Mundo ainda não saiu da crise econômica, diz chefe do FMI
Apesar da recuperação nos últimos anos, o mundo ainda está sentindo os efeitos da crise econômica mundial, disse nesta quinta-feira o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn.
"Nós ainda estamos na crise, e as consequências da crise ainda são muito fortes", afirmou Strauss-Kahn em Washington, onde o FMI e o Banco Mundial realizam a partir de sexta-feira sua reunião de primavera.
"Certamente, a recuperação está ficando mais forte, mas todos podem ver que não é a recuperação que nós queremos", disse, ressaltando que ainda há desequilíbrios entre o ritmo de recuperação dos países. "Essa é certamente a razão da incerteza permanecer muito alta."
O desequilíbrio não é apenas entre nações, mas dentro dos próprios países, com desigualdade de renda, "que são muito altas, como os recentes eventos no Oriente Médio e no norte da África mostraram", disse Strauss-Kahn, citando as revoltas populares ocorridas naquelas regiões.
De acordo com o FMI, nas economias avançadas, o ritmo da recuperação permanece lento, o desemprego é alto, e há vulnerabilidades fiscais e financeiras.
Para os mercados emergentes, os principais desafios estão relacionados ao risco de superaquecimento. Nos países pobres, os preços dos alimentos e dos combustíveis voltam a causar preocupação, disse o diretor do FMI.
Desemprego
Segundo Strauss-Kahn, o desemprego também é um dos principais problemas enfrentados atualmente, e seu combate deve ser prioridade.
"Seria demais dizer que é uma recuperação sem empregos, mas é certamente uma recuperação sem empregos suficientes", disse. "A questão agora é: empregos, empregos, empregos."
O diretor citou o exemplo das revoltas populares surgidas recentemente em países árabes e muçulmanos do Oriente Médio e do norte da África, ao avaliar o impacto do desemprego.
"Os dados macroeconômicos (nesses países) não são ruins, mas as pessoas não sentem nenhuma mudança em sua situação", disse, ao referir-se especificamente às revoltas na Tunísia e no Egito.
Segundo Strauss-Kahn, o desemprego entre jovens é um dos principais desafios, e o que antes era uma fase transitória de desocupação até que essas pessoas chegassem ao mercado de trabalho, agora corre o risco de se tornar uma "sentença perpétua".
Os países não podem se apoiar na ideia de que o crescimento econômico é suficiente, disse Strauss-Kahn. "Nós precisamos de mais do que crescimento. Precisamos de políticas ativas."
"O desafio é preservar a coesão social sem colocar em risco a estabilidade macroeconômica, especialmente no Oriente Médio", afirmou.
Inflação
O diretor do FMI disse que os riscos de inflação surgidos em muitas economias emergentes são uma preocupação e precisam ser abordados de acordo com as características de cada país.
No Brasil, as pressões inflacionárias têm gerado preocupação, e as projeções apontam para índices perto de 6,5%, teto da meta estipuladas pelo governo (de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo).
O diretor do FMI voltou a citar o controle de capitais, tema de um relatório divulgado na semana passada, no qual o órgão recomenda, pela primeira vez, o controle de capitais.
Muitos países, entre eles o Brasil, vêm enfrentando fluxos excessivos de capital estrangeiro, o que provoca uma valorização da moeda e, consequentemente, reduz a competitividade das exportações no mercado internacional.
Segundo Strauss-Kahn, em alguns países, as maneiras "tradicionais" de abordar o problema, como aumento da taxa de juros ou acúmulo de reservas, pode ter chegado a um limite, e o uso de controle de capitais pode ser uma opção.
"Pode ser útil, em uma base temporária, porque é compreensível que um país onde há um aumento no fluxo de capitais realmente prejudicial, é preciso fazer algo", disse.
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