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Novo remédio contra câncer demora a chegar aos pacientes nos EUA

Michelle Fay Cortez, Caroline Chen e Natasha Rausch

14/12/2017 15h12

(Bloomberg) -- Dois meses depois que o revolucionário tratamento da Gilead Sciences foi aprovado nos EUA para uma forma fatal de câncer do sangue, apenas uns poucos pacientes receberam esse tratamento caro, enquanto outros continuam nas listas de espera.

Cinco pessoas receberam o tratamento, chamado Yescarta, nos 15 hospitais oncológicos autorizados a aplicá-lo nos EUA, informaram os hospitais à Bloomberg. As listas de espera para o tratamento que custa US$ 373.000 cresceram para pelo menos 200 pessoas e só diminuíram com a morte de alguns pacientes muito doentes.

Para médicos dos centros oncológicos, a culpa é da demora para conseguir que o tratamento seja pago pelo Medicare e pelo Medicaid, os dois grandes programas de saúde do governo dos EUA, e por algumas das maiores seguradoras dos EUA.

"O maior problema está nos planos de saúde, particularmente com Medicare e Medicaid", disse Michael Bishop, diretor do programa de terapia celular no University of Chicago Medicine, um dos hospitais avançados que receberam autorização para aplicar o complicado tratamento. "Não há códigos de faturamento para isto. Para ser franco, tem sido difícil."

Essas demoras no pagamento - que podem passar meses sem serem resolvidas - obrigaram os hospitais a optar entre comprometer milhões de dólares ou pedir que pacientes à beira da morte continuem esperando, apesar da disponibilidade de uma possível cura.

Estimativas

As demoras também tornam provável que a Gilead não atinja as estimativas de vendas iniciais de Wall Street para o Yescarta. Analistas projetaram que o tratamento vai gerar US$ 9,4 milhões em 2017, o que implica que mais 20 pacientes teriam que ser tratados nas próximas duas semanas. Com base nos relatórios dos centros médicos que fazem os procedimentos de faturamento, o número parece pouco realista.

A Gilead "tem certeza de que o Yescarta será coberto pelos pagantes", disse por e-mail a porta-voz Sonia Choi. O laboratório projeta que um terço dos pacientes está no Medicare e continuará a "se envolver ativamente com o Medicare para garantir que estamos fazendo tudo o possível para facilitar o acesso".

Representantes dos Centros de Serviços Medicare e Medicaid, o órgão federal que administra os programas, não deram retorno imediato a pedidos de comentários.

O Yescarta faz parte de uma nova classe de tratamentos oncológicos chamados CAR-T, que envolvem um processo complicado que extrai células do sistema imunológico do paciente, modifica-as em fábricas da Gilead para que elas sejam capazes de atacar tumores e injetá-las novamente na pessoa.

Muitas vezes tratamentos novos enfrentam problemas com os planos de saúde, especialmente se forem tão complexos e caros quanto o Yescarta. Contudo, Sattva Neelapu, professor de linfoma e diretor de pesquisa sobre conversão do MD Anderson Cancer Center, disse que nunca viu algo assim.

"Temos que fazer um acordo específico no ato para cada paciente", disse Neelapu. "Quando tivermos atendido suficientes pacientes, vai haver um modelo e ficará mais fácil para os futuros pacientes."

--Com a colaboração de Zachary Tracer