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Bilionário argentino quer negociar suas vacas em Nova York

Pablo Gonzalez e Jonathan Gilbert

12/09/2017 14h09

(Bloomberg) -- Um bilionário banqueiro argentino está prestes a se transformar em um magnata da carne bovina.

Jorge Brito, sócio majoritário do Banco Macro, quer levantar pelo menos US$ 200 milhões por meio de uma oferta pública inicial de sua empresa pecuária, a Inversora Juramento, em Nova York (EUA), segundo contou em entrevista realizada em 4 de setembro em sua fazenda, na província de Salta, na região noroeste da Argentina.

Brito via a pecuária como um passatempo quando começou, no início da década de 1990. Mas aos 65 anos, o presidente do conselho e acionista majoritário da Juramento, com fortuna estimada pelo Bloomberg Billionaires Index em US$ 1,2 bilhão, tem ambições maiores. "O negócio provou ser um sucesso, por isso chegou o momento de dobrar sua escala", disse, rodeado por algumas de suas 70 mil vacas.

A empresa, que já tem ações negociadas na Bolsa de Valores de Buenos Aires, procura um banco de investimentos para assessorá-la na venda de recibos de depósito americanos na Bolsa de Valores de Nova York. Brito não quer captar menos de US$ 200 milhões porque o objetivo é oferecer liquidez aos investidores. As ações argentinas da Juramento subiram 4,8 por cento com a notícia, maior alta desde 25 de julho.

"É muito positivo para a empresa e para o mercado local continuar atraindo investidores estrangeiros", disse Carlos Aszpis, analista da corretora Schweber Securities, com sede em Buenos Aires, por telefone. "Isso não apenas dá mais profundidade ao mercado, mas também estimula os negócios", disse ele. As ações da empresa eram negociadas quase três vezes acima de sua média de três meses na segunda-feira.

Impulso agrícola

A jogada de Brito para criar um império da carne bovina multiplicando o rebanho da Juramento e comprando novas terras coincide com a aposta do presidente Mauricio Macri nos fazendeiros para estimular a recuperação econômica. Macri eliminou um imposto de 15 por cento à exportação de carne bovina ao assumir o cargo, em dezembro de 2015, e negocia o envio de remessas de cortes de carne fresca aos EUA pela primeira vez em cerca de 15 anos. Trata-se de uma mudança brusca em relação ao governo de sua antecessora, Cristina Kirchner, cujas políticas protecionistas sufocavam a indústria da carne bovina.

"Desde que Macri entrou, a equação se tornou positiva", disse Brito.

Os fazendeiros responderam criando um número recorde de cabeças de gado. A previsão para o fim do ano é que o total subirá para 54,7 milhões de cabeças, o maior rebanho do país em uma década, segundo relatório de março do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). E as exportações também deverão subir em relação a um ano atrás, para 270 mil toneladas.

A fazenda de 87.414 hectares da Juramento está preparada principalmente para a criação das raças Brangus e Bradford. A empresa utiliza 14 mil hectares para o cultivo de milho e soja e, portanto, não precisa comprar alimentos para gado, disse Brito. Apesar de exportar cortes premium para a Europa, a maior parte de sua carne é vendida no mercado doméstico porque a viagem de 1.300 quilômetros até um terminal portuário em Buenos Aires é cara.

A inflação difícil de domar e a moeda sobrevalorizada estão tirando competitividade dos frigoríficos argentinos, que encontram lucros melhores no mercado local, segundo o USDA. A Argentina era a maior exportadora mundial de carne bovina na década de 1930, mas atualmente ocupa o 10º lugar no ranking de países exportadores, atrás dos vizinhos menores Paraguai e Uruguai.