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Herdeiro da família Porsche se prepara para assumir função na VW

Naomi Kresge e Christoph Rauwald

21/04/2016 16h04Atualizada em 22/04/2016 12h15

(Bloomberg) -- Peter Daniell Porsche passou a maior parte dos primeiros 42 anos de sua vida distante do legado automotivo da família, sua fonte de riqueza e a origem de seu sobrenome famoso.

Agora, o ex-professor de escolas alternativas está mudando de rumo, criando suas próprias holdings comerciais e assumindo um papel maior na Volkswagen, empresa da qual terá uma das maiores fatias em ações entre seus familiares. Visto como iconoclasta no passado, ele tem como ideais a tomada de decisões por consenso e o investimento ecológico, que deverão repercutir em um momento em que a fabricante se esforça para deixar para trás o "dieselgate" e a sombra de Ferdinand Piech, o autoritário e longevo líder da VW, primo do pai de Peter Daniell.

"Não preciso destruir ninguém para fazer negócios", disse Porsche em entrevista no moinho do século 16 em Salzburgo, Áustria, que foi reformado para servir como sede de suas operações de investimento. "Eu também consigo alcançar algo de forma socialmente consciente".

Nos últimos dois anos, o bisneto do criador do Fusca, Ferdinand Porsche, vem se capacitando como homem de negócios. Ele formou seu veículo de investimento PDP Holding GmbH, uniu-se ao conselho da marca checa Skoda, da VW, começou a assessorar a Porsche Design, de sua família, e se tornou vice-presidente do conselho de uma fundação administrada por funcionários da VW para dar apoio a projetos sociais. Seus encargos aumentarão depois que seu pai, Hans-Peter Porsche, entregar a ele em 2020 seu posto no conselho de supervisão da empresa holding da família, que possui 52 por cento das ações com direito a voto da Volkswagen.

Dividendos menores

Peter Daniell está mais bem posicionado que a maioria dos mais jovens da família para assumir um papel de liderança. Um dos poucos do clã que é filho único, ele deve controlar cerca de 12 por cento do veículo de investimento da família, a Porsche Automobil Holding SE, quando herdar a participação do pai. No ano passado, essa participação teria rendido cerca de 36 milhões de euros (US$ 41 milhões) em dividendos, segundo cálculos da Bloomberg. Neste ano, o valor deverá ser substancialmente menor como consequência da fraude nas informações sobre emissão de poluentes.

"Eu ficarei satisfeito se vier algo da Volkswagen, mas se nada vier, farei meu trabalho da mesma forma", disse Peter Daniell, que gerou polêmica em 2012 com um livro de memórias no qual escreveu que a vida é mais do que fabricar carros.

Seu crescente envolvimento com a maior fabricante de automóveis da Europa coincide com a pior crise da Volkswagen. A empresa admitiu ter adulterado motores a diesel para trapacear nos testes de emissão de poluentes e enfrenta bilhões de euros em multas e ações judiciais em todo o mundo.

O escândalo trouxe à luz a necessidade de mudanças abrangentes na Volkswagen, inclusive a flexibilização de sua rígida estrutura hierárquica e a adoção dos veículos elétricos, disse Stefan Bratzel, diretor do Centro de Gestão Automotiva da Universidade de Ciências Aplicadas de Bergisch Gladbach, Alemanha.

"É claro que um membro da família pode influenciar a Volkswagen", mas é preciso esperar para ver se Peter Daniell é capaz de assumir esse papel, disse Bratzel.

Skoda elétrico

A Volkswagen começou a adotar algumas das ideias de Peter Daniell. No ano passado, seu utilitário esportivo Skoda Yeti foi convertido em veículo elétrico. Após o escândalo, o projeto chamou a atenção dos engenheiros da fabricante, que pediram o veículo emprestado para estudá-lo -- e não o devolveram até hoje.

Se ele puder provar que é capaz de ser um homem de negócios bem-sucedido e caminhar com as próprias pernas, sua influência deverá aumentar. Formada em 2014, a PDP Holding foi montada em torno da abordagem de Peter Daniell. Embora o fundo mantenha participações majoritárias em uma eclética cesta de empresas dos arredores de Salzburgo -- que inclui cervejaria, desenvolvedora de aplicativos, editora de livros e usina de reciclagem de plástico --, todas precisam ser rentáveis e respeitar sua filosofia empresarial favorável ao trabalhador e ecologicamente sustentável.

"Por mais idealista que seja, cada negócio precisa fazer sentido do ponto de vista comercial", disse Rafael Walter, gerente de negócios da PDP. "Há metas", incluindo retorno sobre o faturamento de 5 a 15 por cento.