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A única certeza dos bancos centrais do mundo é a incerteza

Rich Miller

17/06/2016 12h14

(Bloomberg) -- Da possibilidade imediata de que o Reino Unido abandone a União Europeia até as consequências de longo prazo do envelhecimento populacional, os principais bancos centrais do mundo não sabem o que fazer agora.

Autoridades dos EUA, do Japão, do Reino Unido e da Suíça optaram por manter a política monetária inalterada nesta semana enquanto aguardam o resultado da votação da Brexit no dia 23 de junho e tentam entender melhor as forças profundamente arraigadas que estão moldando suas economias.

"Temos bastante incerteza sobre o rumo das taxas no longo prazo", disse a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, a jornalistas na quarta-feira. Ela observou que o envelhecimento populacional e o lento crescimento da produtividade indicam que os custos do crédito deveriam continuar abaixo dos patamares históricos normais.

A falta de medidas em quatro dos mais proeminentes bancos centrais gerou entre os investidores a impressão de que as autoridades monetárias estão cada vez mais perdidas em relação ao que fazer diante das dificuldades enfrentadas pela economia global e das distorções dos mercados financeiros mundiais.

Essa sensação, junto com a preocupação com as consequências caso o Reino Unido opte por sair da UE, derrubou ainda mais os preços das ações mundiais nesta semana e provocou a queda de rentabilidade dos títulos, em alguns casos para um terreno negativo que antes era impensável.

Brexit

Yellen disse que o referendo no Reino Unido foi um dos motivos pelos quais o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) preferiu não alterar as taxas na quarta-feira.

"É uma decisão que poderia ter consequências para as condições econômicas e financeiras nos mercados financeiros globais", disse ela sobre a votação no Reino Unido. Também "poderia ter consequências para a perspectiva econômica dos EUA".

As moedas do Japão e da Suíça poderiam disparar, o que prejudicaria a economia desses países, se o Reino Unido não permanecer na UE. É "possível que tenhamos turbulências" por causa da Brexit, disse o presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan, em entrevista à Bloomberg TV na quinta-feira. As autoridades dos principais bancos centrais poderiam intervir nos mercados globais para impedir "exageros", acrescentou ele.

Desafios

Yellen disse que o Fed está tentando calcular a melhor configuração da política monetária para uma economia que se aproxima do pleno emprego, onde se projeta que a inflação acabará voltando para a meta de 2 por cento.

As taxas de juros poderiam ser deprimidas por "fatores que não desaparecerão rapidamente, mas farão parte da nova normalidade", disse ela em uma entrevista coletiva de uma hora de duração na qual pronunciou as palavras "incerto" ou "incerteza" 11 vezes.

Como a moeda japonesa atingiu a cotação mais forte em quase dois anos depois que o Banco do Japão manteve a política inalterada na quinta-feira, seu presidente, Haruhiko Kuroda, disse aos jornalistas em Tóquio que o banco central não hesitará em intervir se for necessário.

Ele também disse que o banco central estava monitorando cuidadosamente os movimentos nos mercados financeiros e que mantém contato com colegas, entre eles o Banco da Inglaterra.

"Eles estão em um território muito perigoso no que se refere à taxa de câmbio", disse Michael Every, diretor de pesquisa sobre mercados financeiros do Rabobank Group em Hong Kong. "Se eles cometerem mais erros na política monetária ou não pressionarem de forma correta, os estragos na economia real poderiam ser bastante significativos em um momento em que a economia já está fraca".