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Bares e restaurantes de Porto Alegre mantêm portas fechadas mesmo liberados

Josephyna"s, em Porto Alegre - Divulgação
Josephyna's, em Porto Alegre Imagem: Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, de Porto Alegre

22/05/2020 14h53

Donos de bares e restaurantes de Porto Alegre decidiram manter as portas fechadas mesmo com decreto que autoriza a reabertura dos estabelecimentos. Pelo menos 30 estabelecimentos decidiram continuar fechados, funcionando apenas por delivery ou para retirada de encomendas.

As novas regras passaram a valer nesta quinta-feira (21) e, para poder operar, os comércios precisam seguir regras de distanciamento, higienização e só permitir a ocupação de metade do espaço.

'Abrir para não ter gente'

O Bistrô da Travessa, conhecido pela pizza artesanal, é um dos que decidiu continuar fechado. Segundo o dono, Rodrigo Webster, a decisão foi tomada para preservar a saúde dos funcionários e pela incerteza de o estabelecimento poder ser novamente fechado.

"A gente já está expondo os funcionários com tele-entrega, mesmo com todos os cuidados necessários e turno reduzido. Caso abríssemos, iriam entrar em contato com cliente em momento dúbio. A gente não sabe quanto é prematuro reabertura", disse.

O segundo ponto é o fator econômico. Uma coisa é poder abrir, outra coisa é receber clientes. A gente acredita, não é sensação, não é algo exato, mas nosso público está tendo mais cuidado e receio de sair de casa. Então, abrir para não ter gente, faz elevar custos, assumir riscos e responsabilidades.
Rodrigo Webster, dono do Bistrô da Travessa

Antes da pandemia, o Bistrô da Travessa recebia, em média, 100 pessoas por dia. Com as novas regras, o estabelecimento poderia operar com metade desse número, considerado "arriscado" pelo proprietário. "Quanto menos a gente evitar o fluxo do contágio, da exposição, melhor."

O restaurante tem amargado prejuízo, mesmo operando com delivery desde 18 de março. Dos 13 funcionários, foram dispensados cinco em contrato de experiência.

A gente está entre a cruz e a espada, uma situação bem delicada financeiramente, que já vinha de 2019 com queda grande de faturamento. (...) É doloroso financeiramente não usar de liberação para que possa abrir, mas a gente entende que pode ser um tiro de pé.
Rodrigo Webster, dono do Bistrô da Travessa

'Se eu me salvo, salvo mais gente'

O Café Fon Fon, conhecido pelas apresentações musicais, é outro estabelecimento que decidiu continuar com o salão fechado.

Por enquanto, não há nenhum dado para se basear que a situação está controlada. A curva [da covid-19] não está baixando. Fica um tiro no escuro reabrir agora.
Bethy Krieger, sócia do Café Fon Fon

Antes da pandemia, o lugar conseguia acomodar até 50 pessoas e, agora, com as novas regras, poderia receber até metade do público.

"Como a gente vai expor as pessoas à convivência dessa maneira? Como eu vou colocar 25 pessoas de maneira confortável? Não é um restaurante, é um café, que tem como principal a música. A gente acha que não tem nada a ver com o nosso clima, que é uma coisa descontraída. As pessoas sentam juntas e se conhecem", afirmou Bethy.

Os proprietários do café continuam pagando o salário da funcionária fixa, mas tiveram de dispensar dois atendentes freelancers. O estabelecimento já acumula contas atrasadas: duas de luz e um imposto. Para não fechar definitivamente, o café tem apostado em lives de música pelas redes sociais para arrecadar com contribuições. Com isso, conseguiram pagar o aluguel e a segurança do local.

A sobrevivência é uma cadeia toda. Se eu me salvo, salvo mais gente. É um círculo.
Bethy Krieger, sócia do Café Fon Fon

'A gente acha que é muito cedo'

No bar, padaria e confeitaria Justo 10 funcionários tiveram o contrato suspenso e apenas a gerente continua trabalhando, com carga horária reduzida. Localizado nas escadarias do viaduto Otávio Rocha, ponto histórico da cidade, chegava a receber 300 pessoas por dia, mas em meados de março o movimento minguou, o que forçou o fechamento. Para um dos sócios, Adelino Bilhava, a reabertura agora é precoce.

A gente acha que é muito cedo. Vimos várias notícias de cidades que reabriram tudo e tiveram que fechar novamente, com medidas ainda mais restritivas.
Adelino Bilhava, sócio do Justo 10

O comércio chegou a operar por uma semana com delivery, mas a alternativa não se encaixava na proposta do negócio, dos encontros presenciais, segundo Bilhava. Entretanto, com o esgotamento das reservas financeiras —programadas para manter o estabelecimento fechado por um mês—, a modalidade do delivery deve ser retomada em junho.

'A gente pensa muito mais na saúde'

O bar e café Josephyna's também parou totalmente as operações e não deve voltar neste momento. "A gente considerou as decisões da OMS [Organização Mundial da Saúde], mas, principalmente, por ver que no Brasil as coisas não estão melhorando. Isso se piora e tem que fechar por um mês?", disse João Henrique Silva Martins, um dos sócios.

A gente pensa muito mais na saúde, do que fazer o negócio sobreviver.
João Henrique Silva Martins, sócio do Josephyna's

O comércio funciona em um espaço pequeno e usa a calçada para colocar mesas e bancos. Segundo Martins, a preocupação é reabrir e haver concentração de pessoas. "Antes da pandemia, tinha aglomeração de gente nas ruas. A gente pensa: será que todos vão respeitar, caso voltássemos?"

Contas de aluguel e luz estão atrasadas. Caso a situação se estenda, os sócios cogitam iniciar um sistema de entrega pelo WhatsApp em vez de recorrer aos aplicativos, que cobram taxas. "A gente já secou nossas economias, mas ainda não cogitamos entregar o ponto."