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Google pediu retirada de proteção trabalhista a governo dos EUA

Josh Eidelson, Hassan Kanu e Mark Bergen

24/01/2019 11h39

(Bloomberg) -- Os funcionários do Google atraíram as atenções do mundo todo nos últimos meses, com protestos contra as políticas do local de trabalho. Agora, a empresa está discretamente pressionando o governo americano a diminuir as proteções legais para trabalhadores que se organizam online.

Durante a presidência de Barack Obama, o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas ampliou os direitos dos empregados de usar o sistema de email da própria empresa para mobilização em assuntos trabalhistas. Em um caso que ocorreu em 2014, envolvendo a Purple Communications, o conselho restringiu o poder das empresas de punir funcionários por usarem o email corporativo para circular petições, convocar paralisações ou formar sindicatos.

No entanto, documentos obtidos usando a Lei de Liberdade de Informação mostram que a controladora do Google, Alphabet, pediu para o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas reverter o precedente, em solicitações apresentadas em maio de 2017 e novembro de 2018.

Os advogados do Google citaram objeções de pessoas indicadas pelo Partido Republicano e escreveram que a regra de 2014 "deve ser rejeitada" e que o precedente da época do presidente George W. Bush ? permitindo que as empresas proíbam mobilização trabalhista pelo sistema interno de email ? deve entrar em vigor novamente.

Em comunicado enviado por email, uma porta-voz do Google declarou: "Não estamos fazendo lobby por mudanças em quaisquer regras". Em vez disso, o argumento de que as proteções da era Obama precisam ser derrubadas foi uma "defesa jurídica que incluímos entre diversas possíveis defesas" contra as queixas sem mérito ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas.

O deferimento do pedido do Google "seria um enorme balde de água fria", disse o funcionário e ativista Colin McMillen, que esteve entre dezenas de milhares de empregados que participaram de uma paralisação em novembro após revelações sobre como a companhia lidou com acusações de assédio sexual. Segundo o ativista, o sistema de email do Google teve papel fundamental na organização do protesto porque mais de mil funcionários aderiram a uma lista usada para planejar o evento. E como os empregados estão espalhados pelo mundo e raramente têm o email pessoal dos colegas, o sistema de email da companhia é fundamental para a capacidade de mobilização. McMillen ainda trabalha no escritório em Cambridge, no Estado de Massachusetts, mas informou que pediu demissão e que seu último dia será em fevereiro.

"Isso demonstra que a liderança do Google não está operando de boa fé", disse McMillen. "Eles podem convocar uma grande reunião e falar palavras apaziguadoras para as pessoas não terem vontade de pedir as contas, mas, se nos bastidores, eles não estiverem atendendo à maior parte das demandas do protesto e até tentando reprimir nossa capacidade de coordenação e de conversar uns com os outros sobre esses assuntos, isso seria extremamente preocupante."

O Google é notório por estimular o feedback dos funcionários, permitindo debates e fóruns online nos quais os trabalhadores exigiram mudanças em produtos e instalações ao longo dos 20 anos de história da empresa. No entanto, no último ano, surgiu um esforço concentrado sem precedentes, no qual os funcionários se colocaram em oposição direta à direção. Após o Google receber um contrato do Pentágono para usar inteligência artificial em análises de imagens captadas por drones, milhares de funcionários assinaram uma petição pedindo que o Google se retirasse do "negócio da guerra". Nove engenheiros de software se recusaram a trabalhar em um recurso que poderia ajudar a empresa a receber mais contratos militares. Em junho, a companhia anunciou que não renovaria o acordo com o Departamento de Defesa dos EUA. Em outra esfera, um funcionário introduziu uma resolução de acionistas para vincular a remuneração dos executivos a parâmetros de inclusão e diversidade. Outros enviaram uma carta ao presidente da companhia criticando o tratamento dado a trabalhadores terceirizados, argumentando que se tratava de "parte de um sistema de racismo, sexismo e discriminação institucional."

Em 1º de novembro, milhares de funcionários pararam de trabalhar no meio do dia, pedindo mudanças na governança e na forma como a empresa lida com assédio sexual. Uma semana depois, o presidente Sundar Pichai anunciou o fim da arbitragem forçada em acusações de assédio e violência sexual, entre outras medidas. "Mesmo em tempos difíceis, somos incentivados pelo compromisso dos nossos colegas de criar um local de trabalho melhor", escreveu Pichai em email aos funcionários.

Três semanas depois, sem alarde e em um caso não relacionado ao protesto, os advogados do Google entraram com o mais recente pedido ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas, solicitando a reversão do precedente de 2014 que protege a capacidade de organização dos funcionários.

"Se essas proteções foram revertidas, o Google será cúmplice em limitar os direitos dos trabalhadores nos EUA como um todo, não só os nossos", escreveram organizadores do protesto, pedindo anonimato por medo de retaliação.

"O Google é um dos locais de trabalho mais abertos do mundo", afirmou a porta-voz. "Os funcionários têm múltiplos fóruns internos para expressar suas opiniões, apresentar preocupações e se conectar, incluindo milhares de comunidades internas e dezenas de milhares de grupos de email."