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Investimento chinês no exterior deve dobrar em cinco anos, prevê Unctad

Silvia Salek

Enviada especial da BBC Brasil à China

11/04/2011 08h06

Os investimentos diretos da China deram um salto após 2004 e devem continuar subindo, tornando o país um dos principais investidores estrangeiros no mundo, segundo projeções da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e do próprio governo chinês.

Em 2004, o total de investimentos estrangeiros da China foi de US $ 5,5 bilhões. Em 2010, chegou a US$ 59 bilhões segundo o Ministério do Comércio - um aumento de 36% em relação ao ano anterior.

Esse valor já representa 60% do que a China atrai hoje em investimento estrangeiro direto.

“Nos próximos três anos, a China deverá investir no exterior o mesmo montante que receberá de investimento direto. É uma mudança radical na situação de poucos anos atrás e revela uma nova forma de atuação da China na economia global”, disse à BBC Brasil o economista da Unctad Guoyong Liang.

A projeção do governo, mais contida, é de que o o investimento chinês no exterior ultrapasse, dentro de cinco a 10 anos, o volume de investimento estrangeiro na China. Em 2010, o investimento direto na China aumentou 17,4% e alcançou US$ 105 bilhões.

Para alcançar esta previsão, o investimento chinês deverá mais do que dobrar já que o volume recebido pela China de empresas estrangeiras continua aumentando a cada ano a taxas superiores a dois dígitos.

“As oportunidades nas mais diversas áreas serão crescentes e o fluxo não vai se limitar ao setor de commodities”, prevê Liang.

A presidente Dilma Rousseff desembarcou nesta segunda-feira em Pequim para uma visita de seis dias em que terá o desafio de buscar mais “reciprocidade” na relação com seu maior parceiro comercial e investidor estrangeiro. Entre os objetivos do governo, está a meta de atrair um leque mais variado de investimentos chineses. Até agora, segundo a Academia Chinesa de Ciências Sociais, 85% do investimento chinês no Brasil está em recursos naturais como petróleo e mineração.

Apetite chinês

A rapidez com que a economia chinesa amplia seu alcance toma muitos de surpresa. Atualmente, a China investe em mais de 80 países, resultado de um fenômeno que se intensificou apenas nos últimos três anos.

“Em países desenvolvidos, o investimento chinês, principalmente em áreas como recursos nacionais, é muitas vezes encarado como um risco à segurança nacional. Mas existe uma lógica econômica forte por trás desses investimentos”, disse Liang.

Uma dessas motivações é diversificar investimentos, atualmente, muito concentrados em títulos públicos do Tesouro americano, reduzindo, assim, o risco que o país corre ao acumular um volume excessivo de reservas em moeda estrangeira.

Em 2010, as reservas chinesas em moeda estrangeira atingiram o recorde de US$ 2,85 trilhões, o valor é praticamente um terço do volume total de reservas em moeda estrangeira no mundo.

Política agressiva

Para o diretor do Centro de Pesquisa Econômica da Universidade de Pequim, Yang Yao, muitos setores têm interpretado erradamente as motivações da China, vistas por muitos como uma política agressiva em busca de dominação mundial.

“A chamada assertividade da China é resultado do poder econômico e não de uma mudança estratégica que vá desafiar a ordem mundial”, disse à BBC Brasil.

“'O governo está cheio de dinheiro e tem que cuidar de suas reservas, garantir que elas não vão perder o valor. O resultado tem sido buscar oportunidades de investimento por todo o mundo. Algumas pessoas veem nisso uma nova assertividade da China, quando, na verdade, é uma escolha natural de um país que se vê diante de um enorme fluxo de reservas em moeda estrangeira”, disse Yang Yao.

Interesse Nacional

Para Duncan Innes-Ker, especialista em China baseado em Pequim da Economist Intelligence Unit, um grau de precaução é necessário quando se analisa o destino do investimento estrangeiro chinês.

“A maioria dessas companhias tende a agir como empresas privadas normais e de forma competitiva. Mas se o governo chinês decide que determinado investimento é um assunto de interesse nacional, as coisas podem mudar de forma drástica. Vimos isso no setor bancário chinês recentemente”, alertou Innes-Ker.

Questionado sobre se empresas estatais chinesas, com investimentos no exterior, já haviam tomado decisões contra as regras de mercado e com base em interesses de Pequim, Innes-Ker disse que não, mas lembrou um episódio em que o presidente da associação de ferro e aço da China, que liderava uma tentativa de ampliar a participação de uma estatal chinesa na Rio Tinto, disse publicamente que a medida seria muito boa porque ia permitir “comprar minério abaixo do preço para apoiar a causa nacional”.

Segundo um porta-voz do Ministério do Comércio, Yao Jian, até fevereiro de 2011, o estoque total de investimentos chineses no mundo havia alcançado o recorde de US$ 264 bilhões de dólares.

Em 2010, segundo o levantamento da Heritage Foundation, com sede em Washington, o Brasil foi o principal destino de investimentos chineses.