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Bitcoin desaba depois que Elon Musk suspende uso da criptomoeda na Tesla

Elon Musk disse que as criptomoedas não podem ser acompanhadas de grande custo ambiental - Getty Images
Elon Musk disse que as criptomoedas não podem ser acompanhadas de grande custo ambiental Imagem: Getty Images

Da BBC Brasil*

13/05/2021 10h26Atualizada em 14/05/2021 10h20

A montadora de veículos elétricos Tesla suspendeu as compras de seus carros com uso da criptomoeda Bitcoin por causa de preocupações ambientais.

A cotação do bitcoin caiu mais de 10% depois que o CEO da Tesla, Elon Musk, anunciou a medida. Na manhã da quinta-feira (13/05), 1 bitcoin valia R$ 263,4 mil. As ações da montadora caíram em torno de 5%.

"Estamos preocupados com o rápido aumento do uso de combustíveis fósseis para a mineração e as transações de bitcoin, especialmente o carvão, que tem as piores emissões de qualquer combustível", escreveu Musk. "Criptomoeda é uma boa ideia... Mas isso não pode ter um grande custo para o meio ambiente."

Em março, quando a criptomoeda passou a ser aceita pela Tesla como forma de pagamento, parte dos investidores e ambientalistas fez duras críticas à decisão.

Musk também afirmou que a empresa não venderá nenhuma parcela do US$ 1,5 bilhão (quase R$ 8 bilhões) em bitcoins que adquiriu em fevereiro deste ano, e que pretende usar esses recursos para transações assim que a mineração de bitcoins passar a usar energia mais sustentável.

Mineração é o nome dado ao processo pelo qual a criptomoeda é gerada a partir de diversos cálculos feitos por computadores verificando transações feitas por pessoas que enviam ou recebem bitcoins.

Esse processo envolve solucionar enigmas, os quais, embora não integralmente validem o ir e vir das criptomoedas, oferecem mais proteção contra fraudes no registro das transações. Como recompensa, os mineradores costumam receber pequenas quantias de bitcoin, no que é muitas vezes comparado a uma loteria.

Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido afirmam que esses processos consomem cerca de 121,36 terawatt-horas (TWh) por ano, uma quantidade que não tende a cair, a não ser que o valor da criptomoeda despenque. Vale destacar que um terawatt equivale a 1 bilhão de kilowatts, e esse total é maior do que o consumo inteiro da Argentina, país de 45 milhões de habitantes.

De olho nos investidores

No mês passado, a Tesla anunciou que os lucros no primeiro trimestre do ano foram de US$ 438 milhões (R$ 2,3 bilhões), alta de US$ 16 milhões relação ao ano anterior, impulsionados pelas transações com bitcoins e créditos ambientais.

Para analistas de mercado entrevistados pela BBC, a mudança ocorre como uma tentativa da Tesla de amenizar as preocupações de investidores focados no aquecimento global e na sustentabilidade.

"As questões de governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) são agora uma grande motivação para muitos investidores. A Tesla, sendo uma empresa com foco em energia limpa, parece querer atuar melhor na área ambiental de ESG", disse Julia Lee, da Burman Invest, à BBC.

"Mas céticos podem dizer que este é apenas mais um movimento de Elon Musk para influenciar o mercado de criptomoedas, como ele fez em tantas outras ocasiões."

Musk tem sido um dos maiores defensores das criptomoedas, tuitando diversas vezes sobre bitcoins e a outrora obscura moeda digital Dogecoin.

Seus tuítes nos últimos meses ajudaram a transformar as dogecoins, que começaram como uma piada de mídia social, na quarta maior criptomoeda do mundo.

Quais são as preocupações climáticas em torno do bitcoin?

Como explicado acima, os bitcoins são gerados por mineradores usando computadores de alta potência para competir entre si e resolver quebra-cabeças matemáticos complexos.

É um processo de uso intensivo de energia que geralmente depende da eletricidade gerada com combustíveis fósseis, principalmente carvão.

O domínio dos mineradores de bitcoin na China e a falta de incentivo para mudar de combustíveis fósseis baratos para fontes de energia renováveis mais caras podem significar que há poucas soluções rápidas para as preocupações em torno do consumo energético e das emissões de poluentes ligadas ao bitcoin.

Para David Gerard, autor de um livro sobre a criptomoeda, uma potencial solução seria cobrar taxas de carbono sobre as criptomoedas.

"Bitcoins são literalmente anti-eficientes. Não adianta ter hardwares mais eficientes para a mineração. Eles só estarão competindo com outros hardwares eficientes. Isso significa que o uso energético da bitcoin e sua produção de CO2 só crescem. É muito ruim que toda essa energia seja literalmente desperdiçada em uma loteria."

Para aumentar os lucros, pessoas em geral conectam grandes números de mineradores à rede. Isso, é claro, usa bastante eletricidade, uma vez que os computadores trabalham quase constantemente para resolver os enigmas.

A China é responsável por mais de 75% da mineração de bitcoins em todo o mundo, de acordo com pesquisas recentes. E as pegadas de carbono da criptomoeda são tão grandes quanto as de uma das 10 maiores cidades da China, concluiu um estudo.

Isso ocorre porque os mineradores tendem a usar eletricidade produzida com combustíveis fósseis, principalmente carvão, na maior parte do ano, mudando apenas para energias renováveis, principalmente hidrelétricas, durante os meses chuvosos de verão.

Por outro lado, apoiadores do bitcoin argumentam que o sistema financeiro tradicional, com milhões de trabalhadores e computadores em escritórios com ar-condicionado, também usa grandes quantidades de energia elétrica, que muitas vezes é produzida a partir de combustíveis fósseis.

* Com informações dos jornalistas Peter Hoskins e Cristina Criddle, da BBC