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A torcida para que BCs honrem obrigações

Christopher Langner

02/09/2016 11h22

(Bloomberg) -- Os mercados de câmbio ficaram mais alavancados nos últimos três anos. Os investidores podem agradecer aos bancos centrais por isso - e torcer para que o mundo escape de grandes choques, uma vez que as próprias instituições responsáveis por manter a estabilidade estão aumentando o risco do sistema.

O volume diário de negociação de moedas à vista diminuiu 19 por cento para uma média de US$ 1,7 trilhão em abril, marcando a primeira queda desde 2001, segundo dados apresentados na quinta-feira pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) no estudo de mercado que realiza a cada três anos. Paralelamente, o uso de contratos de swap subiu 6 por cento para US$ 2,4 trilhões.

Os bancos centrais provavelmente estão por trás desse movimento, dado que se tornaram grandes usuários desses derivativos - especialmente em países emergentes - como instrumentos mais baratos para controle da volatilidade cambial. O Banco Popular da China é um dos que estão cada vez mais ativos.

Já o Banco Central do Brasil registrava posição líquida comprada em swaps de R$ 199,4 bilhões (US$ 61,2 bilhões) em 30 de junho, menos da metade da posição de R$ 463,9 bilhões apurada no final de dezembro, logo após o real ter atingido o ponto mais fraco desde que foi introduzido, em 1992. Por sua vez, essa posição era mais de 100 vezes maior do que a de R$ 4,2 bilhões registrada no fim de 2012.

O exemplo ilustra porque os bancos centrais se tornaram gigantes nos mercados de swap. A posição do BC brasileiro em derivativos, de US$ 117 bilhões no fim de dezembro, representava 32 por cento das reservas internacionais na ocasião. Ou seja, para conseguir realizar a mesma intervenção no câmbio, o país precisaria ter queimado um terço das reservas no mercado à vista.

A utilização de uma parcela tão grande das reservas tem consequências. Os investidores podem bater em retirada, acentuando a depreciação. Swaps causam menos estragos e por isso se tornaram os queridinhos das autoridades monetárias.

Só que um swap é um investimento alavancado. Quando o contrato é estabelecido, nenhuma parte precisa colocar dinheiro. À medida que a taxa de câmbio flutua, o lado perdedor deposita uma margem que mais tarde será usada para pagar o vencedor. Até a liquidação, ambos os lados só precisam entregar a diferença em relação ao que apostaram.

É aí que mora o risco. Se, na liquidação, uma das partes não cumpre o prometido, o calote pode reverberar pelo mercado todo, especialmente se esta parte for ninguém menos do que um banco central.

É difícil imaginar que a instituição que imprime dinheiro não consiga honrar um pagamento. Mas, no caso do Brasil, o BC frequentemente paga suas obrigações em swaps que estão vencendo com a emissão de novos swaps. Se em algum momento não houver compradores, a instituição seria obrigada a usar as reservas. Uma queda súbita das reservas poderia causar mais danos do que uma corrosão lenta motivada por intervenções no mercado à vista.

Mas esta hipótese é só para deixar o investidor com a pulga atrás da orelha, não é? O que pode dar errado quando os bancos centrais dos maiores países emergentes usam alavancagem para intervir no mercado mais líquido do mundo? Nada, esperamos.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.