Nova gasolina deve subir 1,5%, mas promete render até 6% mais; vai valer?
A nova gasolina, que estreou na segunda-feira (3), deve ser R$ 0,06 mais cara, segundo o governo. Isso significa um aumento de cerca de 1,5% em comparação com o preço médio atual (R$ 4,144). Técnicos independentes avaliam que o novo combustível é melhor e rende até 6% mais. Quer dizer que você vai gastar menos no final das contas?
Depende. Existem muitos fatores. Primeiro, esses valores são médios: você pode pagar essa gasolina mais cara ou mais barata. Hoje você já pode estar gastando mais porque abastece com um combustível de qualidade e não vai sentir grande diferença no rendimento e no preço. De qualquer forma, uma simulação com carro 1.0 mostra que hoje, com R$ 100, ele roda 335 km na cidade. A nova gasolina, com os mesmos R$ 100, rodaria 349,9 km.
Estimativas de preço e rendimento
Segundo o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (SPG) do Ministério de Minas e Energia (MME), José Mauro Ferreira, o preço pode subir até R$ 0,06 em média nas bombas. Se a estimativa se confirmar, o aumento deve ser de aproximadamente 1,5%. Por outro lado, o secretário estima que o consumo médio nos veículos vai cair de 3% a 5%.
A Petrobras é ainda mais otimista. De acordo com Rogério Gonçalves, especialista em novos produtos da estatal e diretor de combustíveis da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), a expectativa é de um rendimento médio 6% maior.
Qual era o preço e como deve ficar
O último levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) aponta que o preço médio da gasolina no Brasil em julho foi de R$ 4,144 por litro. Se confirmado o aumento de R$ 0,06, o preço médio subirá 1,45%, para R$ 4,204 por litro.
Na cidade de São Paulo, o preço médio em julho foi de R$ 4,013 por litro. Com o aumento previsto, o preço subiria 1,5%, para R$ 4,073 por litro da nova gasolina.
Simulação com carro motor 1.0
O UOL simulou a diferença de rendimento médio com Onix Hatch, carro mais vendido no Brasil em 2019, considerando o ranking de consumo divulgado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) com os automóveis de 2020.
Em julho, com R$ 100 era possível comprar 24,1 litros de gasolina na média de preços em todo o Brasil (R$ 4,144 por litro). Com essa quantidade era possível rodar na cidade 335 km com o Onix Hatch motor 1.0.
Se o preço com a nova gasolina subir R$ 0,06 por litro, será possível comprar 23,8 litros com os mesmos R$ 100 — o que significa 0,3 litro a menos. Contudo, se o rendimento médio subir 6%, essa quantidade da nova gasolina será suficiente para dirigir por 349,9 km na cidade.
Ou seja, com R$ 100, a quantidade de km rodados na cidade com um Onix Hatch 1.0 manual seria 4,45% maior, apesar da nova gasolina mais cara.
Na estrada, o mesmo carro faria em média 402,5 km com R$ 100 da gasolina antiga, enquanto o novo padrão de qualidade garantiria 421,3 km de autonomia. Um aumento de 4,67% no rendimento.
O cálculo, porém, é apenas uma estimativa. A variação de preço e de rendimento da nova gasolina depende de diversos fatores.
Por que o rendimento pode variar
A nova especificação de gasolina é mais rigorosa e evita que combustíveis de pior qualidade sejam comercializados, explica o engenheiro Ricardo Abreu, especialista em motores de combustão interna
A gasolina vendida no Brasil é uma mistura de etanol (álcool) e de vários derivados de petróleo com pesos diferentes. Como esses componentes evaporam em temperaturas distintas, eles precisam estar em quantidades balanceadas na mistura para otimizar o rendimento da gasolina, afirma o engenheiro.
Contudo, segundo Ricardo Abreu, o padrão antigo permitia misturas com alta concentração de componentes leves. Nesses casos, a gasolina ficava mais barata, mas tinha rendimento pior.
Isso não significa que toda gasolina vendida antes era ruim. Mas era permitido vender misturas pouco balanceadas, o que aumentava a diferença de preço e de qualidade.
Segundo o engenheiro, a gasolina que estava distante do novo padrão vai sofrer um reajuste de preço maior para se adequar às novas normas. "Então, quem abastecia com gasolina mais barata vai sentir mais no bolso, e também vai ter maior diferença de rendimento."
Por outro lado, boa parte da gasolina vendida já estava dentro do novo padrão. Nesse caso, a diferença de preço e de rendimento será pequena. "Quem já abastecia com uma gasolina melhor, um pouca mais cara, não vai sentir quase nada", diz Ricardo Abreu.
Nova gasolina deve render melhor em carros novos
Sérgio Araujo, presidente Executivo da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), também estima um aumento médio de preço de R$ 0,06 por litro na gasolina.
Ele afirma que é difícil fazer uma previsão de quanto será o ganho de rendimento, por causa da variedade de veículos em circulação no Brasil. Porém, diz que os carros novos serão mais beneficiados, por terem motores com tecnologias que aproveitam melhor a nova gasolina.
Além da mudança de padrão, outros fatores pode influenciar no preço ao consumidor. Entre eles, a cotação internacional do petróleo, o dólar e impostos sobre a gasolina.
Entenda a nova especificação da gasolina
A Resolução 807/20 da ANP (Agência Nacional do Petróleo) determina que a gasolina comum tenha massa específica (densidade) mínima de 715 kg/m³. Antes, não havia um limite mínimo de densidade, o que permitia misturas mais leves.
O novo padrão também deve ter octanagem mínima de 92 octanas pela metodologia RON (Research Octane Number) —método que mede a resistência do combustível. A partir de janeiro de 2022, a octanagem da gasolina comum sobe para 93 octanas.
O percentual de etanol anidro (álcool puro) foi mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium.
A partir desta segunda-feira (3), a gasolina vendida em refinarias ou por importadoras precisa estar dentros das novas especificações. Os postos têm até 90 dias para terminar de vender o estoque e vender a nova gasolina.
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