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Brasil exportará mais milho com guerra na Ucrânia, mas teme por fertilizantes

Brasil é o terceiro maior exportador mundial de milho, atrás dos Estados Unidos e da Argentina. - Wenderson Araújo/CNA/Divulgação
Brasil é o terceiro maior exportador mundial de milho, atrás dos Estados Unidos e da Argentina. Imagem: Wenderson Araújo/CNA/Divulgação

14/03/2022 14h39

O Brasil, um dos maiores produtores agrícolas mundiais, espera aumentar suas exportações de milho devido à invasão russa da Ucrânia, embora tema que o conflito dificulte suas importações de fertilizantes.

Desde o início das hostilidades, no fim de fevereiro, paira a dúvida sobre a capacidade da Ucrânia e da Rússia, respectivamente o quarto e o quinto exportadores mundiais de milho durante o período 2019/2020 - segundo dados do Departamento de Estado americano da Agricultura -, para assegurar as entregas deste cereal, cujos preços dispararam.

Isto poderia representar uma bênção a curto prazo para os produtores do Brasil, o terceiro maior exportador mundial de milho, atrás dos Estados Unidos e da Argentina.

Após a forte queda no ano passado devido a seca e episódios de geada, a safra brasileira de milho de 2021-2022 poderia aumentar 29% em comparação com a anterior, anunciou na quinta-feira a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu relatório mensal.

"O preço do milho é bastante atrativo para o produtor brasileiro, atingindo um dos maiores patamares já observados, o que é um fator para o progresso da área plantada" para a segunda safra, a mais importante da temporada, explicou à AFP João Pedro Lopes, da empresa de análise de mercado de matérias-primas StoneX.

Quanto às vendas ao exterior, "o aumento da produção brasileira alinhada à demanda internacional aquecida e câmbio favorável à venda deverão promover uma elevação de 67% das exportações do grão em 2022", destacou a Conab.

A principal economia da América Latina poderia alcançar o segundo lugar entre os exportadores em 2021-2022 se mantiver a boa colheita, segundo estimativas do USDA.

Fornecimento de fertilizantes

Os efeitos do conflito já são sentidos nas exportações brasileiras.

"Surgiu demanda para milho brasileiro com embarque imediato, o que não é normal no primeiro semestre, e também acelerou a demanda por milho para o segundo semestre", diz Paulo Roberto Molinari, analista da consultoria Safras e Mercado.

Cesario Ramalho, presidente institucional da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), pede cautela: "Não temos segurança na questão do transporte marítimo de mercadorias", gravemente afetado pela guerra, "nem no fornecimento de fertilizantes", explica à AFP.

O Brasil importa cerca de 80% dos fertilizantes que usa e 20% deles vêm da Rússia, seu principal fornecedor. Mas as capacidades exportadoras russas são afetadas pelas sanções econômicas ocidentais, assim como sua vizinha, Belarus, outra grande fornecedora de fertilizantes, também duramente afetada.

Na semana passada, a ministra da Agricultura brasileira, Tereza Cristina, disse que o país tem estoque suficiente até outubro, mas disse que já está negociando com outros importantes exportadores de fertilizantes.

Mineração em terras indígenas

Em seu Plano Nacional de Fertilizantes para 2050, lançado na sexta-feira, o governo pretende estimular a produção destes produtos no Brasil para reduzir a dependência externa e investir na descoberta de novas jazidas de minerais no país e em sua exploração.

O tema também foi abordado na segunda-feira passada pelo presidente Jair Bolsonaro, que disse que o conflito entre Rússia e Ucrânia representa "uma oportunidade" para aprovar um polêmico projeto de lei que autorize a atividade de minério em terras indígenas da Amazônia, atualmente em tramitação no Congresso.

O forte aumento do preço dos fertilizantes é uma preocupação para o setor agrícola: em fevereiro, o preço da tonelada de fertilizantes importada pelo Brasil já tinha subido 129% em comparação com o mesmo mês de 2021.

Grandes demandantes de ração à base de milho e soja, cujos preços também aumentaram, as granjas de frangos e porcos, carnes que o Brasil foi, respectivamente, o primeiro e o quarto fornecedor mundial em 2020, também veem aumentar seus custos de produção.

Isto "pode impactar na quantidade da produção, por conta das margens reduzidas", destaca Fernando Ferreira, da companhia XP Investimentos.