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Espanha pede calma ao Reino Unido após comparação com Malvinas

Esteban Duarte, Robert Hutton e Richard Bravo

03/04/2017 13h06

(Bloomberg) -- O ministro de Relações Exteriores da Espanha, Alfonso Dastis, fez um chamado à calma em um incidente diplomático com o Reino Unido sobre o status de Gibraltar após um fim de semana de retórica acalorada que culminou com a insinuação de que o Reino Unido poderia ir à guerra pelo território.

O ponto crítico chegou no domingo, quando Michael Howard, que liderou o Partido Conservador de 2003 a 2005, fez uma comparação entre o conflito com a Espanha e a Guerra das Malvinas, de 1982, entre o Reino Unido e a Argentina. Ele repetiu a ameaça implícita em entrevistas subsequentes, dizendo à emissora Channel 4 "não vejo nenhum mal em recordar a eles que tipo de povo nós somos".

"Comparar Gibraltar com as Malvinas é tirar as coisas de contexto", disse Dastis a jornalistas, em Madri, na segunda-feira. "Parece que alguém no Reino Unido está perdendo a fleuma."

A disputa, acompanhada da recepção alegre de uma parte da imprensa britânica, ameaça diminuir as esperanças da primeira-ministra Theresa May de que a Espanha possa ser uma aliada em suas negociações com a União Europeia. Essa situação, que surge menos de uma semana depois de May iniciar o período de dois anos de negociações do Brexit, também indica o campo diplomático minado pelo qual o Reino Unido terá que passar na tentativa de se separar do bloco e estabelecer um novo relacionamento com seu maior mercado.

"Em relação a Gibraltar, eu diria que vemos agora como o divórcio é difícil", disse o ministro das Relações Exteriores holandês, Bert Koenders, a jornalistas, em Luxemburgo, na segunda-feira, antes de uma reunião do conselho de assuntos exteriores da UE. "Vamos manter a calma, seguir em frente e não usar uma linguagem dura demais", disse ele. "Vamos simplesmente negociar, acho que isso é o mais importante."

Palavra final

O primeiro sinal de problema apareceu na sexta-feira, quando surgiu a informação de que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, havia dado à Espanha a palavra final em ralação à aplicação do acordo do Brexit sobre Gibraltar, uma área de menos de 8 quilômetros quadrados localizada no extremo sul da Espanha que é controlada pelo Reino Unido desde 1713.

A medida gerou consternação no Reino Unido e em Gibraltar, porque os ministros espanhóis sugeriram que buscarão conseguir a soberania conjunta do promontório rochoso. No domingo, o ministro-chefe do território, Fabián Picardo, conversou com May para buscar garantias de que os interesses de Gibraltar seriam protegidos.

Enquanto May, segundo seu gabinete, usou o telefonema para reiterar a posição do Reino Unido de que o status de Gibraltar não está aberto a negociação, outros políticos usaram uma linguagem menos moderada.

"Nesta semana faz 35 anos que uma outra primeira-ministra enviou uma força-tarefa a meio mundo de distância para defender a liberdade de outro pequeno grupo de britânicos contra outro país de idioma espanhol", disse Howard à Sky News. "Tenho certeza absoluta de que nossa atual primeira-ministra mostrará a mesma determinação para defender o povo de Gibraltar."

Longe dos estúdios de TV, uma guerra entre o Reino Unido e a Espanha parece improvável, mas a disputa mostra o perigo de as negociações iminentes do Brexit serem desviadas por questões que já eram consideradas resolvidas. Em particular, a possibilidade de restauração dos controles de fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda é vista por muitos como uma ameaça real à paz na região.