área quando o boom começou. E entendeu que tinha que fazer algo.

Nesta área, a água está acima dos níveis de radioatividade, devido aos poluentes do fracking, como o rádio. Esses elementos são despejados em aterros sanitários, enviados para estações de tratamento de água e, finalmente, devolvidos para o rio Monongahela.

Bower-Bjornson apoia o ex-vice-presidente Biden, a favor da proibição do fracking em terras públicas e da transição energética.

Apesar de sua oposição à indústria, ela, como tantos outros democratas do país, quer uma regulamentação mais rígida em vez de uma proibição, que eles consideram impraticável. No momento, os reguladores não estão fazendo seu trabalho, dizem os moradores.

Uma investigação do grande júri divulgada em meados deste ano converge com Bower-Bjornson, e o procurador-geral do estado declarou que a indústria recebeu um "passe livre".

As organizações sem fins lucrativos tiveram de preencher o vazio.

- Indústria "supervalorizada" - Democrata no passado, o condado de Washington apoia os republicanos há anos, uma mudança atribuída ao fracking.

"Temos sob nossos pés a energia para impulsionar os Estados Unidos, e essa energia permitiu que nossa economia prosperasse", explica Diana Irey Vaughan, uma das três comissárias eleitas do condado.

O número de empregos vinculados à prática está em xeque. O setor cita análises que colocam o número do estado em meio milhão, incluindo trabalhadores indiretos, mas as estimativas oficiais apontam para 26.000.

Antes de a pandemia atingir o mercado de petróleo, o fracking já recuava, indicando que o setor estava altamente supervalorizado, segundo a jornalista de negócios Bethany McLean.

Outro ponto polêmico é se a perfuração de xisto explica um aumento de 40% em um câncer pediátrico extremamente raro registrado na região.

Os defensores da indústria dizem que não há evidências para vincular uma coisa à outra. Mas, para Alison Steele, da ONG Southwest Pennsylvania Environmental Health Project, esses argumentos são os mesmos usados pela indústria do tabaco nas últimas décadas.

"Quando você olha para as tendências dos impactos na saúde e a proximidade das pessoas que sofrem esses impactos com as almofadas de poços, os números são realmente surpreendentes", diz.

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