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Quem são empresários Hang e Nigri, suspeitos de incitar golpe de Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

15/02/2024 14h04

Os empresários Luciano Hang e Meyer Nigri foram citados em áudio do tenente-coronel Mauro Cid. Segundo o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), eles pressionaram o então presidente Bolsonaro a produzir um relatório "mais duro" sobre o processo eleitoral brasileiro, logo depois da vitória do presidente Lula nas eleições.

O que aconteceu

De acordo com áudio do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, os empresários pressionaram o então presidente para uma virada nas eleições. O áudio faz parte de um diálogo entre Cid e o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e foi obtido pela Polícia Federal.

Os empresários participaram de uma reunião com Bolsonaro em 7 de novembro de 2022 para tratar do tema. Na ocasião, Lula já havia vencido o segundo turno das eleições. Dentre eles estavam o fundador da Tecnisa, Meyer Nigri, e o dono da Havan, Luciano Hang.

Empresários são investigados. Segundo a PF, o diálogo de Mauro Cid "revelou que os empresários Meyer Nigri e Luciano Hang, investigados (...) pela prática de atos antidemocráticos, com disseminação de notícias falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro, teriam reiterado a prática de condutas ilícitas, instigando o então presidente para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente com o objetivo de 'virar o jogo'".

Procurados por UOL, os empresários não responderam até a publicação da matéria.

Quem é Luciano Hang

Hang é um empresário brasileiro dono da loja Havan. Com 61 anos, é considerado uma das pessoas mais ricas do país. Hang ficou mais conhecido pelo apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a Forbes, ele tem uma fortuna de US$ 3,3 bilhões, cerca de R$ 16,4 bilhões.

O empresário começou a trabalhar em uma fábrica de tecidos em Brusque aos 17 anos. Aos 21, comprou uma tecelagem.

Em 1986 fundou a Havan, junto com o sócio Vanderlei de Lima. Na época, a loja vendia apenas tecidos — com preços baixos e funcionando aos finais de semana e feriados. Era um espaço de 45m² em Brusque (SC). O nome Havan surgiu da união dos nomes de Hang e Vanderlei, antigo sócio da empresa.

A rede tem 171 lojas físicas e estão localizadas em 23 estados e no Distrito Federal. Os dados são do último balanço da companhia, do terceiro trimestre de 2023.

O empresário causou polêmica em 2018. Durante a campanha eleitoral, Hang gravou um um vídeo pedindo para que os funcionários da Havan votassem em Jair Bolsonaro para presidente da República. Em janeiro deste ano, Hang foi condenado a pagar mais de R$ 85 milhões por intimidar seus empregados a votarem em Bolsonaro em 2018.

Hang apareceu pela primeira vez no ranking da revista em 2019, quando tinha fortuna estimada em US$ 2,9 bilhões. Em 2020, o valor subiu para US$ 3,6 bilhões (R$ 18,7 bilhões de acordo com o câmbio de março de 2020).

No ano seguinte, em 2021, o empresário também viu o patrimônio sofrer uma queda — mas muito menor que a atual. A lista mostrava que a fortuna do empresário era US$ 2,7 bilhões (R$ 15,34 bilhões, em março de 2021). Em um ano, ele perdeu US$ 900 milhões, o equivalente a R$ 3,4 bilhões à época.

Em setembro de 2023, o patrimônio de Hang era estimada em R$ 16,3 bilhões. O empresário ocupava o 17º lugar no ranking geral brasileiro da Forbes e o primeiro na lista de maiores bilionários do setor de varejo.

Hang disse, em entrevista ao UOL em 2023, que deixou a política de lado. Hoje todas as redes sociais de Hang são suspensas. A decisão foi tomada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Hang foi colocado como suspeito de ter patrocinado blogueiros bolsonaristas e manifestações que levaram à invação ao Congresso Nacional em 8 de janeiro de 2023.

Polêmica sobre patrimônio

O patrimônio de Hang foi alvo de uma polêmica em 2021. Segundo o jornal digital Poder360, com base em documentos dos Pandora Papers, do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), Hang manteve irregular por 17 anos uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe.

Criada em 1999, a empresa Abigail Worldwide foi mantida em paraíso fiscal, sem declaração às autoridades brasileiras, até 2016. Em 2018, dois anos após a regularização, a empresa tinha um saldo de US$ 112,6 milhões, o equivalente a R$ 604 milhões, considerando a cotação atual do dólar. Esse valor, era dividido em US$ 2 milhões em caixa e o restante em títulos financeiros de empresas ou países.

Quem é Meyer Nigri

Meyer Nigri, fundador da construtora Tecnisa, em 2012 Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Fundador da incorporadora Tecnisa, Meyer Nigri é próximo a Bolsonaro e é investigado sob suspeita de divulgar fake news durante a campanha eleitoral. Nigri apresentou as ideias de Bolsonaro a empresários. Na campanha de 2018, ele promoveu encontros do então candidato com empresários e divulgou a campanha do ex-capitão.

Foi um dos empresários investigados sob suspeita de defender o golpe de estado no Whatsapp. Em 2022, oito empresários foram indiciados por participarem de um grupo de conversas no Whatsapp em que atacavam o STF e defendiam o golpe de estado. Um ano depois, só dois continuaram sob investigação: Meyer Nigri e Luciano Hang, dono das Lojas Havan.

A investigação contra Nigri foi mantida porque a Polícia Federal encontrou mensagens do ex-presidente Jair Bolsonaro a Nigri. Foram identificadas ao menos 18 mensagens encaminhadas pelo ex-presidente ao empresário, contendo ataques ao Judiciário e mentiras sobre urnas eletrônicas e vacinas contra a covid-19. As mensagens eram repassadas a outros empresários.

Neto de judeus libaneses, Meyer Nigri ficou conhecido no mundo dos negócios ao fundar a incorporadora Tecnisa, em 1977, aos 22 anos. Formado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo, Nigri começou a trabalhar ainda durante a graduação. Em 1977, fez estágio na Technion e aprendeu sobre gestão de projetos, antes de abrir sua própria empresa. Sem dinheiro para comprar o terreno que queria e começar a construção, negociou diretamente com o proprietário: em troca de fazer o prédio, ele cederia seis apartamentos, um para cada um dos filhos do dono.

Ele presidiu a construtora durante 40 anos. Em 2007, abriu o capital da empresa na Bolsa. Desde então, as ações da Tecnisa caíram cerca de 97%. A construtora vale hoje cerca de R$ 223 milhões na Bolsa. Hoje, é casado e tem três filhos. Seu filho Joseph Meyer assumiu a presidência da Tecnisa depois que o pai deixou o cargo.

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