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Golpe da maquininha: fraude faz cliente pagar R$ 4,9 mil a mais por jantar

Lançamento no cartão de crédito foi feito com dois números à frente em visor adulterado e R$ 68,52 viraram R$ 4.968,52 - Arquivo pessoal
Lançamento no cartão de crédito foi feito com dois números à frente em visor adulterado e R$ 68,52 viraram R$ 4.968,52 Imagem: Arquivo pessoal

Pietra Carvalho

Do UOL, em São Paulo

10/03/2022 12h15Atualizada em 10/03/2022 18h05

Um arquiteto precisou pedir ressarcimento de R$ 4,9 mil após sofrer um golpe com uma maquininha de cartão de crédito usada para pagar um pedido feito no iFood. Ele relatou ter gastado R$ 68,52 em um prato de um restaurante na Pompeia, em São Paulo, mas, com a tela da máquina parcialmente quebrada, acabou confirmando, com senha, o lançamento de R$ 4.968,52 em seu cartão de crédito. O caso foi registrado pela Polícia Civil de Sâo Paulo.

Ontem, o UOL mostrou um caso semelhante, mas em carro de aplicativo, em que a vítima também acredita que o visor estava adulterado. Relatos de leitores revelaram que o caso é menos incomum do que se pensa e sempre se dá por danos no visor da maquininha.

A vítima J.R.P.B., que preferiu não expor o nome, chegou a ser notificada de que o entregador havia retirado seu pacote no restaurante, mas, alguns minutos depois, recebeu uma nova mensagem avisando que seu pedido havia sido cancelado, e o pagamento estornado, por causa de uma suposta febre do profissional terceirizado.

"Eu achei estranho, mas quando eu ia entrar em contato com o restaurante, via aplicativo, recebi uma ligação com um número verificado do iFood - até verifiquei com um amigo e era mesmo um número do aplicativo - falando que tinha aparecido outro (entregador) e perguntando se eu ainda tinha interesse no pedido. Eu falei que sim e eles responderam que estavam mandando", afirmou ele.

O cliente conta que o pedido chegou em pouco tempo, mas como o pagamento feito pelo aplicativo havia sido estornado, teve de fazer uma nova transação, dessa vez com o uso de uma maquininha de cartão, conectada por bluetooth ao celular do colaborador.

O entregador me mostrou no celular o valor, parecia ok. Eu peguei a máquina e vi que a tela estava quebrada, mas não associei no momento, digitei a senha e devolvi. Só que eu me senti um pouco estranho com isso e imediatamente entrei no aplicativo do banco. Esses R$ 68,52, na verdade, foram R$ 4.968,52.

Após o susto inicial, o arquiteto imediatamente entrou em contato com o banco e com o iFood, no mesmo dia do lançamento, no último 16 de janeiro, mas detalha que teve dificuldades para resolver o problema, cobrando uma solução diariamente por mais de duas semanas.

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Cliente apontou dificuldade para solucionar o problema, mas foi ressarcido
Imagem: Arquivo Pessoal

Ele chegou até mesmo a abrir uma reclamação no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), mas o problema foi resolvido pouco depois.

"[Reclamar é] Sempre bem difícil, o único contato com eles é pelo chat do aplicativo [iFood]. Foram mais de duas semanas nesse processo. Eu já tinha feito um Boletim de Ocorrência online, eles pediram pra eu fazer um B.O. com o número do cartão utilizado", detalhou o cliente.

"Eles deram retorno, afirmando que não entendiam que era culpa deles, apesar de o golpista ter acessado todos os meus dados por eles, mas que, para facilitar, iam ressarcir. Pediram meus dados bancários e três dias depois eu fui ressarcido", explica J.R.P.B., que recebeu o dinheiro no início de fevereiro, mais de 15 dias depois do golpe.

O arquiteto destaca que também chegou a entrar em contato com o restaurante em que fez o pedido, que também abriu um pedido de apuração interna com o iFood. No contato com o aplicativo, ele não recebeu mais informações sobre uma investigação contra o motoboy que realizou a entrega.

"Na conversa com o restaurante me falaram que provavelmente o cadastro era com um laranja, porque o restaurante entregou o pedido nas mãos da pessoa, então é alguém registrado no iFood. O restaurante inclusive falou que eles não trabalham com pagamento na entrega, não mandam maquininha com nenhum entregador", conta.

iFood diz que mantém time de prevenção a fraudes

Em nota ao UOL, o iFood afirmou que adota uma série de medidas de prevenção a fraudes e orientou os clientes sobre possíveis cuidados para evitar o golpe da maquininha.

Segundo a empresa, para cadastrar na plataforma e realizar entregas, os colaboradores devem incluir dados de transporte e documentos pessoais, que são verificados em uma apuração que inclui reconhecimento facial.

"Essa validação facial também é solicitada de forma periódica, para garantir que o entregador é ele mesmo e evitar o aluguel e empréstimo", afirmou a companhia.

Ao comentar os casos de golpe que acontecem na plataforma, o iFood declarou que mantém um time dedicado à investigação e prevenção a fraudes, "visando minimizar e combater, da maneira que lhe cabe, esse tipo de golpe de forma preventiva".

A empresa ainda orientou que os clientes que optarem pelo pagamento online não realizem pagamento adicional no momento da entrega do pedido.

"A orientação ao consumidor é de que ao ser questionado, se recuse a realizar qualquer tipo de pagamento e acione a empresa pelo chat para reportar atividade suspeita. A empresa recomenda ao consumidor que, em qualquer tipo de transação envolvendo pagamento por meio de cartão, cheque o valor no visor da máquina de pagamento e não insira a senha caso não exiba claramente o valor. Caso tenha efetuado qualquer operação sem que haja certeza do valor, recomenda-se que, assim que finalizada a transação, verifique no aplicativo do seu banco o valor debitado e, havendo divergência, solicite o cancelamento", detalhou a nota.

Questionada também sobre a falta de meios alternativos de comunicação com o atendimento ao cliente, restrito ao aplicativo, o iFood declarou apenas que "tem reforçado sua comunicação em diferentes canais, como nas redes sociais, e no próprio aplicativo, com orientações para não aceitarem cobrança de valores adicionais na entrega, além de confirmarem o pagamento via plataforma".