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A decisão da década na Boeing: construir ou não o 797

Julie Johnsson

30/01/2019 13h12

(Bloomberg) -- Os executivos da Boeing estão perto de tomar uma das decisões mais importantes da década: investir ou não cerca de US$ 15 bilhões em uma nova família de jatos.

A aeronave, chamada de 797, apresentaria o primeiro design totalmente novo da Boeing desde a revelação do 787 Dreamliner, em 2004, e ao mesmo tempo reforça sua linha de produtos contra os recentes avanços da Airbus. Guillaume Faury, que está prestes a assumir o comando da fabricante de aviões europeia, afirma que está esperando a Boeing mostrar suas cartas para revelar como responderá. Com isso, é provável que haja uma exibição do plano no Salão Aéreo de Paris, em junho.

Projetado para voar de forma econômica em rotas de médio alcance, o jato da Boeing teria o potencial de transformar as viagens aéreas criando uma nova geração de empresas aéreas de baixo custo com trajetos mais longos -- pense em novos voos de Chicago a Berlim ou em viagens mais econômicas de Nova York a Los Angeles. Mas não é fácil decidir se avançar ou não. Um passo em falso canibalizaria as vendas do 787 Dreamliner e colocaria em risco a geração de caixa que fez a Boeing cair nas graças de Wall Street.

"Todos os outros jatos da Boeing foram sucesso garantido, mesmo que isso não tenha ficado claro na época", disse o analista aeroespacial Richard Aboulafia. "Desta vez é diferente. Eles precisam tomar cuidado."

O conselho da Boeing deverá analisar o argumento para o novo programa até o fim de março, segundo pessoas informadas sobre o assunto. Por enquanto, a equipe que supervisiona o conceito, liderada pelo ex-diretor do programa 787 Mark Jenks, tem se reunido mensalmente com o CEO, Dennis Muilenburg, e com o diretor financeiro, Greg Smith.

A equipe de vendas vem ajustando o design com as empresas aéreas há pelo menos cinco anos, criando um drama em relação à decisão de fabricar o avião, conhecido internamente na Boeing como NMA, sigla em inglês de "novo avião de médio porte".

Nos casos da Boeing e da Airbus, o compromisso com uma aeronave totalmente nova é um evento que acontece uma vez por década. Os custos são proibitivos, os atrasos são a norma e a recompensa pode levar anos para chegar. A Boeing pode facilmente investir mais de US$ 15 bilhões no NMA, segundo Ken Herbert, analista da Canaccord Genuity, e a Airbus pode ser forçada a criar um projeto inédito se as vendas decolarem.

O empreendedor do setor aéreo David Neeleman ressalta as possíveis recompensas e riscos para a Boeing. O NMA parece feito sob medida para as redes que ele está entrelaçando entre as Américas e a Europa com voos acessíveis, mas confortáveis, que evitam hubs congestionados.

"Eu recebi informações da Boeing e achei ótimo", disse Neeleman, em visita recente a Chicago para divulgar a empresa aérea portuguesa TAP, um de seus ativos. A declaração é notável porque vem de um executivo que na maioria das vezes deu preferência aos jatos da Airbus em startups como a JetBlue Airways, a brasileira Azul e a Moxy, codinome de seu projeto mais recente para os EUA.

Infelizmente para a Boeing, Neeleman também está impaciente para que a Airbus acelere a oferta de uma alternativa mais barata. "Eles deveriam ter uma vantagem inicial muito maior", disse a respeito da gigante aeroespacial com sede em Toulouse, na França.