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MasterCard cresce na Venezuela, com aumento na inflação e criminalidade

Anatoly Kurmanaev

18/05/2015 11h33

(Bloomberg) - O colapso econômico da Venezuela está levando fábricas à falência, esvaziando as prateleiras das lojas e acabando com o poder aquisitivo dos trabalhadores.

A MasterCard Inc. está se dando muito bem.

Duas forças poderosas estão obrigando os venezuelanos a dependerem cada vez mais dos cartões de crédito em meio ao caos: inflação descontrolada e criminalidade cada vez maior.

As pessoas correm para gastar o dinheiro o mais rápido possível, na tentativa de se adiantar aos aumentos dos preços ao consumidor, que poderiam chegar a quase 200 por cento neste ano, segundo estimativas do Bank of America Corp.

No entanto, como aquele crescimento vertiginoso da inflação dizimou o valor do dinheiro da Venezuela, para fazer compras à vista seria preciso andar com um maço de notas de cem bolívares do tamanho de um tijolo - uma ideia não muito boa no país que tem a segunda maior taxa de homicídios do mundo.

"Estamos expandindo a nossa participação no consumo das famílias, substituindo o dinheiro, embora talvez essas famílias estejam consumindo o mesmo ou até menos que antes", disse Gilberto Caldart, diretor para a América Latina da MasterCard, a segunda maior rede de pagamentos do mundo, em entrevista do seu escritório em Miami. "Esse é o paradoxo".

Apesar de mostrar-se relutante em dar detalhes específicos, Caldart disse que os negócios da empresa na Venezuela estão crescendo em sintonia com o restante das operações na América Latina, uma declaração surpreendente ao levar em conta as profundezas da recessão do país.

O FMI prevê para este ano uma contração econômica de 7% no país produtor de petróleo, após a queda de 4% em 2014.

Ford e Clorox

É claro que a empresa com sede em Purchase, Nova York, continua enfrentando o problema de retirar lucros de um país que controla rigorosamente seu suprimento cada vez menor de dólares com um labirinto de restrições cambiais.

Esses controles levaram outras multinacionais a ir embora: a Air Canada deixou de voar para o país sul-americano; o colosso dos bens de consumo Clorox Co. também saiu; a Ford Motor Co. reduziu o valor contábil de sua divisão local para zero.

No entanto, a MasterCard também tem uma vantagem nesse ponto. Caldart disse que a empresa recebe dólares, não bolívares, por algumas das taxas que cobra aos bancos por cada transação feita com cartões de crédito.

Mateo Lleras, porta-voz da MasterCard, não quis fornecer uma análise específica da receita. American Express Co., uma das principais concorrentes da MasterCard no país, junto com Visa Inc., também cobra taxas em dólares, segundo Marina Norville, porta-voz da companhia.

O valor dos bolívares da MasterCard presos no país está despencando rapidamente. Desde que o presidente Nicolás Maduro, sucessor do falecido Hugo Chávez, apresentou um novo mercado cambial em fevereiro para que os venezuelanos tenham mais acesso à moeda forte, o bolívar se desvalorizou 74% frente ao dólar.

Cobertura incomum

Recentemente, a MasterCard tentou empregar uma cobertura não convencional para proteger o valor daqueles bolívares. A empresa fez um empréstimo bancário em moeda local e utilizou o montante para comprar propriedades, cujo valor costuma ser fixado em dólares na Venezuela.

"Quando há uma desvalorização dessa moeda, o bolívar, você é obrigado a desvalorizar esse ativo monetário, o empréstimo, e disso resultam ganhos", disse a diretora financeira Martina Hund-Mejean aos analistas em uma teleconferência no dia 29 de abril.

Estratégias de cobertura como essas poderiam se tornar ainda mais importantes se as receitas da empresa em dólares acabarem. O governo, que vem sendo pressionado devido ao desmoronamento dos preços do petróleo, proibiu no mês passado que os bancos processem as concessões de dólares para viagens para os venezuelanos que estão indo para o exterior.

Assim, foi eliminado o fluxo de receita em moeda estrangeira dos bancos e alimentou-se a especulação de que agora eles tentarão começar a pagar as taxas por transações com cartões de crédito em bolívares em vez de dólares.

Enquanto isso, os negócios da MasterCard continuam indo bem. "Quanto mais as pessoas gastarem, mais receita nós geramos", disse Caldart. "A Venezuela continua sendo uma grande oportunidade".