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'Endocrinologia financeira' explica por que homens e mulheres investem diferente

Aiana Freitas

Especial para o UOL Economia, em São Paulo

18/10/2011 07h00

A explicação para o fato de as mulheres serem mais conservadoras e os homens mais agressivos nos investimentos pode estar nos hormônios. É o que aponta uma nova linha de estudo conhecida como "endocrinologia financeira".

Esses estudos mostram que alguns hormônios fazem com que as pessoas se sujeitem a riscos maiores, enquanto outros fazem com que se comportem de maneira mais cautelosa. Existem, ainda, hormônios que deixam as pessoas confiantes a ponto de dar dinheiro para desconhecidos administrarem.

A especialista em finanças Eliana Bussinger, autora do livro "As leis do dinheiro para Mulheres" (Editora Alegro), estuda o comportamento da mulher com relação ao dinheiro há alguns anos.

Ela afirma que o fato de os homens produzirem testosterona ao longo da vida faz com que eles sejam mais impulsivos. "É um hormônio associado à agressividade e ao poder", diz.

"Já as mulheres são inundadas por coquetéis de hormônios ao longo da vida [durante o ciclo menstrual, quando têm filhos e, mais tarde, na menopausa], e tudo isso influencia a maneira como elas tomam decisões", diz Eliana.

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Testosterona faz homem correr mais riscos

O impacto da testosterona na tomada de decisões dos homens foi comprovado por uma pesquisa feita na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O estudo, coordenado pelo pesquisador John Coates, foi feito por meio da coleta de saliva de operadores de corretoras e bancos de Londres.

A conclusão foi que os operadores que tinham níveis mais altos de testosterona pela manhã eram aqueles que mais se arriscavam no mercado financeiro. Também foram aqueles que tiveram mais chances de ganhar dinheiro em um período menor de tempo.

O estudo mostrou ainda o impacto do cortisol, conhecido também como o hormônio do estresse, sobre os operadores: quanto maior o nível desse hormônio, menor o risco a que eles se submeteram.

“Esses dois hormônios podem afetar a capacidade do investidor de fazer uma escolha racional", afirma John Coates, coordenador da pesquisa.

Apesar de o estudo ter sido realizado apenas com homens, Coates diz que é possível fazer um paralelo com o jeito feminino de decidir.

“Sabemos que as mulheres produzem apenas 10% da testosterona que os homens produzem", diz. Isso explicaria, então, por que elas correm menos riscos.

Oxitocina aumenta confiança no outro

Outro estudo, feito na Universidade de Zurique, na Suíça, mostrou como o hormônio oxitocina influencia as decisões financeiras.

Um grupo de voluntários inalou um spray de oxitocina enquanto outro grupo inalou um placebo (uma substância sem efeito real). Depois, os voluntários foram orientados a dar dinheiro para um desconhecido aplicar no mercado financeiro. Aqueles que inalaram oxitocina deram 17% mais dinheiro do que os outros.

A conclusão do coordenador da pesquisa, o economista Ernst Fehr, é que a oxitocina aumenta a confiança no outro --o que pode levar a alguns riscos.

A médica Ruth Clapauch, membro do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que a oxitocina é mais produzida pelas mulheres, especialmente em determinadas épocas, como durante a amamentação. "Esse hormônio faz com que elas busquem mais companheirismo e parcerias", diz.

A especialista em finanças Eliana Bussinger faz o paralelo com a vida financeira.

"É um tipo de hormônio que faz com que ela não se coloque em primeiro lugar. A capacidade cética e racional desaparece. Quando se trata de decisões financeiras, faz com que ela tenha mais facilidade de cair numa armadilha ao investir. Ou que ela entregue dinheiro ao filho sempre que ele pedir."