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Suíça abre caminho para "Vale do Silício" de blockchain e criptografia

14/08/2017 06h50

Céline Aemisegger.

Genebra, 14 ago (EFE).- No cantão de Zug, um dos menores da Suíça, está o "Crypto Valley", um local no estilo do Vale do Silício dos Estados Unidos para empresas emergentes que operam e inovam no mundo das tecnologias de blockchain e criptografia.

Conceito conhecido em 2008 com a invenção da moeda digital bitcoin, blockchain é um registro das transações digitais que transfere e armazena dados de maneira segura, anônima e permanente, rompendo com a cadeia de intermediários.

Situado no centro da Suíça, não foi por acaso que Zug tenha sido escolhido para criar o "ecossistema líder em tecnologia blockchain e criptográfica do mundo". A propaganda anterior do local é feita pela Associação Crypto Valley, de promoção da região.

Zug é conhecido pelos baixos impostos que atraíram empresas, bilionários e atletas. O escritório de promoção econômica é uma das principais ferramentas de atração de novos investidores para região, que também conta com o entusiasmo das autoridades locais.

No ano passado, a cidade de Zug se tornou a primeira do mundo a aceitar bitcoins como meio de pagamento de alguns serviços públicos. Em setembro, o governo local quer oferecer aos habitantes a possibilidade de pedir uma "identidade eletrônica", baseada, evidentemente, na tecnologia blockchain.

O prefeito de Zug, Dolfi Müller, disse à Agência Efe que está "fascinado" pela tecnologia e defende a importância de não fechar os olhos para esse tipo de inovação em um mundo que avança em passos largos. A Suíça, diz o político, é o país da democracia direta e da descentralização dos poderes, o "espírito que os fundadores do Crypto Valley buscavam".

O sul-africano Johann Gevers desenvolveu sua visão de um "hub" criptofinanceiro em 2013, tomando como exemplo o Vale do Silício, e identificou Zug como o lugar ideal para isso.

Quando fundou a Monetas em 2012, ele queria criar uma plataforma descentralizada de transações e avaliou que o problema do mundo financeiro era estar "muito concentrado e centralizado".

Na Suíça, Gevers achou o que buscava: o sistema político mais descentralizado do mundo. Em 2013, foi criada a Bitcoin Suíça em Zug. O sul-africano mudou sua empresa do Canadá para a região, onde também se instalou a Ethereum, uma plataforma que usa blockchain para fazer "contratos inteligentes" que são cumpridos de forma automática assim que os termos entre as partes forem acertados.

Em 2014, Zug deu um sinal de apoio ao "Crypto Valley" quando declarou livre de impostos a primeira venda aberta de "token ether", a moeda da Ethereum. Os tokens são valores ou ativos transferíveis que podem ser trocados por bens e serviços futuros.

Outras companhias foram atraídas para a região: Tezos, Xapo, ShapeShift, Akasha, Blockchain Source, SweePay e ConsenSys se instalaram em Zug, que hoje já tem mais de 20 empresas.

O "Crypto Valley" ainda não tem o renome e o alcance de seu "irmão" americano, mas isso não inquieta seus pensadores.

"Ainda estamos na infância se medirmos isso em anos", disse à Efe Angelica Bienz, membro da Associação Crypto Valley. "O que falta em tamanho e reputação, compensamos com a 'proximidade' dos integrantes. O acesso entre eles é fácil, o que fomenta o entendimento mútuo", afirmou.

Essa proximidade gera confiabilidade e segurança entre as empresas emergentes, explicou Bienz, o que mostra que elas podem ter uma "taxa de sobrevivência" maior do que no Vale do Silício.

Também influenciam os passos dados pelo governo e pelos órgãos de regulação da Suíça.

Em 2015, a Autoridade Federal de Supervisão dos Mercados Financeiros da Suíça (Finma) anunciou que os bitcoins serão tratados como moeda estrangeira e que não fariam falta novas normas. Eles também foram isentos do pagamento do imposto IVA.

No ano seguinte, uma lei de luta contra a lavagem de dinheiro foi revisada. Os bitcoins foram classificados como transmissão monetária, mas ganharam uma exceção para as transações que sejam realizadas de forma estritamente bilateral.

Além disso, os reguladores aceitaram que o armazenamento de criptoativos não constituía um depósito bancário. Por isso, as empresas não estariam sujeitas ao regulamento das instituições financeiras e nem precisavam de licença para operar.

Por fim, o governo da Suíça anunciou no ano passado a emissão de licenças para empresas tecnofinanceiras, mas com requisitos limitados para companhias emergentes.