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Tempos difíceis da Turquia podem ajudar sua exportação de vinhos

Ross Urken

01/02/2019 16h38

(Bloomberg) -- Como diz a Bíblia, Noé foi pioneiro na produção de vinho quando sua arca parou no Monte Ararat, no extremo leste da atual Turquia. Quando o dilúvio acabou, ele plantou um vinhedo.

Apesar da rica história enológica da região, a captura de Constantinopla por Maomé II em 1453 criou um país avesso ao álcool, mas alguns cristãos ortodoxos conseguiram manter a vinha viva. Após a Primeira Guerra Mundial, Mustafa Kemal Atatürk criou um país secular e decidiu incentivar a viticultura abrindo a primeira vinícola comercial do país. Na década de 1930, ele até promoveu uma campanha de viticultura.

Hoje, a Turquia tem a quinta maior área de plantação de vinhedos do mundo, com uma terra propícia a deliciosos varietais. O país também ocupa o sexto lugar mundial na produção de uva. Mas sua indústria vinícola está no 45° lugar, à frente apenas da Bielorrússia, de Cuba e da Índia, de acordo com o Wine Institute.

Nos últimos anos, as coisas pioraram para os viticultores turcos. O presidente Recep Tayyip Erdogan impôs restrições severas ao marketing doméstico de bebidas alcoólicas e disse em 2013 que a "juventude de uma nação deveria ser protegida dos maus hábitos" e não deveria estar "vagando em um estado de alegria dia e noite". Impostos mais altos, instabilidade local e a guerra na Síria conspiraram para diminuir o turismo estrangeiro, uma grande fonte de vendas de vinho.

Mas um vilão-chave na história do infortúnio da Turquia, a lira, pode se tornar um amigo para a indústria de vinho em dificuldades. Alguns especialistas em vinhos afirmam que a queda de quase 40 por cento da moeda em relação ao dólar dos EUA nos últimos 12 meses finalmente tornou a exportação de vinho turco uma opção viável.

Nomes desconhecidos

Atualmente, as exportações totais de vinho da Turquia são modestas -- cerca de US$ 10 milhões por ano (em comparação com US$ 10 bilhões da França). Antigamente, era difícil vender seus vinhos, com nomes que totalmente desconhecidos, no exterior. A Wines of Turkey, organização focada no desenvolvimento de mercados para exportação de vinhos, está trabalhando para mudar isso. Em particular, o grupo procura popularizar a Kalecik karas?, uma uva vermelha frutada, de corpo médio, semelhante à pinot noir, cultivada principalmente na região de Ancara; o okuzgozu (que significa "mosca"), feito a partir das suculentas uvas pretas cultivadas principalmente em Elaz??; e o bogazkere (que significa "queimador de garganta" em turco), um tinto escuro de Diarbaquir.

"Isso basicamente abre um novo capítulo para muitos produtores se concentrarem nos mercados de exportação -- para conseguir compensar suas perdas", disse Turgut Tokgöz, diretor da Oenotrian Wine Advisory em Istambul.

Enquanto os produtores de vinho turcos tentam aumentar sua presença global, a Turkish Airlines, que voa para 120 países, está fazendo sua parte para espalhar a notícia. A empresa serve uma variedade de vinhos turcos -- como o narince branco da Kavaklidere, uma vinícola que usa uvas da Capadócia -- e seu programa "Flying Chefs", para passageiros de classe executiva, ajuda a conhecer e a harmonizar e vinhos.

A qualidade do vinho turco pode variar muito, mas Lewis Perdue, editor do popular boletim Wine Industry Insight, disse que os melhores varietais estão melhorando.

"Eu já tomei vários vinhos turcos que, no meu paladar, se parecem com vinhos do Rhône de alta qualidade", disse ele.