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Fábrica de Ronaldos, Portugal ganha milhões exportando talentos

Tariq Panja, Joao Lima e Henrique Almeida

30/06/2017 11h46

(Bloomberg) -- Sob o céu azul português sem nuvens, em campos verdes imaculados, é grande a pressão para produzir a próxima exportação multimilionária.

Os campos de treinamento de futebol dos grandes rivais Benfica e Sporting Clube de Portugal em Lisboa são representantes de uma fábrica futebolística que se transformou na mais influente desse mercado de jogadores de US$ 5 bilhões. Um dos países mais pobres da Europa, Portugal tem uma influência desproporcional no esporte graças à sua capacidade de formar talentos.

Logo após a abertura da janela de transferências na Inglaterra, a liga mais rica da Europa, neste mês, equipes e jogadores portugueses se envolveram em algumas das transações mais chamativas. Quatro atletas mudaram de clube por um valor combinado de 160 milhões de euros (US$ 178 milhões) que inclui a compra de Ederson, do Benfica, pelo Manchester City a um preço que transforma o jogador de 23 anos no goleiro mais caro da Premier League.

"As pessoas sabem que os nossos jogadores não serão baratos porque temos um bom histórico", disse o diretor-executivo do Benfica, Domingos Soares de Oliveira. "Quando nós os vendemos, queremos que sejam bem-sucedidos. Se um jogador fracassa depois que o vendemos, isso afeta nossa marca."

Simplificando, as equipes portuguesas formam atletas para as ligas mais lucrativas do esporte mais rico do mundo. Isso entrega ao país de 10 milhões de habitantes, que possui uma renda doméstica limitada com direitos de televisão e merchandising, uma fatia das riquezas do futebol global. Os times, então, usam o dinheiro para manter a linha de produção em funcionamento e corrigir as finanças impactadas pelo legado de dívidas e má gestão, algo muito comum no futebol europeu.

Juntamente com o FC Porto, da segunda maior cidade do país, os três principais clubes de Portugal venderam quase US$ 1 bilhão em talentos nos últimos seis anos para equipes de outros países.

Portugal exportou o melhor jogador europeu da atualidade -- Cristiano Ronaldo, do Real Madrid -- e um dos treinadores mais vencedores -- José Mourinho, do Manchester United. Contrariando as expectativas, a seleção portuguesa foi campeã europeia com uma vitória sobre a França, no ano passado. O país também tem o agente mais destacado, Jorge Mendes, conhecido em toda a Europa por uma rede de contatos que gerou centenas de milhões de euros em transações no futebol.

"Em comparação com alguns clubes grandes não temos dinheiro suficiente para comprar alguns jogadores, por isso temos que formar os nossos próprios atletas", disse Nuno Gomes, ex-jogador e atualmente diretor do centro de treinamento do Benfica, em seu escritório, no centro de treinamento de Seixal, ao sul de Lisboa. "Investimos muito nessa área específica."

A esperança é que um dia os clubes portugueses possam manter os jogadores por mais tempo para tentar igualar o nível dos maiores clubes da Europa. Na realidade, apesar de Portugal ter uma influência desproporcional, há poucas possibilidades de o país eliminar a diferença em relação às grandes ligas, que recebem a maior fatia da renda do continente com direitos de TV e merchandising.

"Nosso objetivo é encontrar uma maneira de ter sustentabilidade econômica para recusar ofertas", disse Gomes. "No momento ainda não chegamos a esse nível. Espero que no futuro isso seja possível."