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Fórum Econômico na Suíça rende a executivos contatos, contratos e até amor

Simon Kennedy

20/01/2015 17h10Atualizada em 21/01/2015 17h27

(Bloomberg) - Para Martin Sorrell, vinte e cinco anos de viajar em janeiro aos Alpes Suíços para participar do Fórum Econômico Mundial renderam frutos esperados e, também, inesperados: contatos governamentais, contratos com empresas e - há oito anos - amor.

"Conheci minha esposa em Davos", disse o fundador e diretor-executivo da gigante de publicidade WPP. "Eu poderia dizer que encontrei mais do que procurava".

Ligações românticas à parte, uma semana de discussões, redes de contatos, negócios, diversão e talvez um pouco de esqui são motivos suficiente para que muitos executivos, políticos e investidores comecem o ano com uma viagem marcada para a Suíça.

Participante foi nas 36 edições do evento

São os Homens de Ferro de Davos. Dos 2.500 participantes da reunião neste ano, dezenas fazem a peregrinação à cidade mais alta da Europa há décadas.

Wilfried Stoll, da empresa alemã Festo Holding GmbH, é o campeão: ele participou de todas as 36 conferências que ocorreram desde que compareceu pela primeira vez, em 1979, de acordo com os organizadores do fórum.

Em segundo lugar da lista está o bilionário indiano Rahul Bajaj, que está participando da reunião --neste ano, de 21 a 24 de janeiro-- pela 35ª vez.

O consultor imobiliário holandês Cornelis van Zadelhoff está de volta pela 34ª vez, o que o coloca à frente do produtor alemão de fertilizantes Helmut Aurenz, que vai pela 33ª vez.

'Me divirto', diz bilionário indiano

"Todos me perguntam por que eu vou, e minha resposta é que vou para não fazer negócios", disse Bajaj, presidente do conselho da Bajaj Auto. "Vou porque aprendo muito. Encontro velhos amigos, faço novos amigos e me divirto".

Oitenta pessoas tinham se registrado para 20 conferências ou mais até o ano passado, e quase 1.000 tinham participado mais de 10 vezes; esses recebem um broche de cristal para usar na lapela, junto com o alfinete distintivo que lhes dá acesso aos painéis e refeições.

O ex-secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers já conta 22 participações. O investidor bilionário George Soros tem 21. Bill Gates chegará a 20 nesta semana.

O fundador Klaus Schwab, é claro, esteve em todos os 45 encontros desde a primeira reunião no recém-inaugurado centro de convenções de Davos, em 1971. Na época, o evento se chamava Fórum Europeu de Gestão e incluía cerca de 500 participantes oriundos de 31 países. Pelo menos alguns deles compareceram às duas semanas completas da conferência.

Empresas pagam centenas de milhares de dólares 

De lá para cá, o evento inchou em tamanho e em custo --as empresas pagam centenas de milhares de dólares para que seus executivos participem. Os custos com hotel, traslado, comida e bebida podem duplicar a conta.

A etiqueta de preço leva alguns críticos a dizerem que o fórum já não passa de uma celebração da riqueza e do livre mercado --algo que os organizadores e muitos dos participantes negam.

"Ao longo dos anos, à medida que passava por distintos trabalhos, percebi que os bate-papos em Davos eram inigualáveis, devido à diversidade das pessoas", disse o ex-presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Trichet, um veterano que já participou de 22 sessões desde que foi pela primeira vez, na década de 1980, como diretor do Tesouro da França.

Oportunidade de novos negócios e encontros surpreendentes

Negócios podem ser fechados ou agilizados. Em 2011, Chris Viehbacher, diretor-executivo da Sanofi-Aventis, e Henri Termeer, da Genzyme, sentaram as bases para um acordo de US$ 20 bilhões no mês seguinte.

Dois meses depois, o diretor-executivo da Publicis Groupe, Maurice Lévy, e o diretor-executivo da Omnicom, John Wren, arquitetaram um plano de fusão, embora o acordo não tenha vingado depois.

E os encontros às vezes são... muito informais. Van Zadelhoff se lembra de ter batido um papo com outro representante na sauna do hotel Belvedere na década de 1980 e descobrir, depois, que seu acompanhante era o primeiro-ministro canadense Pierre Trudeau.

Kim Samuel-Johnson, diretora da The Samuel Group of Companies e, de acordo com o FEM, a mulher que mais participou dos encontros em Davos, 22 vezes, rememora que uma vez chegou atrasada para o almoço e o único lugar vazio era ao lado do arcebispo Desmond Tutu, consagrado com o prêmio Nobel da Paz.

Cor dos broches indica o nível de acesso dos participantes

Atualmente, a maior segurança e os rankings dos representantes --os broches distintivos têm cores diferentes, que oferecem distintos níveis de acesso-- minaram a camaradagem de antes, de acordo com alguns participantes.

Mas, apesar dos crescentes estorvos, Sorrell diz que não há outro lugar onde preferiria estar nesta semana, seu 26º fórum.

"Para mim, é um modo extremamente eficiente de empregar o tempo", disse ele. "Clientes, proprietários de meios de comunicação e governos estão juntos em um só lugar. Parece que vai nevar muito. Você pode conhecer alguém em um corredor ou quando for pendurar seu casaco".

Talvez, inclusive, sua futura esposa.