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Oi se preocupa com US$ 14,2 bi em derivativos de crédito, dizem fontes

Cristiane Lucchesi

20/04/2016 15h42

(Bloomberg) -- A Oi SA teme que as apostas nos mercados de derivativos de crédito estimulem parte de seus credores a pressionar a empresa a atrasar os pagamentos de sua dívida e está procurando maneiras de diminuir o impacto dessas apostas sobre sua saúde financeira, disseram três pessoas com conhecimento direto do assunto.

Os advogados da Oi analisam se poderiam deflagrar o pagamento dos US$ 14,2 bilhões de derivativos conhecidos como swaps de crédito (CDS, na sigla em inglês), disseram as pessoas, que pediram anonimato porque as discussões são privadas. Eles poderiam criar um evento de crédito que provocaria o pagamento dos derivativos para efetivamente tirá-los de cena sem gerar a aceleração do pagamento da maior parte de sua dívida, de US$ 16,9 bilhões, disseram as fontes. Nenhuma decisão foi tomada e a empresa poderá não seguir esta estratégia, segundo essas pessoas.

A operadora de telefonia está analisando as opções porque teme que os compradores de derivativos de crédito tenham pouco incentivo para dar fôlego à empresa, por exemplo, concordando em facilitar as condições de pagamento para alguns de seus títulos ou empréstimos, disseram as pessoas. Uma reestruturação de dívida desse tipo normalmente envolve gestores de recursos que aceitam prejuízos a curto prazo para que o tomador do empréstimo possa sobreviver a longo prazo.

A Oi vem tentando corrigir suas finanças após queda em suas receitas. Uma proposta de fusão, que teria injetado US$ 4 bilhões na empresa, foi cancelada em fevereiro.

Complicado

A Oi precisaria encontrar uma forma de deflagrar o pagamento dos derivativos sem acelerar o pagamento de toda sua dívida, disse uma das pessoas. Uma possibilidade seria deixar de efetuar o pagamento dos juros de um único título que não causasse impacto em outra dívidas. As discussões da empresa com os advogados ressaltam como muitos tomadores de empréstimos ainda veem os derivativos de crédito como um produto obscuro capaz de confundir os mercados.

"A estrutura de dívida e de capital da Oi é uma das mais complicadas que eu já vi e todos esses CDSs tornam a situação ainda mais difícil", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC em Miami, que negocia títulos da Oi.

Os traders estão exigindo 70 pontos percentuais adiantados para proteção contra um possível calote da Oi por cinco anos, o que indica que estão precificando em mais de 90 por cento as chances de um calote.

Um representante da Oi preferiu não comentar.

Os derivativos de crédito renderam incentivos inesperados aos investidores anteriormente. Em 2013, a gestora de fundos de crédito GSO Capital Partners, pertencente à Blackstone Group, emprestou dinheiro à empresa de apostas espanhola Codere com cláusulas que garantiam que os pagamentos dos CDSs dos investidores seriam deflagrados. Em 2014, a RadioShack foi mantida em funcionamento pelos traders de derivativos de crédito que haviam vendido proteção contra o calote da dívida pela empresa.

"Os credores que possuem proteção contra calote de crédito em total bem acima do valor dos títulos de dívida têm muito menos incentivos do que um credor tradicional para trabalhar com o tomador do empréstimo que passa por dificuldades para ajudá-lo a evitar a falência", disse Henry Hu, professor da Faculdade de Direito da Universidade do Texas. Hu ajudou a criar a teoria do "credor vazio", um investidor que possui os títulos de uma empresa, mas tem um incentivo para levar o tomador do empréstimo à falência para lucrar com uma aposta ainda maior em derivativos.

A Oi é a quarta maior operadora de telefonia celular do Brasil. A empresa também opera parte do sistema de telefonia de linha fixa, que tem se mostrado oneroso -- a empresa tem um compromisso legal de expandir e manter a rede, que é obsoleta. A empresa teve R$ 5 bilhões (US$ 1,4 bilhão) em despesas com juros em 2015, muito mais do que os cerca de R$ 2,7 bilhões em lucro operacional disponível para pagar esses custos, segundo dados compilados pela Bloomberg.