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Brasil pode fechar janela da Ucrânia para exportação de milho

Isis Almeida, Tatiana Freitas e Volodymyr Verbyany

19/04/2018 14h11

(Bloomberg) -- A janela de oportunidade para a Ucrânia vender seu milho a um preço próximo ao mais alto em anos provavelmente não ficará aberta por muito tempo.

O preço do milho ucraniano avançou neste ano em meio à seca na Argentina, uma grande exportadora, e ao aumento da demanda chinesa. Mas a situação pode mudar em breve, considerando que alguns compradores estão recusando os preços elevados e que a nova safra do Brasil, o segundo maior exportador, começará a chegar ao mercado dentro de alguns meses, segundo a consultoria MD Commodities e a Nibulon, uma trading de commodities agrícolas ucraniana.

"A Ucrânia continuará ampliando sua participação no mercado global e, no momento, ela tem uma oportunidade de ouro", disse Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities em Chicago, em entrevista, antes de discursar na conferência Black Sea Grain, em Kiev. "As exportações brasileiras serão fortes a partir de julho, por isso a janela de oportunidade da Ucrânia é de curto prazo."

A Ucrânia, quarta maior exportadora mundial de milho, foi beneficiada pela pior seca em décadas na Argentina, que segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires ajudou a reduzir a produção em cerca de um quinto. Esse fator, combinado com a onda de compras da China, ajudou a elevar os preços das exportações ucranianas em mais de 20 por cento neste ano, para cerca de US$ 206 a tonelada, segundo a consultoria UkrAgroConsult, com sede em Kiev.

Risco de preço

Não são muitos os compradores dispostos a pagar os preços mais altos além da China e do Irã, este um país para o qual é difícil vender, disse Dmytro Furda, trader da Nibulon, em entrevista em Kiev na quarta-feira. Os importadores do Oriente Médio e do Norte da África não estão comprando nesses níveis e os preços provavelmente cairão para cerca de US$ 190 por tonelada, patamar em que a próxima safra da Ucrânia está sendo oferecida.

"A dúvida é se esses preços da Ucrânia sobreviverão por muito mais tempo", disse Furda. A escassez de compradores nos níveis atuais "pode ser um sinal de que os preços ucranianos estão um pouco inflados", disse.

As exportações de milho do Brasil podem aumentar nesta temporada, mesmo com a segunda safra menor, disse Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone em Campinas. O Brasil tentará preencher a lacuna deixada pela Argentina, disse ela, que projeta que as exportações podem exceder a expectativa atual de 30 milhões de toneladas.

A produção total do Brasil encolherá 9 por cento, para 88,6 milhões de toneladas nesta safra, devido a uma queda na área plantada e de produtividade, informou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em relatório na semana passada. Na segunda safra da temporada, conhecida como safrinha, a produção deve cair 6,5 por cento, para 63 milhões de toneladas, em meio a primeira queda no plantio em quase uma década. Ainda assim, a produção total será a segunda maior já registrada.

"Seriam necessários cortes mais profundos na produção argentina ou mais notícias negativas do Brasil para que houvesse apoio adicional aos níveis [de preço] ucranianos", disse Furda.

Os preços do Mar Negro ainda podem subir devido à seca na Argentina e pelo fato de a Rússia continuar concentrada na exportação da abundante safra de trigo, disse Mihai Andrei Anghel, responsável de comércio internacional da romena Cerealcom Dolj, em entrevista em Kiev.

A Ucrânia também apresentará concorrência às exportações brasileiras, considerando que o país do Mar Negro deverá ter um aumento na produção, disse Lodi, da FCStone. A safra deverá totalizar 26 milhões a 27 milhões de toneladas, contra cerca de 24 milhões de toneladas na temporada atual, com a produtividade voltando aos níveis normais após o país ter enfrentado problemas climáticos na temporada passada, prevê a Nibulon.