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Indústria química evita novas fábricas e lucros devem subir

Jack Kaskey

14/06/2016 14h52

(Bloomberg) -- A decisão da Royal Dutch Shell de construir uma grande fábrica de produtos químicos na Pensilvânia, EUA, se resume à aposta de que, na próxima década, o gás de xisto norte-americano continuará mais barato que o petróleo, matéria-prima petroquímica mais utilizada em outras regiões. Trata-se de um risco que ninguém mais ousou tomar.

O barril de petróleo Brent atualmente custa cerca de 20 vezes mais que um milhão de unidades térmicas britânicas (BTUs) de gás natural dos EUA, relação menor que a de 60 vezes registrada em 2012.

Com a queda da vantagem de custo do continente, produtoras como Braskem e Chevron Phillips Chemical estão relutando em comprometer-se com novos investimentos depois que concluírem uma série de novas fábricas nos próximos anos.

A hesitação deixará poucos projetos importantes em andamento após 2020, apesar da expectativa de que aumentará a demanda por produtos como etileno e polietileno, usados para a fabricação de sacolas e garrafas plásticas.

A situação aumenta a possibilidade de déficit de oferta no início da próxima década, porque as fábricas de produtos químicos levam de cinco a sete anos para ser concluídas, disse Hassan Ahmed, analista da Alembic Global Advisors.

Sem produção adicional, os preços deverão subir, o que aumentará os lucros -- e possivelmente duplicará os preços das ações -- de fabricantes de produtos químicos como a Dow Chemical e a LyondellBasell Industries, disse ele, em nota, na segunda-feira.

"Depois que veio esta primeira onda, as pessoas ficaram paranoicas com as novas adições devido a toda a volatilidade do setor de energia", disse Ahmed, em entrevista. "Poderemos ver uma grande falta de investimento e isso manterá o mercado apertado".

Adivinhação de preços

As fábricas de "cracker" de etano e polietileno da Shell nos arredores de Pittsburgh, EUA, entrariam em operação a partir de 2020 após a ativação de meia dúzia de projetos semelhantes na Costa do Golfo dos EUA durante 2018. A Shell informou que as fábricas serão construídas por cerca de 6.000 operários e empregarão 600 pessoas quando concluídas.

A empresa, que não divulgou estimativa de investimento, poderá destinar US$ 3,5 bilhões ao projeto, disse Ahmed.

A indústria química dos EUA anunciou US$ 161 bilhões em investimentos de 2010 para cá, segundo Kevin Swift, economista-chefe do Conselho Americano de Química (ACC, na sigla em inglês). As novas fábricas produzirão mais do que o necessitado pelos mercados locais e o excedente será exportado.

O anúncio da Shell da semana passada não estimulará a Braskem a tomar uma decisão em relação a um projeto similar no estado americano vizinho de Virgínia Ocidental, disse o presidente da empresa, Fernando Musa, em entrevista, na reunião anual do ACC em Colorado Springs, Colorado. A planta, assim como uma fábrica de polipropileno planejada para o Texas, continua em análise, disse ele.

Qualquer decisão a respeito exigirá que a empresa tente adivinhar a diferença futura entre os preços do petróleo e do gás, disse Musa. "No momento não estamos à vontade para fazer essa aposta".