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5G será como viajar em estrada com nave espacial, diz chefe do Google Cloud

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Beth Matias

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/09/2022 14h40

Eduardo Lopez, presidente do Google Cloud para a América Latina, diz em entrevista na série UOL Líderes, que a tecnologia 5G para o usuário final será "como viajar em uma estrada com uma nave espacial".

"O 5G é um facilitador, como uma estrada de comunicação, com uma velocidade 20 ou 30 vezes maior a que estamos acostumados hoje em dia", afirma Lopez.

"Isso vai nos permitir desenvolver modelos de negócios diferentes", diz.

Para o chefe do Google Cloud, o maior desafio da empresa é mostrar ao cliente a confiabilidade, segurança e sustentabilidade que a nuvem pode trazer.

"Hoje, 80% da carga de processamento ainda está nos data centers dos clientes, que consomem energia com gasto de carbono, geram carbono e não são sustentáveis como o nosso data center", afirma.

Eduardo Lopez fala também sobre como a empresa vem se posicionando na América Latina.

Ele também aborda investimentos em infraestrutura e capacitação de pessoas.

Ouça a íntegra da entrevista com Eduardo Lopez, presidente do Google Cloud para a América Latina, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube.

Leia a seguir trechos da entrevista:

Conexão a jato

UOL - Qual será o impacto real do 5G para o consumidor final?

Eduardo Lopez - O 5G, para o usuário final, será como viajar em uma estrada com uma nave espacial. Com o 5G, vamos ter uma diferenciação de velocidade, vamos poder trabalhar muito melhor.

Ele é um facilitador, como uma estrada de comunicação, com uma velocidade 20 ou 30 vezes maior a que estamos acostumados. Isso permitirá o desenvolvimento de diferentes modelos de negócios, e o cliente também será beneficiado.

Quais seriam os novos modelos de negócios?

Quando falo em modelo de negócio, falo de empresas que querem melhorar o atendimento ao cliente, fazendo com que ele receba o pedido do e-commerce dentro de cinco horas, por exemplo. Para isso, é preciso ter o monitoramento da logística e uma cadeia que torne possível entregar em cinco horas. São necessárias informação, análise, rotas e, para isso tudo, é preciso ter conectividade. Esse serviço certamente será muito melhor quando feito com 5G.

Quais foram os setores que mais migraram para o cloud nos últimos anos?

Mais do que um setor, [o que mudou] foi mais uma característica das empresas, da necessidade de conhecer o cliente, de ter estratégias digitais para ter ofertas. A telemedicina cresceu muito, por exemplo.

Como é o Google Cloud

Fundação

  • 2016 (global)

Clientes (no mundo)

  • 7,5 milhões

Países e territórios em que atua

  • 200

Investimentos (em infraestrutura técnica no Brasil)

  • R$ 1,6 bilhão (desde 2017)

Investimentos futuros (Google na América Latina)

  • US$ 1,2 bilhão (próximos 5 anos)

Cabos submarinos na América Latina

  • Júnior - Rio de Janeiro a São Paulo;
  • Tannat - Santos a Maldonado, no Uruguai;
  • Monet - Boca Raton, na Flórida, a Santos, passando por Fortaleza;
  • Curie - Los Angeles, na Califórnia, a Valparaíso, no Chile (este não passa pelo Brasil);
  • Firmina - Costa Leste dos EUA para Las Toninas, Argentina, com estações de pouso em Praia Grande, Brasil, e Punta Del Este, Uruguai (operação está prevista para iniciar em 2023)

Receita Global (2º trimestre 2022)

  • US$ 6,3 bilhões

Receita Global (2021)

  • US$ 19,2 bilhões

Principais Concorrentes

  • AWS, Microsoft Azure, Oracle, IBM

Outros números

  • 35 regiões de nuvem, 106 zonas, 173 pontos de presença de rede

Você poderia dizer três propostas para o Brasil ser melhor?

Sou argentino, vivo há 20 anos no Brasil, conheço os desafios da Argentina, do Brasil e da América Latina. O desafio comum e que impactaria positivamente o Brasil é investir mais em educação. A educação é um dos pilares de transformação, que tem a ver com a sociedade, as oportunidades de emprego e de crescimento das pessoas.

O segundo é inovação e talento. O país precisa investir em processos de inovação, de novas tecnologias, no talento das pessoas. Nessa parte temos de ajudar. Por isso, investimos, desde 2017, R$ 1,6 bilhão, principalmente em infraestrutura, com cabos [submarinos]. Tudo isso ajuda na conectividade, porque não adianta falar em transformação digital de um país se você não tem a conectividade para ajudar as pessoas a acessar as informações ou os treinamentos.

O terceiro ponto é sustentabilidade. É um tema muito importante porque 67% das organizações do Brasil priorizam planos para melhorar a sustentabilidade. Nossa tecnologia tem a capacidade de ajudar as empresas a transformar seu data center na nuvem do Google Cloud, reduzindo emissão de carbono e fazendo o país e o planeta muito mais sustentáveis. O nosso centro de processamento consome 50% menos energia do que qualquer data center de qualquer cliente.

O que as empresas podem fazer socialmente para melhorar o país?

Esses três pontos de que falamos impactam diretamente a sociedade. As empresas têm muito a fazer para a sociedade. Vamos investir US$ 1,2 bilhão nos próximos cinco anos na América Latina, em infraestruturas e em planos de desenvolvimento e treinamento para pessoas, para gerar novos empregos e oportunidades de trabalho não só em tecnologia, como empreendedorismo e marketing digital.

Quais são os maiores desafios do mercado para o Google Cloud?

Migrar para a nuvem não é só uma questão de menor custo, mas é também uma questão de sustentabilidade, de pacto social, de melhorar a competitividade da empresa. O maior desafio é trabalhar com as empresas para mostrar o valor dessa migração.

Hoje, 80% da carga de processamento ainda está nos data centers dos clientes, que consomem energia com gasto de carbono, geram carbono e não são sustentáveis como o nosso data center.

A nossa "região" São Paulo tem 87% de energia sustentável, livre de carbono. O desafio é mostrar esses benefícios e dar a segurança aos clientes para que façam o caminho de migração para a nuvem.

Quais são as inovações e investimentos que vocês estão trazendo para o Brasil?

Só 24% das empresas têm capacidade de monetizar, ou seja, tirar valor dos dados que têm. Essa inovação de tirar valor dos dados, dos seus sistemas de produção e poder melhorar processos e serviços para o cliente, é o que podemos dar.

Outro investimento é que, em nível global, triplicamos a força de pessoas orientando nossos clientes. Vamos continuar com essa tendência de ter mais pessoas, de melhorar a cobertura no território do Brasil. No ano que vem, vamos ter um prédio Google Cloud em São Paulo. Isso é um investimento no Brasil porque nosso time cresceu muito.

A instabilidade do dólar atrapalha os negócios? De que forma?

Instabilidade do dólar ou da economia?

As duas não estão associadas?

Sim, mas falar da economia é muito amplo. Acreditamos no Brasil, no desenvolvimento do país. Tínhamos instabilidade em 2017, em 2018, 2019, 2020, 2021, 2022. Para dar tranquilidade aos nossos clientes, implantamos um sistema de faturamento em reais.

Desde 2020, temos um programa de proteção cambial. Ele permite previsibilidade ao cliente para os próximos três ou quatro anos. Com isso tiramos essa instabilidade da economia, tiramos esse medo. Acreditamos no país a longo prazo, e por isso continuamos investindo.

Quanto o Google Cloud representa para o Google?

Acredito que cloud cada vez mais é um negócio importante. O nosso presidente global disse que o resultado do último trimestre foi impulsionado por dois níveis de soluções: search, que é nosso buscador, e cloud.

Como os nossos dados são protegidos de cyber ataques na nuvem?

Nossa estratégia de segurança se chama "zero trust". Nosso esquema de segurança não confia em ninguém nem em nenhum device [aparelho]. Tudo tem que ser validado continuamente. Essa política de segurança é do Google, mas é a mesma que usamos com nossos clientes. A mesma segurança que a empresa tem há mais de 20 anos trabalhando em internet, com mais de 7 bilhões de usuários em diversos produtos, é a que usamos com nossos clientes.

O mais importante para os clientes é que toda a informação é encriptada e a chave é do cliente. Armazenamos bits, mas não sabemos o que significam porque estão encriptados, e isso faz com que o cliente fique tranquilo.

Na realidade, a segurança não é da nuvem, é sim do computador que está na casa do cliente e que se conecta à nuvem. Se ele não tem um esquema de segurança bom, vai acabar impactando a si mesmo.

Como foi a adaptação de um executivo argentino ao Brasil?

Adaptei-me muito rápido. Tenho três filhos na Argentina e uma no Brasil. Somos uma família "multi country". O que eu fiz foi não me juntar a um grupo de argentinos que têm saudades da Argentina. Juntei-me com amigos brasileiros e vivi o Brasil como ele é, com nossa cultura, música, que é totalmente diferente da Argentina.

Esse processo foi importante para me integrar a círculo de amigos brasileiros e ser convidado para churrascos. Aprendi que aqui não se come só bife de chorizo, mas também se corta a carne.

Comparando a economia do Brasil com a América Latina, como está o nosso desenvolvimento?

O Brasil tem uma economia que funciona, tem o sistema político que vai mudando, e isso é normal. Mas tem uma economia que funciona, tem o agronegócio, as grandes empresas de tecnologia, grande consumo, um nível de economia maduro, que vai evoluindo.

A Argentina está longe disso, muita instabilidade, não encontram a solução para sair da inflação, e isso impacta nas pessoas, na qualidade de vida.

Quem é Eduardo Lopez

Nome

  • Eduardo Lopez

Cargo atual

  • Presidente do Google Cloud para a América Latina

Cargos de destaque

  • Vice-Presidente Sênior de Engenharia de Soluções, Arquitetura e Indústria de Inovação (Oracle)

Nascimento

  • Buenos Aires (Argentina)

Idade

  • 64 anos

Graduação e pós-graduação

  • Graduação em Engenharia Eletrônica (Universidade de Buenos Aires)
  • Pós-graduação em Business Strategy (Universidade de Buenos Aires)

Família

  • Casado, 3 filhos e 1 filha

Hobbies

  • Jogar tênis e viajar

Livro

  • "O coach de um trilhão de dólares", de Eric Schmidt, Jonathan Rosenberg and Alan Eagle - "Este livro me inspira a analisar questões que encaro sob diferentes perspectivas"

Filme

  • "O Rei Leão", animação da Disney - "É uma história de redenção. Assisti pela primeira vez com os meus três filhos e me emocionei bastante. Daí em diante, eles sempre pediam para assistir"

Time

  • River Plate (Argentina)