As reações e preocupação dos países da América Latina sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia
O ataque militar da Rússia contra a Ucrânia nesta quinta-feira gerou reações quase imediatas de governos da América Latina.
A defesa da paz e do diálogo marcou o teor das declarações públicas e dos comunicados oficiais do Chile, da Argentina, do Peru, do Equador e do México, por exemplo.
Autoridades de Cuba, por sua vez, aliada de Vladimir Putin na região, disseram que a Rússia "tem o direito a se defender", como afirmou o presidente da Assembleia Nacional Cubana, Esteban Lazo, de acordo com tuíte da Assembleia Federal russa (Duma), informaram as agências internacionais de notícias.
O pedido pelo entendimento e pela pacificação levou o presidente mexicano Andrés López Obrador a afirmar que seu país "não está a favor de nenhuma guerra".
O líder peruano Pedro Castillo fez um apelo para que exista acordo diplomático e "não se invistam em balas e munições".
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, pediu, em comunicado, um cessar-fogo e disse que "a proteção da população civil deve ser prioritária".
As reações ocorrem em meio a preocupações sobre os impactos políticos e econômicos que a guerra terá sobre o continente. A América Latina reúne países que estão na lista dos grandes produtores de petróleo - Venezuela, México, Brasil, Colômbia e Equador - e de trigo - Argentina.
Como a Rússia e a Ucrânia são produtoras de petróleo e de trigo, a alta nos preços destes produtos já é um dos efeitos imediatos no cenário global.
Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, estes são alguns dos efeitos imediatos entre outras ramificações para o continente.
O professor peruano Carlos Aquino, diretor do Departamento Ásia-Pacífico da Universidade de San Marcos, de Lima, disse que a alta do dólar e das commodities, como petróleo, trigo, soja e cobre, é o efeito imediato da guerra de Putin contra a Ucrânia.
E que este turbilhão, que incluiu a forte queda nas bolsas nesta quinta-feira, tenderá a pressionar ainda mais a inflação, num momento em que a alta de preços - principalmente de combustíveis e alimentos - passou a ser observada em vários países durante a pandemia de coronavírus.
Para Aquino, a alta do petróleo poderia beneficiar os países produtores da América Latina, mas esta é uma conta que poderia ter "soma zero", disse, já que mesmo aqueles que exportam o produto devem importar o trigo, por exemplo.
Na sua visão, o impacto do conflito russo-ucraniano "não será igual para todos na América Latina". Mas o cenário geral de incertezas pode agravar os já altos índices de pobreza no continente.
"Como se costuma dizer, o capital é medroso. Esta guerra gera incertezas para o mundo. E quando existem incertezas, os investidores tiram o dinheiro dos países emergentes e buscam refúgio nos lugares mais seguros, principalmente os Estados Unidos", disse Aquino.
De Quito, no Equador, o professor Simón Pachano, da Faculdade de Ciências Sociais da América Latina (FLACSO), disse que a região pode ter problemas "por vários motivos" com a guerra recém-iniciada.
A Rússia é, por exemplo, um dos principais compradores de produtos equatorianos, como bananas e flores, e o conflito pode influenciar o fluxo do comércio internacional.
"A instabilidade nos mercados mundiais afeta tanto os mercados de produtos como o setor financeiro. Os créditos que países da região precisam passaram a ser mais caros (pelo aumento das taxas de juros)", observou Pachano.
Na sua visão, até por interesses próprios, alguns países, como o Equador, fizeram declarações pedindo o diálogo, mas, de forma cautelosa.
Os líderes dos países da América Latina destacaram, principalmente, uma saída pacífica e os princípios das Nações Unidas.
Argentina: "A Argentina rejeita firmemente o uso da força armada e lamenta profundamente a escalada da situação. Não vamos apoiar nenhuma guerra, iniciada por nenhum país e em qualquer parte do mundo. As soluções justas e duradouras só são alcançadas através do diálogo. Reiteramos nosso apego a todos os princípios das Nações Unidas, sem ambiguidades e respeitando o direito de soberania dos Estados. Essa situação não afeta a relação da Argentina com a Rússia, mas ao mundo em seu conjunto", disse a porta-voz da Presidência, Gabriela Cerruti.
Chile: "O Chile pede à Rússia que respeite a Convenção de Genebra sobre o direito internacional humanitário. Colaboremos com outros países para buscar uma solução pacífica do conflito, dentro do marco do direito internacional. O Chile condena a agressão armada da Rússia e sua violação à soberania e integridade territorial da Ucrânia. Estes atos atentam contra a vida de inocentes e a segurança internacional", afirmou o presidente chileno Sebastián Piñera.
Uruguai: "Rejeitamos as ações contrárias ao direito internacional e aos princípios da ONU. Que as negociações sejam retomadas e o conflito resolvido através da diplomacia", disse o presidente Luis Lacalle Pou.
Peru: "Os povos do mundo inteiro devem se unir. Que os conflitos sejam resolvidos no âmbito da diplomacia. Que não se invistam em balas, que não se invistam em munições. Que o investimento seja no diálogo para atacar os inimigos que temos em comum em todo o mundo: a pobreza, a desigualdade e as doenças", disse o presidente Pedro Castillo.
Equador: "O Equador condena a decisão da Rússia de lançar uma operação militar e a violação à soberania e à integridade territorial da Ucrânia. A agressão armada vulnera os princípios da Carta das Nações Unidas e, principalmente, a solução pacífica das controvérsias. A vida de inocentes está em jogo", escreveu o presidente Guillermo Lasso.
México: "Vamos continuar promovendo a defesa do diálogo, que não se utilize a força. Não estamos a favor de nenhuma guerra. O México sempre se manifestou a favor da paz, da solução pacífica diante dos conflitos e isto está na nossa constituição", disse o presidente Andrés López Obrador.
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