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Atualizações de software estilo Tesla ameaçam lucro de lojas

Gabrielle Coppola

20/10/2017 16h01

(Bloomberg) -- As concessionárias de automóveis, já em atrito com Elon Musk por eliminá-las do processo de compra de veículos, têm mais um motivo para não gostarem da Tesla.

Musk foi pioneiro no uso de atualizações de software over-the-air (OTA) para adicionar recursos ou corrigir falhas em seus veículos elétricos. Agora, elas estão sendo adotadas por mais fabricantes de automóveis, uma novidade possivelmente sombria para as concessionárias de veículos, que normalmente obtêm até metade de sua receita bruta com peças e manutenção.

A General Motors terá uma nova arquitetura eletrônica e sistemas de infoentretenimento que permitirão atualizações OTA até 2020, disse a CEO Mary Barra em julho. Os executivos da Delphi Automotive disseram que a tecnologia da Tesla é uma revolução "brilhante" e estão incorporando recursos OTA aos produtos que a empresa fornece a fabricantes de automóveis em um "ataque" aos custos de garantia relacionados a softwares.

"No momento, o setor tem uma forma muito antiquada de lidar com correções de software: o carro vai a um revendedor, é reconfigurado, o revendedor ganha dinheiro", disse o diretor financeiro da Delphi, Joe Massaro, em evento com investidores, em setembro. No futuro, quando as fabricantes de automóveis quiserem realizar uma correção de software, "o software será ativado e corrigido com a tecnologia over-the-air. E se o cliente não quiser que a gente faça isso por algum motivo, não pagaremos pelo serviço."

Lucros das concessionárias

Assim como os sites de pesquisa on-line de carros trouxeram mais transparência em relação aos preços e reduziram as margens de lucro das concessionárias na venda de veículos novos e usados, o surgimento das funções controladas por software dentro dos carros pode afetar gradualmente o negócio de manutenção e reparos -- a maior fonte de lucro das revendedoras de veículos. As fabricantes de automóveis gastam entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões por ano em custos de garantia, e mais da metade disso atualmente tem relação com software, segundo a Delphi. O setor economizará US$ 7 bilhões com o envio dessas correções em tempo real somente neste ano, eliminando grande parte da necessidade de trabalho humano nas concessionárias, estima a IHS Markit.

A AutoNation, maior grupo de concessionárias dos EUA, registrou margens de 43 por cento com a divisão de peças e manutenção no ano passado, oito vezes maior que a obtida com a venda de carros novos. As margens da divisão de peças e manutenção do grupo de concessionárias Asbury Automotive Group foram ainda maiores, de 62 por cento. Para comparação, o lucro bruto da Apple enquanto porcentagem da receita da empresa no ano passado foi de 39 por cento.

Na verdade, o dinheiro que as fabricantes pagam às concessionárias para cobrir o custo de reparo de veículos em garantia representa apenas uma fatia da receita das revendedoras com peças e manutenção, e boa parte nunca será afetada por software. Qualquer peça de um veículo que possa se desgastar -- pneus, limpadores de para-brisa, amortecedores -- sempre precisará de um departamento físico ou de um técnico, disse Jamie Albertine, analista da Consumer Edge Research. Além disso, a tecnologia OTA ficará limitada aos carros novos, uma vez que não pode ser facilmente adaptada aos que já estão rodando.

Jared Allen, porta-voz da Associação Nacional de Concessionárias de Automóveis dos EUA, disse que o grupo não vê as atualizações OTA como ameaça aos departamentos de manutenção e peças das revendedoras de veículos. As concessionárias franqueadas executaram mais de 74 milhões de pedidos de garantia e recall em 2016, disse ele.