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Sem desmatar, acordo quer expandir soja no cerrado com empréstimo em 10 anos

29/08/2018 16h34

São Paulo, 29 ago (EFE).- Com projeções altas para a próxima safra de soja no país e a expansão da produção por áreas que ameaçam o cerrado, a Bunge, o banco Santander Brasil e a organização The Nature Conservancy (TNC) anunciaram nesta quarta-feira um programa de empréstimos de até dez anos para produtores da oleaginosa.

Nessa primeira fase, o projeto piloto, inédito no mundo, liberará US$ 50 milhões para, prioritariamente, aquisição e recuperação de terras para até cinco produtores, que serão escolhidos até o fim do ano.

O valor do empréstimo deve chegar aos caixas de proprietários de médio e grande porte até junho de 2019, e uma das prerrogativas para a seleção é ser cliente da Bunge, que entrará com 30% do total acordado à iniciativa.

Os outros 65% ficam por conta do Santander, enquanto o 5% restante do capital é de responsabilidade da TNC.

"É a primeira vez no mundo que três trades se associam para promover expansão sem desflorestamento; vamos promover o financiamento de longo prazo para os que estão dispostos a aderir a um protocolo que preserve o cerrado", destacou o diretor executivo da TNC, André Werneck.

Segundo o diretor, a aposta está "na possibilidade de expansão da produção sem destruir o habitat natural para o equilíbrio ecológico do planeta" por meio de atores que, normalmente, "não se reuniriam em uma mesa".

A parceria quer promover um rastreamento de áreas preservadas e daquelas já abertas para expansão devido ao novo Código Florestal, o que será responsabilidade da Bunge por meio de monitoramento por satélite.

A ONG, por sua vez, elaborou protocolos ambientais que deverão ser cumpridos para se ter acesso ao empréstimo, enquanto o Santander fará o monitoramento financeiro dos produtores para verificar se é viável.

Segundo a TNC, são mais de 25 milhões de hectares desmatados no cerrado brasileiro e concentrados em regiões de Goiás, Mato Grosso e Matopiba - acrônimo formado com as iniciais dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, considerada nova fronteira agrícola em risco.

A TNC e a Bunge utilizarão a AgroIdeal, uma ferramenta online de planejamento para ajudar o setor de soja a tomar decisões de como aumentar a área de produção em terras já desmatadas.

"A Bunge também vai fazer o monitoramento de campo, verificando se os compromissos acordados estão acontecendo. Temos confiança em nossas políticas, e nossas ferramentas são adequadas", garantiu o diretor global de sustentabilidade da Bunge, Michel Santos.

De acordo com o diretor de agronegócio do Santander, Carlos Aguiar, as taxas de juros do programa serão iguais às já existentes para financiamento de curto prazo, oscilando entre 6% e 11% anuais para os dez anos propostos.

"Colocamos o agro como um pilar de desenvolvimento do banco e dentro disso percebemos que não adianta só oferecer financiamento de equipamento ao produtor... Não existe hoje no mercado linhas de financiamento para aquisição de fazendas, pela volatilidade do país", esclareceu Aguiar.

Durante o anúncio feito na sede do banco, em São Paulo, foi realizada uma estimativa de que, até 2027, serão necessárias mais áreas de plantação de soja no bioma, que atingiu cerca de 9,6 milhões de hectares entre 2001 e 2017.

Werneck também não descartou a possibilidade de, no futuro, existirem outras parcerias com a inciativa privada para aumentar o acordo e "criar condições de expansão sustentável".

"Estamos confiantes de que desempenharemos um papel decisivo na expansão da agricultura sustentável, com benefícios tanto para produtores e consumidores quanto para a preservação do meio ambiente", ressaltou em nota o CEO do Santander Brasil, Sérgio Rial.