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Ela abandonou Wall Street para expor machismo em livro

A escritora Maureen Sherry - Beowulf Sheehan/Divulgação
A escritora Maureen Sherry Imagem: Beowulf Sheehan/Divulgação

Amanda Gordon

16/02/2016 15h43

Maureen Sherry passou a primeira metade de sua vida adulta subindo na hierarquia de alguns dos maiores bancos de investimentos de Wall Street e a segunda metade entre outras mães ricas, muitas delas casadas com líderes do setor financeiro.

Neste mês ela publicou "Opening Belle" (sem tradução em português), um romance que narra de forma cômica e mordaz o comportamento inadequado dos homens desses dois mundos, desde um garoto que puxa uma calcinha fio dental na pré-escola até a misoginia entranhada dos homens na bolsa de valores –e também a dinâmica das mulheres que os rodeiam.

Como o título sugere, elas são os personagens que ocupam o centro das atenções. Um filme já está sendo desenvolvido pela Warner Bros e pela empresa produtora da atriz Reese Witherspoon.

"Opening Belle" acompanha Isabelle, inicialmente a integrante mais relutante do secreto "Clube da Barreira Invisível", formado por colegas mulheres. Quando começam a circular memorandos anônimos chamando a atenção dos homens por seu comportamento machista, Isabelle fica com raiva.

Seu fervor feminista só começa quando o chefe dela insiste para que ela divida seus ganhos em 60/40 (60% para ela e 40% para ele) com um colega preguiçoso de nível júnior. A sobrecapa do livro resume esse lado da história da seguinte forma: "Ficar rica em Wall Street seria muito mais divertido se os homens mantivessem suas mãos longe dos negócios dela".

Mas, embora ressalte a cultura de trabalho dominada por homens do lugar de onde vem a autora, o retrato que Sherry faz das relações das mulheres mostra que os homens não são os únicos que precisam mudar.

Isabelle observa as outras mulheres com um misto de respeito, divertimento e desprezo: "Elas usam joias normalmente compradas umas das outras" e tentam conseguir encontros para brincar com os filhos dos bilionários. Ainda assim, até mesmo a mulher que roubou o noivo dela ganha sua admiração por mandar na vida do homem com tanta facilidade.

'Comentários maldosos'

"Eu tive a vantagem de ter estado dos dois lados, com as mulheres que não trabalhavam fora da casa e com as mulheres que trabalhavam", disse Sherry, 51, em uma entrevista. "Eu era muito sensível em relação a quando um grupo era indelicado com o outro."

O efeito da cultura de Wall Street sobre a próxima geração chega ao ápice em uma assembleia pré-escolar. Isabelle está sentada com outros desajustados quando o filho dela se inclina para a frente e puxa com força a calcinha à mostra por cima da calça jeans da mulher que roubou o noivo dela.

No romance, Isabelle é diretora-gerente de um banco de investimento. Na vida real, Sherry tinha o mesmo cargo na Bear Stearns Cos., onde trabalhou em ações institucionais. (O marido dela, Steve Klinsky, fundou e administra a empresa de private equity New Mountain Capital).

Embora não tenha havido nenhum incidente com calcinhas na vida real, Sherry diz que houve uma oportunidade em que ela se sentou com um de seus filhos e ele notou que a calcinha fio dental de outra mãe estava aparecendo. "Ele ficou fascinado". Quanto à cena na pré-escola, diz ela, a narrativa é "bastante precisa".

Sherry também testemunhou atritos entre mulheres dentro e fora de Wall Street. Ela se lembra dos "comentários maldosos" das mulheres que trabalhavam fora sobre como o presente de final de ano de uma professora foi tratado pelas mães sem emprego. "Aquele tipo de coisa realmente me machucava", diz ela. "Eu sempre me lembro do fato de que um grupo precisa do outro."

Amante do mercado

"Opening Belle" está sendo publicado pela Simon Schuster, da CBS. Algumas das reações mais gratificantes que Sherry recebeu até o momento vieram de mulheres e homens que trabalharam em Wall Street, sobre o modo em que Belle descreve seu amor pelos mercados.

Todos, em qualquer escala de salário, querem se sentir produtivos, diz ela. É um avanço que existam mais pais que permaneçam em casa e mulheres da idade dela que voltam ao trabalho, além de mulheres mais jovens que encontram mais trabalho com seus próprios esforços.

"A ambição é algo difícil de desligar", diz ela.