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Setor vinícola brasileiro tenta "encorpar" vendas dentro e fora do país

Por Stenio Andrade

21/02/2012 10h37

Bento Gonçalves, 21 fev (EFE).- As perspectivas otimistas para a safra de vinho nacional deste ano, o entendimento do governo sobre a necessidade de ajudar o setor e os constantes esforços para promover a identidade da bebida produzida no país refletem o momento emergente da vitivinicultura brasileira, que busca cada vez mais espaço nos mercados consumidores interno e externo.

Enquanto os agricultores colhem as uvas de "uma safra histórica", segundo a opinião comum de vinicultores da Serra Gaúcha, a presidente Dilma Rousseff expressa seu apoio ao setor nacional com o recente anúncio de medidas de proteção para conter as crescentes importações de vinho. Entidades privadas, por sua vez, exploram o potencial de consumo do produto nacional tanto dentro como fora do país.

No plano interno, a dificuldade dos produtores brasileiros em ganhar mercado no setor é a forte competitividade dos vinhos importados, destaca Júlio Fante, membro da diretoria da Associação Gaúcha de Vinicultores e ex-presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

Na visão do empresário, a vitivinicultura nacional é prejudicada pelo que ele chama de "práticas comerciais abusivas" por parte dos vinhos estrangeiros, que conquistam cada vez mais o consumidor brasileiro: as importações de vinho no Brasil cresceram 3% em 2011, um ano após registrarem alta atípica de 27%, segundo dados do Ibravin. Desde 2004, a entrada de importados no país praticamente dobrou, com alta de 98,7%.

A presidente Dilma Rousseff, em visita à tradicional Festa da Uva de Caxias do Sul (RS) na última quinta-feira, prometeu defender o vinho brasileiro contra "práticas comerciais predatórias" e anunciou o uso de salvaguardas - medidas temporárias previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) para proteger um determinado setor econômico do aumento das importações.

Empresários do agronegócio da uva comemoraram o anúncio de Dilma, mas consideram a medida ainda insuficiente. "Não somos contra o (vinho) importado", ressalta Fante. Para ele, no entanto, o setor vitivinícola brasileiro necessita de melhores condições tributárias em relação aos rótulos que vêm de fora - sobretudo ante os argentinos e chilenos, principais importados no Brasil.

O consumidor ainda procura muito vinho importado, mas também vem despertando interesse pelo produto nacional. De acordo com um levantamento do Ibravin, a comercialização de vinhos elaborados no Rio Grande do Sul - estado responsável por cerca de 90% da produção brasileira - registrou crescimento de 7% em 2011 no país.

Pablo Perini, gerente de marketing da vinícola gaúcha Perini, avalia esse crescimento como uma tendência de mercado no Brasil. Segundo ele, o consumidor nacional passou a se interessar mais por vinhos, sobretudo os finos e espumantes, análise compartilhada por Júlio César Kunz, executivo da Dunamis Vinhos e Vinhedos.

A relativa popularização do vinho brasileiro chegou inclusive a ser o samba-enredo de uma das escolas de samba mais tradicionais de Porto Alegre, a Estado Maior da Restinga. "Da Mitologia à realidade, a Tinga de Taça na Mão! Vinhos do Brasil, sinônimo de qualidade, saúde, prazer e prosperidade", diz o tema da escola para o Carnaval 2012, escrito pelos compositores Wander Pires e André Diniz.

A bebida nacional também vem ganhando mercado nas gôndolas, empórios e restaurantes do exterior. As exportações de rótulos brasileiros chegaram a US$ 3,06 milhões em 2011, o que representa um incremento de 33,6% na comparação com 2010 (US$ 2,29 milhões), de acordo com dados do Ibravin.

"Foi uma grande vitória e um importante avanço nas vendas de vinhos brasileiros", salienta Andreia Milan, gerente de Promoção Comercial do projeto Wines of Brasil - uma parceria entre o Ibravin e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Ela justifica o aumento como consequência dos trabalhos de promoção da imagem do vinho brasileiro no exterior, sobretudo em feiras e eventos da área. "Nosso objetivo é conseguir posicionar nossos vinhos nos melhores pontos de venda", destaca Andreia, que menciona oito mercados-alvo prioritários: Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Holanda, Suécia, Polônia e Hong Kong.

Atualmente, entre 3% e 5% da produção nacional de vinho segue ao mercado externo, mas a meta do Wines of Brasil é elevar esse índice para 20% em 2025. Para isso, muitas vinícolas brasileiras projetam maiores investimentos em comércio exterior, como é o caso da Aurora, que pretende ganhar terreno no mercado americano, e da Casa Valduga, que já para 2013 espera elevar as exportações dos atuais 8% a 20% do próprio volume produzido.

A safra de 2012 pode contribuir para essas ambições, pois tanto enólogos quanto engenheiros agrônomos concordam que a qualidade da uva em fase de colheita no Rio Grande do Sul será excelente, devido ao tempo seco na região. "Não tenho dúvidas de que esta será a melhor safra da vitivinicultura brasileira", afirma o enólogo Ademir Brandelli, proprietário da vinícola Don Laurindo.

No entanto, ainda há grandes desafios para o aumento das exportações de vinhos brasileiros: competitividade dos vinhos internacionais, valorização do real frente ao dólar, queda do consumo em vários dos mercados tradicionais em decorrência da crise econômica mundial e o próprio aumento do mercado consumidor interno.