2016 "perdido", 2017 brilhante: o que o BofA viu ao visitar a "nova Argentina" de Macri?
SÃO PAULO - Os economistas do Bank of America Merrill Lynch Claudio Irigoyen e Sebastian Rondeau participaram de um encontro de três dias com economistas, analistas políticos, corporações e autoridades da Argentina, em Buenos Aires, traçando um panorama sobre os primeiros meses de governo de Mauricio Macri, o que está sendo feito e quais as perspectivas para a economia.
Conforme destaca o BofA, a maior parte dos analistas acredita que a economia estagnará ou contrairá este ano, mas deve ter um próspero 2017, com uma recuperação forte. A maior parte deles elogiou as mudanças de política econômica implementadas por Macri, mas avaliam que a consolidação fiscal ainda está sendo feita de modo muito gradual e que as autoridades estão tomando riscos na aposta de financiamento externo este ano.
Além disso, há um consenso de que o Congresso irá apoiar um acordo com os credores. Vale ressaltar que, ontem, a Argentina e um grupo de credores holdouts fecharam um acordo de príncipios para encerrar uma disputa que se arrasta há 15 anos sobre dívida que não foi paga pelo país.
A Argentina vai pagar a um grupo de investidores em litígio liderados pelo Elliott Management, fundo de Paul Singer, US$ 4,65 bilhões ou cerca de 75% do valor total em discussão judicial, incluindo juros e principal, de acordo com Daniel Pollack, mediador indicado pela Justiça.
Já a meta de inflação para 2016, cujo teto é de 25%, é considerado demasiado ambicioso. A maioria pensa que a política monetária está em uma transição para um regime de metas de inflação e que o Banco Central irá em breve começar a definir metas de inflação.
No geral, os analistas têm uma visão construtiva acerca das perspectivas macroeconômica e política a médio prazo, mas veem uma transição difícil em 2016 devido ao cenário externo negativo e em meio à política de correções necessárias.
2016 perdido para o PIB, mas...
Para os economistas, este ano será perdido em termos de crescimento do PIB, devido aos efeitos negativos da crise do Brasil, em especial na indústria e em meio a uma contração do consumo devido ao corte de subsídios de energia, com as previsões para a economia variando de uma estabilidade a uma contração de 1,4%.
Alguns destacaram que as necessidades financeiras elevadas do governo podem ter um efeito significativo sobre o investimento privado.
Para 2017, a maioria dos analistas concorda que a economia deve crescer acima de 3% e que poderia iniciar a recuperação no segundo semestre deste ano, em meio a fortes entradas de capital. Eles acreditam que a recuperação deve ser liderada pelo investimento e pela forte atividade do setor de exportação, como o agrícola.
Eles também veem potencial de investimento no setor bancário (muito pequeno para os padrões internacionais, com os empréstimos representando 15% do PIB), a indústria de energia (após a correção de distorções de preços), comunicação e infraestrutura, liderada por projetos do governo.
O BofA ressalta que os analistas vem elogiando a velocidade em que o novo governo está corrigindo algumas das más políticas da administração anterior, ao tirar o controle de capitais, diminuir a distorção dos preços, restaurar relações com a comunidade internacional e negociar com os credores.
No entanto, a maioria dos analistas afirma que o governo está indo mais devagar do que o esperado na consolidação fiscal, em meio ao tamanho do déficit primário de cerca de 7% do PIB em 2015, o que pode levar a um impacto negativo neste ano sobre o investimento privado. Alguns apontaram o governo pode não chegar a sua meta deste ano, de corte de 1%, para 4,8% do PIB) em meio à necessidade de grandes cortes de gastos necessários e a falta de detalhes do plano.
A consolidação fiscal, por sua vez, enfrenta dificuldades por conta das restrições políticas, afirmam os analistas. Eles discutem, aliás, que o governo faz uma aposta arriscada, esperando que a economia irá crescer fortemente ano que vem e isso facilitará o ajuste. A expectativa é de que haja uma necessidade de financiamento entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões esse ano, incluindo o potencial pagamento aos credores.
Alguns analistas políticos destacam que a correção fiscal é lenta devido à necessidade de 'aparecer bem' em meio às eleições parlamentares de médio prazo (outubro de 2017), de forma a elevar as chances aumentar a governabilidade, uma vez que o governo tem uma minoria no Congresso.
Os analistas políticos apontaram que Macri quer ir devagar com os ajustes, uma vez que ele é percebido como um rico empresário e que pode ser facilmente caracterizado como insensível para com os pobres, se aplica-se um forte ajuste.
Política monetária em transição
O BofA aponta ainda a expectativa dos economistas de que a inflação fique no intervalo entre 28-35% este ano, acima do teto de 20-25%, ressaltando a inconsistência entre a meta de inflação e os aumentos salariais previstos.
A maioria dos ouvidos pelo banco aponta que a política monetária atual está em um regime de transição, dadas as restrições herdadas da administração anterior, incluindo a falta de um índice oficial de inflação (o novo índice oficial CPI estaria pronto somente em junho).
Atualmente, a política monetária parece se consistir na redução da impressão de moeda, destacando a forte redução da "criação de dinheiro". As autoridades ouvidas pelo BofA reforçam que, no médio prazo, o BC deve ganhar um papel mais ativo. É possível ainda que, no segundo trimestre deste ano, o governo anuncie uma meta de inflação abaixo de 20% para os próximos doze meses.
Sobre o acordo com os credores, os especialistas ouvidos pelo BofA apontam que o Congresso apoiaria um acordo entre os credores e revogaria as leis necessárias, de forma a recuperar o acesso aos mercados internacionais.
Analistas políticos acreditam que o governo deve aproveitar a lua de mel e o processo de transição no partido peronista para implementar a política de ajustes necessários. Mas uma vez que o partido peronista está unificado novamente e a popularidade de Macri decline após as políticas de ajuste, as restrições políticas se tornarão mais evidentes, afetando a governabilidade.
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