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Preços do açúcar aumentam no Brasil com fortes exportações

Fabiana Batista

29/06/2016 11h30

(Bloomberg) -- O Brasil, principal produtor mundial de açúcar, está exportando tanto o produto que os consumidores domésticos estão enfrentando uma redução dos estoques e pagando preços recorde.

Os indicadores de preços para o açúcar cristal, variedade do açúcar branco consumido pela indústria alimentícia no Brasil, subiram 83 por cento ao longo do último ano. Os preços subiram depois que usinas como a chinesa Cofco e o Grupo USJ destinaram mais cana à produção de açúcar bruto para exportação em detrimento da variedade usada pela indústria local. As exportações foram impulsionadas pela desvalorização do real.

Os preços mais elevados do açúcar intensificam os problemas com a inflação, tornando a vida um pouco mais amarga para os brasileiros, que enfrentam a pior recessão em décadas. As empresas domésticas de alimentos e bebidas, com dificuldades para garantir a oferta de açúcar branco, atualmente pagam às produtoras um ágio sobre os preços internacionais quatro vezes maior que o praticado há um ano.

O açúcar cristal deu um salto de 13 por cento em junho, para R$ 87,29 (US$ 26,35) a saca de 50 quilos, segundo dados do Cepea, braço de pesquisa da Universidade de São Paulo. O preço atingiu uma alta histórica de R$ 87,40 em 24 de junho.

Cortes da Cofco

A Cofco deixou de produzir açúcar branco em suas quatro usinas no Brasil neste ano, o que significou um corte de 300 mil toneladas na oferta doméstica. A produção de açúcar bruto da empresa no país subirá aproximadamente 300 mil a 1,2 milhão de toneladas, disse Marcelo de Andrade, presidente global para o açúcar da Cofco Agri. O USJ reduziu sua produção em 50 mil toneladas, para 220 mil toneladas.

"Foi uma decisão técnica", disse Andrade, por telefone, de São Paulo. "Nossas plantas estavam com baixa eficiência na produção de açúcar branco, por isso decidimos deixar de produzir esse tipo de produto por enquanto e destinar mais cana para a produção de açúcar bruto."

Embora os cortes de produção na Cofco e no USJ representem apenas uma fração das 7,7 milhões de toneladas consumidas domesticamente no Brasil, quando combinados com as restrições em outras usinas eles podem provocar um grande impacto sobre o mercado doméstico, disse Luiz Gustavo Figueiredo, diretor comercial da Usina Alta Mogiana. O ágio pago pelo açúcar branco para entrega no ano que vem subiu e ficou US$ 40 por tonelada acima do preço pago pelo açúcar bruto negociado em Nova York. Há um ano, o valor era de cerca de US$ 10.

"A demanda é a mesma, mas a oferta está mais escassa", disse Figueiredo.

As empresas de alimentos e de bebidas também estão sofrendo por terem adiado as aquisições no início do ano, quando a perspectiva de colheita maior os levou a adiar as compras, segundo Bruno Lima, chefe do setor de açúcar da INTL FCStone.

"Agora as exportações estão fortes e os estoques estão baixos", disse Lima por telefone, de Campinas, São Paulo.