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Sem acordo de Brexit, costeleta de cordeiro deve entrar no menu

Áine Quinn e Megan Durisin

15/02/2019 13h09

(Bloomberg) -- Para as ovelhas da fazenda de Alan Hutton, nos arredores de Basingstoke, o resultado do Brexit é questão de vida ou morte.

Hutton, que cultiva 405 hectares em colinas cobertas de grama no sul da Inglaterra, é especialista em criar ovelhas para que outros criadores se encarreguem da reprodução. Assim como muitos fazendeiros e donos de negócios, ele enfrenta o risco de o Reino Unido sair da União Europeia sem fechar nenhum acordo comercial, o que poderia provocar um caos para seu meio de subsistência.

Hutton afirma que, se não houver acordo, mandará cerca de metade do rebanho de 150 animais ao mercado de carnes. Ele já vendeu parte de sua safra de grãos futura para garantir o preço e armazenou o equivalente a um ano de fertilizante e pesticida.

"Nós vendíamos os animais de cara branca para o mercado de carne porque não haveria demanda para que fossem vendidos como mães para o ano que vem", disse ele, em entrevista em sua fazenda, apontando para ovelhas que ruminavam em um campo de nabos. "O setor de ovinos provavelmente terá uma forte contração."

As ovelhas fazem parte da paisagem tempestuosa do Reino Unido desde tempos antigos. A indústria de lã prosperava na época da invasão dos romanos, em 55 a.C., e os cordeiros ainda são item básico na alimentação dos britânicos, seja em um tradicional churrasco de domingo ou nas costeletas de cordeiro servidas com molho de hortelã. Mas, talvez mais do que qualquer outro tipo de produção de fazenda, as ovelhas podem ser as mais atingidas por um Brexit sem acordo.

Os produtores do Reino Unido exportam cerca de um terço dos cordeiros que produzem, e quase a totalidade vai para a UE, especialmente para França e Alemanha. Sem acordo comercial, esses compradores importantes rapidamente se voltariam para outros lugares porque as tarifas aumentariam os custos em até 48 por cento, segundo um estudo do Conselho de Desenvolvimento de Agricultura e Horticultura (AHDB, na sigla em inglês).

Como consequência, o Reino Unido acabaria com um excesso de carne, o que derrubaria os preços ainda mais. A AHDB estimou que os preços cairiam 30 por cento até 2025.

Ainda assim, faltando seis semanas para a data de saída, 29 de março, ninguém sabe o que pode acontecer. Alguns produtores podem ter dificuldade para continuar operando sem apoio do governo, disse Dylan Bradley, analista sênior da Informa Agribusiness Intelligence em Londres. O Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido está trabalhando com os criadores de ovelhas para ajudá-los a se ajustar e a manter a continuidade do comércio, segundo um porta-voz.

Com o tempo, os produtores também poderiam encontrar novos destinos de exportação, como a China, onde a carne de carneiro é popular em hot pots, uma espécie de fondue da culinária chinesa, segundo Blake Holgate, analista de proteína animal do Rabobank na Nova Zelândia.

Para alguns criadores de ovelhas britânicos, especialmente os das colinas do País de Gales, há poucas alternativas. Diferentemente dos produtores dedicados ao plantio em fileiras, que podem mudar a composição da área de cultivo a cada ano, muitas ovelhas são criadas em solos pobres. Mais da metade das terras agrícolas do Reino Unido é adequada apenas para pastagem de gado e ovelhas, segundo a Associação Nacional de Ovinos do Reino Unido.