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Fabricante de turbinas eólicas dá adeus ao setor de petróleo

Peter Levring

29/08/2017 13h50

(Bloomberg) -- Em mais um sinal de que a era do petróleo está chegando ao fim, a Dinamarca está vendendo sua última petroleira sem gerar objeções.

Antes considerada um ativo estratégico, junto com empresas de navegação e estaleiros nacionais, a divisão de petróleo e gás da A.P. Moller-Maersk está sendo comprada pela gigante francesa Total. O acordo de US$ 7,45 bilhões deverá ser concluído até 2018 e depende de aprovação regulatória.

Apenas três meses após a venda da produção de petróleo e gás da Dong Energy no Mar do Norte para a alemã Ineos, a decisão da Maersk de se desfazer de sua divisão de petróleo foi bem recebida pelo governo e também pelos sindicatos. Nem mesmo o nacionalista Partido Popular Dinamarquês, que apoia o governo no Parlamento, fez objeções.

A ironia é que a Dinamarca precisará da renda do petróleo e do gás para financiar sua transição ecológica e cumprir a promessa de abandonar o uso de combustíveis fósseis até 2050. Isso significa manter a produção dos campos do Mar do Norte, o que a Total prometeu fazer.

"Quanto mais dinheiro eles ganharem no Mar do Norte, mais dinheiro teremos para investir na transição ecológica", disse o ministro de Energia, Lars Christian Lilleholt, em entrevista, em Copenhague.

Segundo cálculos dos ministérios das Finanças e da Economia, a receita fiscal do petróleo e do gás do Mar do Norte já caiu para um décimo do obtido em seu auge, há apenas uma década.

As receitas médias com o petróleo do Mar do Norte costumavam ser de cerca de 8 bilhões de coroas (US$ 1,3 bilhão) por ano. O montante pagaria cerca de 1 gigawatt de nova capacidade eólica em terra, suficiente para fornecer energia a cerca de 170.000 lares, de acordo com um acordo recente fechado na Noruega, segundo James Evans, analista da Bloomberg Intelligence.

A Dong, uma antiga empresa estatal de energia cujo nome é uma sigla de Danish Oil and Natural Gas, está usando pelo menos parte do dinheiro que obteve com o desinvestimento para construir mais parques eólicos offshore, expandindo assim sua preponderância como maior operadora mundial de turbinas eólicas no mar.

A Dinamarca, sede também da Vestas Wind Systems (a maior produtora de turbinas do planeta), atualmente obtém mais de 40 por cento de suas necessidades elétricas de fontes renováveis, segundo dados de 2015, e busca chegar a mais de 50 por cento até 2020. O setor ecológico do país já emprega cerca de 67.000 pessoas, o dobro do número de trabalhadores da indústria do Mar do Norte.

Segundo Peter Kurrild Klitgaard, professor de Ciência Política da Universidade de Copenhague, o motivo por trás da reação política moderada à venda realizada pela Maersk se deve ao fato de que "não há crise energética. Temos mais fontes de energia do que nunca".

Paradoxalmente, a Dinamarca teria iniciado a exploração de petróleo, em 1962, porque o fundador da Maersk, Anders Peder Moeller, queria evitar que empresas alemãs explorassem as reservas do país no Mar do Norte. E foram essas mesmas explorações, em condições muitas vezes perigosas, que ajudaram a Dinamarca a desenvolver seu próspero negócio de energia eólica offshore.

Como diz Benny Engelbrecht, porta-voz financeiro do Partido Social-Democrata da Dinamarca, "a transição ecológica da Dinamarca se baseia em nossa vasta experiência em construção offshore".

Para entrar em contato com o repórter: Peter Levring em Copenhague, plevring1@bloomberg.net.

Para entrar em contato com a editoria responsável: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net.

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