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Banqueiros ingleses fazem espumante e tiram espaço de Champagne

Thomas Buckley e Eric Pfanner

17/12/2019 16h57

(Bloomberg) -- Nicholas Coates não tem saudade da viagem até o trabalho. Nos últimos anos de sua carreira em bancos de investimento (interrompida aos 47 anos após passagens pelo Royal Bank of Scotland e pelo ING Barings), ele pegava o trem das 5:41 para Londres e só voltava para sua mansão no interior de Hampshire por volta das 22:30.

Hoje aos 60 anos, Coates precisa apenas atravessar o roseiral que separa sua casa da bucólica sede da Coates & Seely, fabricante de espumante inglês que ele cofundou para enfrentar o Champanhe.

É uma carreira que atrai cada vez mais profissionais de finanças. Banqueiros, gestores de fundos de hedge e advogados corporativos estão abandonando o setor financeiro de Londres em favor das vinhas. Eles estão comprando terras em Kent, Sussex e Hampshire e plantando parreiras onde antes crescia trigo ou o gado pastava.

A transformação de geradores de fortunas em produtores de vinho é bastante repetida. Historicamente, os financistas fugiam para os castelos de Bordeaux, as colinas da Toscana ou o ensolarado Vale de Napa.

Quando Coates começou a conversar com amigos e familiares em 2007 sobre sua ambição de desafiar Champagne a partir de seu próprio quintal, não houve muito entusiasmo. O pai dele comparou a ideia a montar carros na Coreia do Norte ou enfrentar a Rolls-Royce.

Desde então, os vinhos ingleses deixaram de ser novidade ou piada e são considerados candidatos sérios. Em 2019, o espumante Coates & Seely 2009 La Perfide derrotou rivais franceses e levou um troféu na Competição Internacional de Vinhos e Destilados de Londres, também conhecida como o Oscar do Álcool.

"Eu não gostaria que as pessoas pensassem que é fácil porque é um trabalho absurdamente difícil", diz Coates em sua sala de estar, onde as paredes são decoradas com retratos de antepassados carrancudos vestindo perucas. "Muito do nosso sangue, suor e lágrimas foi para isto."

Outros profissionais de finanças partiram para a vida de vinhateiro inglês:

Mark Driver deixou a Horseman Capital Management para abrir a Rathfinny Wine Estate; Eric Heerema, advogado e gestor de recursos, adquiriu a Nyetimber; e Ian Kellett comprou a Hambledon Vineyard depois de uma carreira na Dresdner Kleinwort Benson. Já o bilionário Michael Spencer, fundador da NEX Group, tem participação na vinícola Chapel Down.

O verão excepcionalmente quente de 2018 incentivou mais gente a entrar no ramo. Apesar de tantos perigos, o aquecimento global permite amadurecer uvas regularmente em latitudes antes consideradas marginais para esse cultivo. A produção total de vinho na Inglaterra e no País de Gales cresceu de 5 milhões de garrafas em 2015 para 13,2 milhões em 2018, segundo a associação Wine GB. A área plantada com videiras aumentou 83% desde 2015 para mais de 3.500 hectares.

Os produtores se concentraram no vinho espumante porque o solo calcário das regiões de plantio inglesas é semelhante ao de Champagne. As empresas francesas reagiram. No ano passado, a Vranken-Pommery Monopole lançou a versão brut Louis Pommery England em parceria com a Hattingley Valley, em Hampshire, plantando videiras em aproximadamente 40 hectares. A colheita deve começar em 2021.

A famosa Taittinger se juntou à distribuidora britânica Hatch Mansfield para criar a Domaine Evremond, em Kent. O projeto, que inicialmente incluía 20 hectares de parreiras, se expandirá para mais de 40 hectares após uma segunda rodada de plantio no ano que vem, de acordo com o diretor-gerente da sócia britânica, Patrick McGrath.

Para marcas como Vranken-Pommery e Taittinger, produzir na Inglaterra é uma maneira de fazer hedge e proteger um mercado importante independentemente do que acontecer com o Brexit. O Reino Unido é o principal destino das exportações de Champagne, com 27 milhões de garrafas enviadas em 2018, de acordo com a organização comercial Comité Champagne.