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Pessimismo com Jogos Olímpicos do Rio não abala investidores

Julia Leite, Paula Sambo e Vinícius Andrade

05/08/2016 11h13

(Bloomberg) -- O pessimismo em torno dos Jogos Olímpicos, que começam nesta sexta-feira no Rio de Janeiro, não está contaminando o mercado financeiro brasileiro.

Os problemas da maior economia da América Latina estão sob os holofotes em meio à chegada dos atletas de mais de 200 países para a Olimpíada.

São velejadores que torcem o nariz para a água suja da Baía de Guanabara, o time de basquete da China teve que desviar de um tiroteio pouco depois de sua chegada e até os viajantes que foram recebidos por policiais insatisfeitos no aeroporto do Rio com um cartaz dizendo "Welcome to Hell" ("Bem-vindo ao inferno").

Essa semana, um condutor da tocha mostrou seu descontentamento com o governo abaixando a calça no meio de uma cerimônia oficial.

Contudo, com a cerimônia de abertura a caminho, o Ibovespa e o real estão em seus níveis mais altos em mais de um ano, registrando a melhor performance do mundo neste ano em meio à recuperação dos preços das commodities e à especulação de que os estímulos monetários nos mercados desenvolvidos tornarão as taxas de juros mais elevadas do Brasil mais atrativas para o investidor estrangeiro.

Os títulos do governo brasileiro emitidos em dólar seguiram o exemplo e entregam aos investidores um retorno que representa o dobro da média dos emergentes. O risco medido pelos swaps de crédito também despencou com as apostas de que o novo governo será capaz de encerrar a pior recessão em um século.

"O investidor não está ligando para os Jogos Olímpicos", diz Jankiel Santos, economista-chefe do banco Haitong, em São Paulo. "Com perspectiva de estabilidade política, com consolidação de impeachment e novas medidas para lado fiscal, investidor olha e vê quadro diferente de anteriormente".

Governo interino

Michel Temer, que assumiu como presidente interino em maio após o afastamento de Dilma Rousseff, que enfrenta um julgamento de impeachment, impressionou os investidores ao montar o que o Goldman Sachs chamou de equipe econômica dos sonhos em seu gabinete.

Embora ainda não tenha concretizado nenhuma grande mudança em termos de políticas, Temer prometeu reverter o déficit e estimular o crescimento na tentativa de tentar reconquistar a classificação de grau de investimento que o país perdeu no ano passado.

O rali deste ano também reflete, em parte, o desempenho ruim dos ativos nos últimos anos.

O Ibovespa subiu 33% em 2016 após perder 38% do fim de 2010 até dezembro passado. A valorização de 24% do real este ano é a maior entre 150 moedas monitoradas pela agência de notícias Bloomberg no mundo, mas contrasta com o declínio de 58% registrado nos últimos cinco anos.

Os ativos brasileiros têm apresentado desempenho inferior aos de seus pares dos mercados emergentes em quase todas as categorias desde que o Rio foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos, em 2009.

Contudo, o otimismo de que Temer terá mais sucesso do que Dilma para tirar o Brasil da recessão elevou os preços dos ativos, mesmo em meio ao acúmulo de erros olímpicos.

"O apetite dos investidores pelo Brasil e a Olimpíada são duas coisas muito diferentes", disse Bianca Taylor, analista e estrategista de títulos soberanos da Loomis Sayles & Co. em Boston, EUA, que ajuda a administrar US$ 229 bilhões em ativos, incluindo títulos do governo brasileiro.

"O bom momento para os ativos brasileiros continuará dependendo do apetite global por risco e da manutenção do caminho para as reformas fiscais".

Há esperanças, também, para os brasileiros que estão mais interessados no vôlei do que nos preços dos ativos. O Goldman Sachs prevê que o Brasil terá seu melhor desempenho olímpico da história, com 22 medalhas, cinco delas de ouro.