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Juul queria derrubar empresas de tabaco, mas mudou de ideia

Olivia Zaleski

07/12/2018 14h26

(Bloomberg) -- Em novembro, moradores do bairro Dogpatch, em São Francisco, participaram de uma reunião sobre planejamento municipal para expressar sua aversão à Juul Labs. A empresa de 1.500 pessoas, que produz um vaporizador de nicotina, assinou contrato de sublocação de escritórios na região, uma medida que alguns moradores consideraram "inconcebível", porque a Juul foi acusada de comercializar seu popular cigarro eletrônico para menores de idade. Durante a audiência, pais e moradores preocupados disseram que não havia lugar para a Juul naquela vizinhança. Dias depois, o promotor municipal Dennis Herrera pediu que a incorporadora que subloca o imóvel pertencente à prefeitura forneça documentos que comprovem que a Juul cumpre as exigências estaduais e municipais de manuseio de materiais perigosos, como nicotina líquida e produtos químicos que podem causar câncer.

"A Juul é uma empresa de tabaco disfarçada de empresa de tecnologia", disse Christine Chessen, que tem três filhos e participou da audiência. "Estou indignada por ter uma grande empresa de tabaco em nossa cidade."

O alvoroço realça a tensão em torno da Juul, que afirma ser uma empresa de tecnologia com a missão de livrar fumantes viciados dos cigarros que queimam alcatrão. Críticos da Juul dizem que a empresa está ficando rica vendendo produtos de nicotina para jovens, da mesma forma que as empresas de cigarros fazem há décadas.

A Juul afirma que nunca pretendeu vender seu produto para adolescentes e que oferece uma alternativa mais saudável ao vício em cigarros, porque seus pods fornecem a mesma dose de nicotina que um maço de cigarros, sem os mesmos carcinogênicos da queima do alcatrão.

Agora, acontecimentos recentes complicaram esse argumento. A Juul está negociando a venda de uma participação minoritária significativa de si mesma à empresa de tabaco Altria Group, disseram três pessoas a par das negociações que pediram anonimato porque a discussão é privada. A Altria, que se desmembrou da Philip Morris International em 2008, vende marcas como Marlboro nos EUA. Porta-vozes da Juul e da Altria preferiram não comentar.

Uma parceria entre as duas empresas consolidaria o que os críticos alegam ser um vínculo de longa data: segundo eles, a Juul usou táticas praticadas pelas fabricantes de cigarros para viciar jovens.

A notícia do acordo já está causando consternação entre alguns dos funcionários da Juul, disseram duas pessoas da empresa, que pediram para não serem identificadas porque não estão autorizadas a falar publicamente. Na sexta-feira, o site Axios informou que as mensagens internas dos funcionários chamavam a aliança com a Altria de um "acordo com o diabo".

Dois dos investidores da Juul expressaram receio de que a empresa iria trair sua missão se fizer um acordo com a Altria. Os investidores, que pediram para não serem identificados por medo de represálias do conselho da Juul e de outros investidores, receiam que a Juul esteja criando agora uma nova geração de viciados em nicotina e disseram que se a empresa fizer uma parceria com a Altria, vai ficar mais difícil defender a missão da Juul. Não foi nisso que eles apostaram, disse um deles.