Forte alta da Selic ameaça ciclo positivo de 25 meses para o varejo

O bom momento do comércio varejista no Brasil vê a aproximação de tempos sombrios diante das altas recentes da taxa Selic e as projeções de manutenção dos juros básicos em patamar elevado por mais tempo.

O que aconteceu

Dados do IBGE mostram sequência positiva do setor. Segundo a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), as vendas do varejo cresceram 4,4% no acumulado dos 12 meses encerrados em outubro. O resultado positivo, que corresponde ao 25º mês seguido de altas na comparação, pode estar com os dias contados diante da evolução da taxa Selic.

Taxas de juros elevadas comprometem o comércio. O instrumento de política monetária para conter a alta da inflação tem potencial para segurar o consumo e afetar o desempenho do segmento. "Setores como varejo e construção civil sentirão o peso de uma menor atividade", afirma Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

BC sinaliza para taxa Selic em 14,25% ao ano em março. A projeção foi sinalizada nesta quarta-feira (11) pelo Copom (Comitê de Política Monetária). No comunicado emitido para justificar a alta de 1 ponto percentual dos juros, para 12,25% ao ano, os diretores do BC preveem "ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões".

A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.
Comunicado do Copom

Últimos meses de 2024 tendem a ter efeito limitado dos juros. O professor Ulysses Reis, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), avalia que os dados do varejo ainda serão positivos em novembro e dezembro, com impacto positivo da Black Friday e o Natal. "Os varejistas adquiriram seus estoques em outubro com outros índices de preço. As previsões eram boas e eles se prepararam", afirma.

Agentes do setor pedem taxa Selic abaixo de dois dígitos. "A taxa de juros a 12,25% ao ano é algo que não podemos concordar", afirma o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), em nota. "É necessário um alinhamento dos agentes econômicos do país para que o mais breve possível a taxa de juros caia abaixo de dois dígitos e a economia não retroceda na sua dinâmica atual", reforça a entidade.

Perda de fôlego deve ser sentida a partir de janeiro de 2025. Reis observa que o cenário adverso será ocasionado pela necessidade de repor as mercadorias com juros mais altos. "Para renovar os estoques, a partir de janeiro, os varejistas vão comprar dos fornecedores já com a projeção de juros a 12,5% [ao ano] e, de acordo com o repasse do sistema, até 14% [ao ano], porque as visões do mercado produtor são baseadas no futuro, não no presente", afirma.

Varejo ampliado vai puxar a fila das atividades prejudicadas. Segundo Reis, o efeito negativo dos juros será iniciado pelo segmento do comércio que inclui veículos, imóveis e vendas no atacado. "O varejo ampliado vai se projetar por muitos e muitos meses à frente. O varejo tradicional pode ter o efeito iniciado a partir da linha branca, em itens como geladeira e ar-condicionado, no fim de janeiro. Mas ainda tem estoque e o efeito começa a se fortalecer em fevereiro", diz.

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Setores de importados são mais sensíveis às altas da Selic. Os produtos que dependem de insumos importados sofrem mais com o avanço dos juros, como smartphones e televisores. "Existe o custo da importação e a questão de que não são bens comprados à vista", explica Reis. Ele também observa maior dificuldade para os vendedores no comércio eletrônico, mais dependente de preços mais baixos. "Eles vivem com a corda no pescoço e são afetados por qualquer alteração."

Ações das varejistas na Bolsa refletem pessimismo. Têm forte queda no pregão desta quinta-feira (12), um dia após a alta da Selic. As perdas relevantes no início da tarde afetam os papéis de Atacadão (-10,81%) Magazine Luiza (-8,9%), Grupo Casas Bahia (-5,26%) e Petz (-6,88%).

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