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Falta trigo para um dos maiores produtores de alimentos do mundo

Tatiana Freitas

13/06/2018 11h52

(Bloomberg) -- O Brasil é conhecido como uma das maiores potências agrícolas do mundo. Mas o país está tendo dificuldade para encontrar suprimentos de trigo e enfrenta a perspectiva de que o pão, as massas e os biscoitos fiquem mais caros.

Embora o Brasil seja um grande produtor de tudo, desde o milho até a carne bovina e o açúcar, o trigo é uma das raras culturas em que o país é um comprador líquido, dependendo de importações para cobrir cerca de metade do consumo interno. Neste ano, o Brasil está ainda mais dependente das importações por causa dos estoques baixos e após uma safra ruim em 2017. A oferta mais apertada significa que os preços no atacado subiram mais de 50 por cento neste ano em algumas regiões.

O problema é que a disponibilidade de trigo se tornou escassa na Argentina, que abastece o Brasil em cerca de 80 por cento de suas importações. Embora os produtores argentinos tenham tido uma boa colheita, eles anteciparam as vendas. Das cerca de 18 milhões de toneladas colhidas na safra passada, os produtores já venderam 13,5 milhões de toneladas. Isso deixa cerca de 4,5 milhões de toneladas ainda disponíveis, menos do que as 6 milhões de toneladas que o Sindustrigo estima que o Brasil precisará no resto do ano.

Como os compradores brasileiros estão competindo pela oferta, os custos de importação estão aumentando.

Os exportadores argentinos agora estão pedindo cerca de US$ 263,75 por tonelada para as remessas de trigo, um aumento de 52 por cento em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Commodity3. A situação fica mais dramática quando se leva em conta que o real brasileiro está em queda, o que torna as importações denominadas em dólar ainda mais caras.

Repasse de custos

"A indústria não tem outra alternativa a não ser repassar o aumento dos custos", disse Christian Saigh, presidente do Sindustrigo.

A M. Dias Branco, uma das maiores fabricantes brasileiras de massas e biscoitos, deve elevar os preços novamente neste trimestre, depois de aumentá-los 4 por cento no primeiro trimestre, de acordo com Fábio Cefaly, diretor de relações com investidores da empresa.

"Produtores de massas, pão de forma e biscoitos já vêm repassando aumento de custos nos últimos três meses, mas novos reajustes são necessários", diz Claudio Zanão, presidente da Abimapi, a associação que representa as indústrias do setor.

Mesmo assim, dado o enfraquecimento da recuperação econômica do Brasil, pode ser difícil repassar todos os aumentos dos custos, disse Saigh, do Sindustrigo. O aumento dos preços ao consumidor de massas, biscoitos e pão é inferior à inflação geral deste ano, de acordo com André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas.

Uma solução para os moinhos poderia ser recorrer a mais importações dos EUA. Embora as importações da Argentina tenham o benefício de isenções tarifárias e custos de transporte menores, os preços dispararam tanto que talvez a oferta americana agora possa ser vista como competitiva.

É provável que haja algum alívio para os preços altos antes do fim do ano porque os produtores brasileiros começam a colheita em setembro --e a expectativa é de um aumento na produção em 14%, segundo a Conab. A próxima safra da Argentina também será colhida na mesma época e alguns analistas esperam que a produção atinja um recorde.

--Com a colaboração de Jonathan Gilbert.