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Bolsas da Argentina avaliam fusão em meio à queda de volume

Ignacio Olivera Doll e Scott Squires

28/02/2020 12h21

(Bloomberg) -- As bolsas da Argentina estão nos estágios iniciais para uma fusão em meio à crise econômica do país que encolhe o volume de negócios em um mercado fragmentado.

A Bolsa y Mercados Argentinos, a maior plataforma de negociação do país, lidera a iniciativa de combinar forças com suas três rivais mais próximas, Matba-Rofex, Mercado Abierto Electrónico e Mercado Argentino de Valores. As conversas sobre o trabalho conjunto foram iniciadas para garantir a sobrevivência, disse Ernesto Allaria, presidente da BYMA, em entrevista.

O passo sinaliza uma drástica mudança nas relações entre as quatro operadoras, que têm sido fortes concorrentes para dominar diferentes segmentos do mercado de capitais argentino. Mas a ideia de fazer isso sozinhas pode parecer menos sustentável depois que o colapso da moeda argentina, a grave recessão e os controles de capital reduziram o volume. A negociações de títulos de dívida caíram em mais de 80% nos últimos dois anos, para apenas US$ 500 milhões por dia.

"O mercado argentino é muito pequeno, e não vale a pena ter quatro bolsas no país", afirmou Allaria. "Você precisa tentar integrar ou fazer alguns negócios juntos."

A BYMA, que tem capital aberto e registrou receita de 5,2 bilhões de pesos (US$ 84 milhões) em 2019, é a principal bolsa de valores do país. O MAE é o maior mercado de câmbio. O Matba-Rofex negocia principalmente contratos futuros e o MAV é especializado em instrumentos financeiros utilizados por pequenas e médias empresas, como notas promissórias e recebíveis.

Representantes do Matba-Rofex e MAV confirmaram as negociações. O MAE reconheceu que estava em discussões com outras bolsas, mas o presidente Fernando Negri enfatizou que o foco era a cooperação, não uma fusão.

A ideia de combinar esforços se torna mais atraente depois de a Argentina ter sofrido a pior fuga de capitais em 16 anos entre 2018 e 2019. O governo implementou controles rígidos de capital em outubro passado para conter a sangria, mas a medida não ajudou muito para aumentar o volume, pois investidores parecem estar ganhando tempo antes de poder retirar o dinheiro do país.

O volume de negociação de títulos caiu para uma média diária de US$ 514 milhões em fevereiro no MAE em relação aos US$ 1,3 bilhão em julho de 2019 e US$ 4 bilhões em julho de 2018. A negociação de moedas no MAE despencou 75% em relação a julho de 2019 em dólares, e as transações com ações na BYMA caíram mais da metade nesse período.

Allaria diz que a desaceleração deixou claro que as operadoras de câmbio precisam cortar custos para sobreviver à crise e estar posicionadas para o crescimento quando a demanda retornar.

"Houve boas discussões para recuperar a confiança e desenvolver novos produtos juntos", disse Allaria. "O mais eficiente seria ter apenas uma bolsa e não, por exemplo, os três mercados futuros que temos hoje."

Já existe alguma cooperação em andamento. A BYMA possui uma participação de 4% no Matba-Rofex e procura adicionar membros ao conselho da empresa e, futuramente, adquirir uma fatia majoritária. A BYMA possui participação de 20% no MAV, e o MAV possui cerca de 2% da BYMA.

Uma etapa preliminar antes de uma fusão poderia incluir a união de data centers e a criação de um único agente de liquidação, acrescentou Allaria.

"Deveríamos ser um", disse. "Não é uma questão de colonização, mas sim de sinergia."

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Ignacio Olivera Doll Buenos Aires, ioliveradoll@bloomberg.net;Scott Squires Buenos Aires, ssquires4@bloomberg.net