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Pandemia tira R$ 12 bilhões em investimentos em infraestrutura

22.abr.2020 - O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas - Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo
22.abr.2020 - O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas Imagem: Edu Andrade/Fatopress/Estadão Conteúdo

Vinicius Neder e Mariana Durão

São Paulo

27/09/2020 07h00

Com os investimentos públicos espremidos pela crise fiscal e a agenda de concessões ainda por decolar, os aportes em infraestrutura deverão somar R$ 124,6 bilhões em 2020, quase igual aos R$ 121,4 bilhões de 2019, conforme estudo da Inter.B Consultoria obtido com exclusividade pelo Estadão. O quadro foi agravado pela recessão causada pela covid-19. A consultoria estima que a pandemia poderá diminuir o valor deste ano em torno de 10% na comparação com as projeções pré-covid-19 - ou seja, cerca de R$ 12 bilhões deixarão de ser investidos por causa de interrupções ou adiamentos de planos.

Pela projeção, os investimentos em infraestrutura atingirão 1,77% do Produto Interno Bruto (PIB) - bem longe do que seria considerado ideal. Nas contas da Inter.B, o Brasil precisaria investir, por ano, 4,24% do PIB em estradas, portos, ferrovias, linhas de transmissão, saneamento e telecomunicações. Se esse porcentual fosse atingido, significaria o desembolso de R$ 174 bilhões só neste ano.

Segundo economistas, além de aumentar a capacidade de crescimento no futuro, o investimento movimenta a economia no presente, ao gerar empregos e demandar insumos.

A pandemia atrasou algumas obras públicas, mas, segundo o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak, como são de longo prazo, os projetos de infraestrutura são menos afetados do que os planos de setores como indústria e varejo. A questão é a crônica falta de recursos para bancar novos projetos, em função da crise fiscal do governo.

Frischtak afirma que a saída é atrair investidores privados para as concessões, mas essa atração é prejudicada por entraves conhecidos, como insegurança jurídica, marcos regulatórios considerados inadequados e interferência política nas agências reguladoras.

Além de atrasos de obras, a covid-19 traz impactos mistos no médio prazo. Por um lado, a ação dos bancos centrais de todo o mundo manteve os juros baixos na maioria dos mercados, o que, na retomada, favorece a alocação de recursos financeiros em infraestrutura. Por outro, a recessão aumenta a percepção de risco sobre países emergentes como o Brasil.

Atraso nos leilões

Embora a regulação tenha avançado mesmo com a pandemia, com destaque para o novo marco do saneamento, o cronograma de leilões sofreu atrasos. O plano era conceder sete trechos rodoviários federais, mas o número caiu para três. Para a próxima rodada de aeroportos, que inclui 22 terminais e está prevista para março de 2021, foi preciso revisar cálculos.

O efeito desses atrasos sobre os valores de 2020 tende a ser pequeno porque essas concessões preveem aportes nos próximos anos, mas o Barômetro da Infraestrutura, pesquisa semestral da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) com a EY, mostrou em junho que só 17,5% dos empresários projetavam um cenário promissor para investir este ano, ante 47,9% em 2019.

José Guilherme Souza, sócio de infraestrutura da gestora de recursos Vinci Partners, que opera as transmissoras de energia Arcoverde, TPAE e LEST, estima que o calendário de investimentos em infraestrutura perdeu de seis meses a um ano com a pandemia. Os impactos variam conforme a área. Concessões com "risco de demanda", que terão as receitas com tarifas afetadas no longo prazo, como rodovias, perdem mais do que as linhas de transmissão ou as operações de água e esgoto.

A ABCR, associação das concessionárias de rodovias, estima que a queda no fluxo nas praças de pedágios já levou a perdas de R$ 1,2 bilhão. Isso atinge o caixa das concessionárias, tirando o fôlego para investir.

Nas operações de transmissão de energia, a Vinci viu "quase nada" de impacto, mas a gestora esfriou a análise para comprar uma concessão rodoviária já operacional, cujo nome Souza preferiu não revelar. "Com a queda da demanda do tráfego e atraso nas obras obrigatórias, abriu-se um passivo. Temos de ver como isso vai ser resolvido daqui para frente, o que toma um pouco mais de tempo."

Para o presidente da ABCR, César Borges, as concessionárias tentam guardar caixa para os leilões pós-pandemia, mas o fôlego varia de empresa para empresa. A CCR estaria mais bem capitalizada para aproveitar os próximos leilões do que a Ecorodovias, segundo relatório do banco americano Citi. A CCR tem comunicado ao mercado que os resultados têm melhorado e que mantém o apetite, com destaque para a relicitação da Via Dutra, adiada para o início de 2021.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.