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Commodities superam política no Brasil: Bloomberg Opinion

Matthew Winkler

19/09/2018 16h25

(Bloomberg) -- Este deveria ser o ano de consagração do Brasil. A recessão mais profunda da história do país terminou no segundo trimestre de 2017, quando o gasto do consumidor aumentou 1,4 por cento após nove trimestres de recuo. Nos 12 meses seguintes, US$ 1,3 bilhão entraram na maior economia da América Latina por meio de fundos negociados em bolsa, colocando o país entre as dez primeiras escolhas dos investidores.

De repente, a enxurrada de dinheiro parou. Em julho, os fundos internacionais estavam indo embora mais rapidamente do que em qualquer outro lugar do mundo. O maior deles, o MSCI Brazil ETF, da BlackRock, sofreu as piores saídas desde sua criação, em 2000.

Grande parte do risco de investimento é atribuído ao vácuo na eleição presidencial de outubro. O principal favorito entre vários rivais com apoio fragmentado é Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de 2003 a 2011, quando o produto interno bruto cresceu a uma média anual de 4,1 por cento e os mercados dispararam. Mas Lula foi condenado, está preso e recentemente foi impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral de concorrer na eleição.

Mas não há com que se preocupar. Se a história serve de parâmetro para o que vem pela frente, os investidores podem respirar tranquilos, independentemente de quem chegar ao Palácio da Alvorada. Isso porque ao longo dos mandatos dos quatro presidentes desde os anos 1990, tanto o real quanto o Ibovespa, respondem mais aos altos e baixos dos valores das commodities do que aos caprichos da política e das políticas. Considerando o provável aumento dos preços de minerais como a bauxita e de produtos agrícolas como a soja, o vencedor da eleição, independentemente de quem for, estará no lugar certo e na hora certa.

Até o momento, neste século, o Ibovespa e o real têm flutuado com as oscilações do Bloomberg Commodity Index, que atingiu altas recorde em 2008 e mostra tendências de maior baixa desde 2011, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso ajuda a explicar por que o governo Lula continua sendo o melhor do Brasil em termos de geração de riqueza: o real teve uma valorização de 113 por cento em relação ao dólar e o mercado de ações produziu um retorno total 824 por cento superior ao índice de referência dos mercados emergentes, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Nenhum de seus colegas chega nem perto desse desempenho. O antecessor dele, Fernando Henrique Cardoso, teve a sorte de pegar uma alta das commodities no fim do século 20 (ele assumiu o cargo em 1995) e azar devido à crise que chegou quando ele terminava o segundo mandato, em dezembro de 2002. Como resultado, os investidores perderam 6,98 por cento nas ações contra o índice acionário de referência e 76,10 por cento em reais. Nenhum candidato foi visto tão favoravelmente pelos investidores quanto Fernando Henrique, que liderou as pesquisas durante os seis meses anteriores à eleição, quando o mercado de ações avançou 38,85 por cento em relação à referência e o real teve uma valorização de 18,75 por cento.

Dilma Rousseff, economista escolhida por Lula como sucessora, teve a infelicidade de assumir o cargo depois que os preços das commodities atingiram o pico, o que minou sua agenda política. O mercado de ações perdeu 44,75 por cento do valor em relação à referência para os mercados emergentes entre a posse dela, em janeiro de 2011, e sua remoção do cargo, em maio de 2016. O real recuou 52,33 por cento no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Depois veio Michel Temer, que foi beneficiado com seis meses de ganhos no mercado de ações e no câmbio, com a expectativa de que o impeachment de Dilma, sob a acusação de adulterar as contas do governo, resultaria na realização de reformas fiscais em seu governo. Quando ele assumiu, o Ibovespa continuou subindo com um real relativamente estável até o início deste ano, quando ficou claro que ele estava enfraquecido em um governo ainda manchado e caótico.

A correlação entre os ciclos de commodities do Brasil e os bull e bear markets não foi ignorada por alguns dos investidores mais bem-sucedidos. A Alaska Investimentos, do bilionário Luiz Alves Paes de Barros, considera a eleição de outubro praticamente irrelevante.

"Estamos em total risk-on", disse Henrique Bredda, sócio da empresa, que obteve um retorno total de 333 por cento nos últimos três anos com o fundo Alaska Black Master FIR BDR Nivel. O fundo superou os 66 por cento do Ibovespa e é número 1 entre os concorrentes desde 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Nos últimos oito anos, o Alaska Black Master tomou decisões como passar os ativos em empresas de matérias-primas de underweight em relação ao Ibovespa para overweight e as ações de consumo discricionário para overweight, entre outras. A estratégia do Alaska é a oposta de muitas administradoras de capital, que consideram esta eleição a menos favorável para os mercados em décadas.

"Não olhe para a economia para tentar prever os retornos das ações no Brasil", disse Bredda, em entrevista, em agosto, no escritório da Bloomberg em São Paulo. "É tudo ligado a commodities. E achamos que as commodities vão subir muito."

Quanto a quem vencerá a eleição, ele disse: "Não importa".

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.