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Briga de Trump pode abalar apelo da Hermès?: Bloomberg Opinion

Andrea Felsted

20/07/2018 15h14

(Bloomberg) -- Será preciso continuar economizando para comprar aquela bolsa Birkin.

A demanda por esse acessório emblemático, além de sapatos e perfumes Hermès, subiu fortemente no segundo trimestre, anunciou o grupo francês de artigos de luxo.

A Hermès International divulgou um crescimento maior que o esperado das vendas no segundo trimestre e afirmou que a margem operacional do primeiro semestre ficará perto do nível recorde dos seis primeiros meses de 2017.

A exemplo do que ocorre com outras comerciantes de produtos de luxo, o impulso vem da China. Os consumidores chineses redescobriram seu amor por artigos caros de todos os tipos, das camisetas Gucci aos relógios Breguet.

Embora isso tenha sido uma bênção nos últimos dois anos, a situação gera preocupação no momento. Os consumidores chineses responderam por 32 por cento do mercado global de artigos de luxo em 2017, segundo a Bain & Co.

Se a escalada das tensões comerciais entre EUA e China afetar a confiança do consumidor ou o crescimento econômico no país asiático, os consumidores de lá podem acabar ficando menos propensos a esbanjar. O mercado de ações do país já sofreu um baque. O avanço dos valores dos imóveis, que gera grande influência no sentimento, passa a ser crucial.

A Hermès informou nesta sexta-feira que não prevê nenhum abrandamento da demanda na China e que as vendas no país continuarão crescendo mais de 10 por cento, noticiou a Bloomberg News. A empresa afirmou também que está monitorando atentamente os indicadores macro.

A empresa já demonstrou que pode ser vulnerável a uma desaceleração no país asiático -- cancelou a meta de médio prazo de 8 por cento de crescimento anual das vendas há dois anos, quando os consumidores chineses deixaram de comprar artigos de luxo em meio à campanha contra os gastos extravagantes no país e às fortes oscilações nos mercados de ações.

No entanto, a empresa tende a se sair melhor que seus pares durante tempos difíceis devido à estratégia de frustrar a demanda por suas bolsas mais desejadas. O significado disso é que as longas listas de espera, e os consumidores dispostos a comprar cachecóis ou relógios da marca no lugar das bolsas, deverão continuar.

As ações tiveram uma trajetória fantástica até o fim de maio, quando atingiram a maior alta de todos os tempos, ajudadas pelo primeiro trimestre forte e pela inclusão no índice CAC 40. Mas desde então caíram 11,5 por cento.

Ainda assim, os papéis são negociados a uma relação preço/lucro estimado de 41 vezes, mais que o dobro do múltiplo do grupo de empresas de luxo da Bloomberg Intelligence. O total também é bastante superior à média dos últimos cinco anos da empresa, de 32,6 vezes. Para que essa diferença se sustente, a Hermès será pressionada a demonstrar suas qualidades defensivas quando a desaceleração finalmente chegar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.