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Cinco anos depois de Fukushima, região estimula robotização

Stephen Stapczynski

10/03/2016 13h52

(Bloomberg) - O Japão investirá mais de US$ 1 bilhão para relançar a área em torno da central nuclear destruída de Fukushima Dai-Ichi como o "Litoral de Inovação" do país.

A região está tentando explorar a tecnologia desenvolvida nos cinco anos dedicados a limpar o pior desastre nuclear desde Chernobyl, como robôs da Hitachi e da Toshiba que se deslizam como cobras ou navegam por águas radioativas como lanchas rápidas para investigar os reatores inundados. A prefeitura de Fukushima - como Beirute ou Detroit depois da falência - está preparada para desenvolver uma forte comunidade tecnológica, de acordo com Samhir Vasdev, consultor de inovação do Banco Mundial.

"Para que Fukushima seja uma liderança no futuro, precisamos superar nossos fracassos", disse o governador de Fukushima, Masao Uchibori, no Foreign Press Center em Tóquio no mês passado. "A criação de novos setores atrairá novas pessoas, o que é essencial para revitalizar a região".

Os investimentos públicos e privados em projetos do "Litoral de Inovação" superaram 150 bilhões de ienes (US$ 1,3 bilhão), de acordo com dados compilados pelos governos federal e regionais. Estima-se que o acidente nuclear ocorrido em março de 2011 e suas consequências tenham um custo de 11 trilhões de ienes.

O governo local pretende investir quase 200 bilhões de ienes durante o ano até março de 2017 para renovar indústrias antigas e fomentar outras novas. O Japão está trabalhando com a Alemanha e a Dinamarca em uma colaboração relativa à energia renovável e visa a atrair talentos com instalações de ponta para pesquisas em robótica, segurança nuclear e ciências médicas radiológicas.

Para fomentar o interesse pela robótica entre os mais jovens, o governo de Fukushima realizará a "Robot Festa", uma exposição comercial dos mais novos brinquedos ao lado das máquinas que estão sendo utilizadas para trabalhar dentro dos reatores colapsados.

A necessidade de trabalhar no lugar do acidente em Fukushima - um ambiente que continua sendo letal para o ser humano - se revelou um catalisador para atrair financiamento e para desenvolver robôs no Japão, disse Keiji Nagatani, professor de robótica na Universidade Tohoku. Seus robôs foram alguns dos primeiros a entrar nos edifícios destruídos.

Com a meta de utilizar somente energia renovável até 2040, Fukushima se afastou das fontes nucleares e emissoras de carbono. Desde o acidente, a prefeitura passou a hospedar a maior turbina eólica offshore do mundo. O primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou planos para que a prefeitura produza células de combustível de hidrogênio para abastecer 10.000 veículos por ano a tempo para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020.

Tecnologia local

Empresas com sede em Tóquio foram responsáveis pela maioria dos mais de vinte robôs que mergulharam nas profundezas dos edifícios dos reatores em Fukushima. Projeta-se que os trabalhos na instalação nuclear demorem mais que a ajuda federal para a reconstrução, que acaba em 2021, portanto o governo local está tentando estimular o desenvolvimento de robôs na região.

"Estamos preocupados com o que vai acontecer depois que o financiamento federal acabar daqui a cinco anos, porque um desastre em uma usina nuclear não é resolvido tão rapidamente assim", disse Uchibori a repórteres em uma entrevista coletiva em Tóquio.

Talvez o sucesso das iniciativas de Fukushima dependa da capacidade de atrair pessoas para a região. Cerca de 7 por cento do município de Fukushima continua inóspito por causa da radiação que ainda vaza do reator da Tokyo Electric Power Co. Cerca de 100.000 pessoas abandonaram o município desde março de 2011 - a maior redução populacional para qualquer região desde o terremoto e o tsunami.

Se Fukushima conseguir atrair talentos a região terá uma boa chance de se tornar um polo tecnológico, disse Satoshi Tadokoro, professor do Instituo Internacional de Pesquisa sobre Ciências de Desastres da Universidade Tohoku, em mensagem enviada por email.

"Se não conseguir, isso nunca vai acontecer, mesmo com um financiamento maciço", disse ele.