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PepsiCo e Coca-Cola combatem patriotismo em Estado da Índia

P R Sanjai e Archana Chaudhary

16/03/2017 10h30

(Bloomberg) -- Uma mistura poderosa de orgulho, nacionalismo econômico e preocupações crescentes com a segurança da água deixou as duas maiores marcas de refrigerantes cola do mundo em problemas no sul da Índia.

Comerciantes do Estado Kerala, assolado pela seca, decidiram na quarta-feira fazer propaganda de marcas locais em detrimento das bebidas da Coca-Cola e da PepsiCo depois que seus pares no Estado vizinho Tamil Nadu boicotaram os refrigerantes das multinacionais. Embora os grupos varejistas acusem as empresas de extrair água de lençóis subterrâneos e vender produtos contaminados com pesticidas, acadêmicos e analistas afirmam que as gigantes dos refrigerantes se tornaram um bode expiatório em uma crise hídrica inundada de política e patriotismo.

A Índia é um dos países que mais enfrentam dificuldades em relação à água, e brigas por causa da água surgem periodicamente entre os usuários há décadas. A falta de chuvas das monções nos últimos três anos em alguns Estados secou rios e represas, obrigando fazendeiros, fabricantes e abastecedoras municipais de água a depender mais dos poços para suprir suas necessidades. O problema é que eles também estão secando, o que prejudica a agricultura, principal alicerce econômico da Índia.

"A verdadeira causa do boicote não são as empresas multinacionais, mas a briga permanente entre os usuários industriais e os agricultores, especialmente em diversos Estados assolados pela seca", disse P.L. Beena, professora adjunta do Centro de Estudos sobre Desenvolvimento em Thiruvananthapuram, Kerala.

'Fabricação na Índia'

Além disso, o primeiro-ministro Narendra Modi pediu que as companhias mantenham a "fabricação na Índia", o que provocou o surgimento de uma campanha pró-Índia -- e, em alguns casos, de uma reação contrária aos estrangeiros -- que está respaldando marcas locais. Diante da desaceleração do crescimento, cerca de metade dos lares indianos tem apenas um integrante empregado, de acordo com uma pesquisa do governo. Muitas famílias ficaram em dificuldades durante o veto de cédulas da desmonetização da Índia no fim do ano passado.

Os protestos contra as bebidas das duas empresas são uma "expressão inapropriada de uma mentalidade obstinada provocada pelo fraco desenvolvimento econômico", disse Chakri Lokapriya, diretor administrativo em Mumbai do braço indiano da TCG Group, de US$ 3 bilhões. "Quase nenhum reservatório de água ou desenvolvimento econômico se materializou, ou empregos teriam sido criados na construção dessa infraestrutura."

As últimas medidas implicam que as bebidas da Coca-Cola e da PepsiCo, que juntas detêm 96% do mercado de refrigerantes da Índia, de US$ 4.9 bilhões, ficarão fora das prateleiras em mais de 1 milhão de empreendimentos comerciais.

"Em vez dos refrigerantes estrangeiros, vamos fazer propaganda das bebidas locais", disse T. Naseeruddin, presidente de um grupo de varejistas que afirma ter mais 700 mil membros em Kerala, Estado que enfrenta sua pior seca em 115 anos.