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Corte coordenado de juros poderia ter criado pânico, diz Trichet

Piotr Skolimowski

05/03/2020 10h45

(Bloomberg) -- Um corte coordenado das taxas de juros nesta semana poderia ter induzido pânico e não seria justificado, disse o ex-presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet.

O francês, que estava no comando da instituição da zona do euro durante a crise financeira de 2008 e participou do corte conjunto com o Federal Reserve dos EUA após o colapso do Lehman Brothers, sugeriu em entrevista à Bloomberg Television que não se pode comparar aquele episódio com o surto de coronavírus.

"Eu participei de uma ação coordenada", disse Trichet na quinta-feira. "Na época, o drama evoluía de uma maneira muito pior. A ideia de que tínhamos uma necessidade absoluta de coordenar ações no nível dos maiores bancos centrais era algo muito natural."

O Federal Reserve cortou a taxa de juros em meio ponto percentual na terça-feira, tendo agido sozinho depois que autoridades do G-7 divulgaram comunicado conjunto que não chegou a prometer uma ação coordenada. O estímulo monetário conjunto teria sido uma reação exagerada, disse Trichet.

"Não tenho certeza se seria realmente mais apropriado", disse. "Também poderia ter tido impacto de pânico ou transmitido uma mensagem de demasiado pânico."

O BCE se reúne na próxima quinta-feira, e os mercados precificam corte de 10 pontos-base, o que empurraria os juros em território ainda mais negativo. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que a instituição está pronta para tomar medidas apropriadas e direcionadas.

Segundo Trichet, o que inicialmente parecia um choque de oferta que poderia levar a uma recuperação em V agora também é acompanhado por um impacto na demanda. É por isso que autoridades fiscais devem intervir com mais resolução, afirmou.

Na zona do euro, garantir que a liquidez esteja disponível para todos é mais importante que o nível dos juros, disse Trichet, acrescentando que não tem recomendações sobre o que o BCE deve fazer.

"O Conselho do BCE tomou decisões extremamente sábias desde a crise, por isso tenho total confiança de que farão o que for apropriado no caso", afirmou Trichet. "Mas está claro que a disponibilidade de crédito será algo essencial em toda zona do euro, qualquer que seja o nível das taxas de juros."

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net