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Economia fechada isola Brasil da melhora na atividade global

Rachel Gamarski

06/11/2017 08h00

(Bloomberg) -- O Brasil está deixando de se beneficiar da melhora das perspectivas de crescimento global por ser uma das economias mais insulares do mundo.

As exportações do Brasil aumentaram 20% desde o início do ano, comparadas ao mesmo período do ano passado, e em outubro o governo elevou a estimativa para o superávit comercial deste ano de US$ 60 bilhões anteriormente, para entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões. Ainda assim, as exportações representam apenas cerca de 12,5% do PIB, uma proporção que mal se alterou nos últimos anos e é cerca de metade de países como Rússia e Chile e um terço de México, segundo o Banco Mundial.

Anos de políticas públicas que apostam no enorme mercado doméstico do Brasil, juntamente com medidas protecionistas, burocracia e estrangulamentos de infraestrutura, transformaram o país no mercado emergente mais fechado, segundo o Credit Suisse. Embora esse isolamento relativo tenha trabalhado em favor do Brasil durante a crise econômica global de 2008, agora ele está está retardando a recuperação econômica do país.

"Não existem milagres, não há mágica", disse Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial, em uma entrevista por telefone. O Brasil "vai aproveitar menos do que poderia o atual momento de recuperação da economia global".

Por exemplo, o Brasil impõe uma tarifa média de 8,8% em todas as suas importações, em comparação com 0,6% no Chile e 1,6% nos EUA, segundo dados do Banco Mundial. O Brasil também ocupa o 139º lugar entre 190 países em facilidade de negociação transfronteiriça, de acordo com os últimos rankings de Facilidade de se Fazer Negócios do Banco Mundial, que também mostraram que os custos de exportação dos principais pólos de São Paulo e Rio de Janeiro são aproximadamente o dobro da média da América Latina.

O Fundo Monetário Internacional aumentou recentemente suas previsões de crescimento global para este ano e o ano que vem, devido às perspectivas mais fortes em países como os EUA e a China, que são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil. Também melhorou as estimativas para a área do euro, uma região em que o Brasil está tentando penetrar através do Mercosul. Por outro lado, o FMI espera que o Brasil cresça a menos da metade do ritmo global este ano e no próximo.

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços diz que, além de buscar novos acordos comerciais, está prestando assistência às pequenas e médias empresas que buscam expandir as vendas no exterior e centralizando os procedimentos de exportação num portal eletrônico. O número de empresas exportadoras no Brasil chegou a um recorde em setembro, o que prova que a estratégia está funcionando, afirmou o secretário do Comércio Exterior, Abrão Neto, em uma entrevista.

"Esse aumento tem contribuído de maneira fundamental para a retomada do crescimento econômico do país e deve continuar no ano que vem", afirmou. "Os efeitos dessas iniciativas certamente levarão o Brasil a aproveitar ainda melhor qualquer movimento de crescimento no comércio e da economia mundiais".

Enquanto isso, as negociações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia, que começaram em 1999, estão enfrentando novos obstáculos, como as preocupações sanitárias levantadas pelos franceses, disse um funcionário do governo brasileiro com conhecimento das discussões à Bloomberg.

O foco tradicional do Brasil em seu gigantesco mercado interno continuará sendo uma barreira para as exportações, disse Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior. Os economistas esperam que o crescimento do PIB mais do que triplique no ano que vem e o aumento da demanda em casa pode desencorajar as empresas locais a buscar novas oportunidades de vendas no exterior.

"A exportação só é uma escolha quando o consumo local está em crise", disse Barral em uma entrevista. "Quando ele volta, os exportadores locais voltam a preferir o mercado interno".