De sequestro à Forbes: como indiano passou Bill Gates entre mais ricos?
Rosália Vasconcelos
Colaboração para o UOL, do Recife
21/07/2022 04h00
No início de 2022, enquanto o Ocidente e o Oriente lutavam para ampliar a vacinação e conter os casos de covid-19, dois magnatas indianos - Mukesh Ambani e Gautam Adani - disputavam o título de homem mais rico da Ásia.
Em abril, a lista da Forbes mostrou que Gautam foi mais longe e conseguiu destronar seu compatriota Mukesh (da Reliance Industries), após o fundador do grupo Adani ter mais do que duplicado seu patrimônio líquido em 2021, cotado na época em US$ 50,5 bilhões.
Mais recentemente, em meados do mês de julho, Gautam conseguiu outro feito: ele subiu mais uma posição no ranking de bilionários da Forbes e ultrapassou Bill Gates, após o dono da Microsoft anunciar uma grande doação para a Fundação Bill & Melinda Gates.
Com isso, a fortuna de Gautam, hoje em US$ 103,1 bilhões, o colocou em quarto lugar no seleto grupo dos 10 maiores bilionários do mundo, segundo a Forbes 2022. Ele também figura entre as seis pessoas do mundo com riqueza maior que US$ 100 bilhões, sendo o único centibilionário da Ásia.
De onde vem tanta riqueza?
Infraestrutura, commodities, geração e transmissão de energia e imóveis são as áreas de atuação do empresário. Outro fator que ajudou a alavancar os ganhos das empresas de Adani foi vencer o contrato de privatização do porto de Mundra, o maior porto comercial da Índia e também o mais importante ponto de importação de carvão do país.
Carvão representa mais de 40% da matriz energética da Índia e um dos grandes responsáveis pela fortuna do empresário.
O grupo liderado por Gautam ainda comanda sete aeroportos no país, incluindo o aeroporto internacional de Mumbai, o segundo mais movimentado da Índia. Na prática, ele é responsável pelo controle de 25% de todo o tráfego aéreo local.
Adani é proprietário do Abbot Point, um controverso projeto de mineração de carvão na Austrália, cuja mina Carmichael é considerada uma das maiores do mundo.
Ao todo, o grupo Adani é formado por seis empresas de capital aberto, que empregam diretamente 23 mil pessoas, cujas ações, juntas, valem mais de US$ 190 bilhões.
Entre as empresas que formam o grupo, estão Adani Enterprises, Adani Port and Special Economic Zone, Adani Power, Adani Transmissions, Adani Total Gas, Adani Green Energy e Fundação Adani.
Em termos de expansão além das fronteiras de seu país, Gautam tem aumentado a atuação em países como o Sri Lanka, com projetos para implantar um terminal portuário.
Como a Índia se tornou um importante polo tecnológico, o empresário ainda está expandindo seus investimentos em data centers.
Por que ele ganhou tanto dinheiro durante a pandemia?
Em 2016, a fortuna do magnata indiano girava em torno de US$ 3,5 bilhões. Dois anos depois, em 2018, pulou para US$ 9,7 bilhões. Em 2022, ele aumentou em mais de US$ 100 bilhões sua riqueza.
Foi quando o mundo inteiro voltou os olhos para o empresário de 59 anos, para entender como ele conseguiu esse feito.
Gautam Adani não é um homem de um negócio só. Em outras palavras, o empresário buscou construir sua riqueza diversificando seus investimentos, em setores que tradicionalmente geram altas rentabilidades, como o de energia, mineração e infraestrutura, por exemplo. Nos últimos dois anos, as ações de algumas de suas empresas chegaram a valorizar mais de 1.000%.
Nos últimos dois anos, Adani ainda passou a anunciar que planeja ser o maior produtor mundial de energia verde, com investimentos na casa dos US$ 70 bilhões em projetos de energia renovável até 2030. Nesse momento, as ações das suas empresas listadas na Bolsa da Índia dispararam.
A promessa, aliás, é uma das metas traçadas durante a COP26 por vários países, que se comprometeram a zerar as emissões de carbono nos próximos 50 anos. Caso consiga atingir o objetivo, a Índia pode vir a ser referência mundial no setor de energias limpas.
Como tudo começou?
Gautam Adani nasceu em Ahmedabad, na Índia, e é considerado um self-made man. Seu pai era um pequeno comerciante têxtil, mas Adani, que tem mais sete irmãos, optou por não administrar o negócio do seu pai. Tentou estudar Comércio na Universidade de Gujarat, seu estado -natal, mas desistiu após o segundo ano. Em seguida, foi tentar a vida em Mumbai (antiga Bombaim).
Em 1978, começou a trabalhar como classificador de diamantes para a Mahendra Brothers. Três anos depois, em 1981, Mahasukhbhai Adani, seu irmão mais velho, comprou uma empresa de plásticos e o convidou para gerenciar as operações.
Ao adquirir experiência no mercado externo, passou a importar PVC. Em 1988, fundou a Adani Exports, que hoje é conhecida como Adani Enterprises.
Duas curiosidades marcam a vida do magnata, que é casado e tem dois filhos. A primeira aconteceu em 1998, quando Adani e um amigo foram sequestrados e mantidos como reféns. Os sequestradores exigiram um resgate de US$ 2 milhões.
Em 2008, Adani novamente escapou de uma tragédia. Ele estava no Taj Mahal Palace Hotel, quando ocorreram os ataques terroristas que resultaram na morte de cerca de 160 pessoas. Gautam saiu ileso.